Mais do que estarem preocupados com um possível aumento do número de casos e de óbitos depois dos diversos registros de aglomerações, muitos brasileiros parecem ter começado o ano de 2021 incomodados com a possibilidade de a doença provocar uma redução do tamanho do pênis. A hipótese foi levantada depois da divulgação de uma pesquisa, conduzida por institutos londrinos e norte-americanos, que investigou efeitos adversos em pacientes possivelmente infectados pelo novo coronavírus. Entre outros resultados, 3% dos respondentes relataram ter percebido uma diminuição do órgão mesmo depois de curados. Foi o bastante para que, na primeira segunda-feira do ano, as quatro principais buscas sobre a Covid-19 realizadas por meio do Google estivessem relacionadas ao assunto.
Fui ao Google Trends pra ver se há mais buscas por "covid" depois das festas. Descobri que, nos últimos sete dias, a principal preocupação do brasileiro médio* é saber se o coronavírus reduz o tamanho do pênis. pic.twitter.com/mRoELwANdZ
— Daniel Bramatti (@bramatti) January 4, 2021
A reportagem de O TEMPO ouviu especialistas sobre o assunto, que foram unânimes: trata-se de um inquérito apenas preliminar, sendo impossível cravar que, de fato, o fenômeno ocorra. Ex-presidente da Sociedade Internacional de Medicina Sexual, o urologista Luiz Otávio Torres observa que o questionário online foi respondido por 3.762 pessoas que tiveram sintomas de Covid-19, mas nem sequer precisavam comprovar ter tido a doença. “É muito impreciso. A pessoa pode ter tido uma gripe, pensado que foi infectada pelo coronavírus, e respondido. Ela pode ter tido ganho de peso com aumento de gordura na região púbica e ter a sensação de uma diminuição do órgão – que na verdade permanece do mesmo tamanho, mas está escondido por uma camada de tecido adiposo. Então, não há muito o que falar”, critica.
O urologista Ricardo Lopes Sousa, por sua vez, sublinhou que a sexualidade masculina sofre forte influência emocional, o que poderia explicar o resultado da pesquisa. “Frequentemente, pacientes relatam ter a percepção de que o pênis está encurtando, quando, na verdade, não está acontecendo nada do ponto de vista médico. Então, tudo o que tange a sexualidade, sexo e genitália masculina tem um fator psicológico muito forte envolvido e muito subjetivo também”, disse. Já Carlos Starling, membro do comitê de combate à Covid-19 em BH e ex-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, explica que o novo coronavírus pode comprometer a parte vascular e muscular do infectado. “E o pênis é um órgão muscular e vascularizado”, pontua, lembrando que estamos falando de uma doença sistêmica que pode afetar todos os órgãos e músculos, mas ressaltando que ainda não há comprovação científica de que cause atrofia genital.
Só em situações muito específicas há real encolhimento
Há, sim, condições muito específicas que podem levar ao encurtamento do órgão. Contudo, na maioria das vezes, o que ocorre é apenas a sensação de diminuição do tamanho, sem que o fenômeno ocorra de fato.
“Sem dúvida, há redução quando, por causa do câncer de pênis, é preciso fazer a amputação parcial para a retirada do tumor”, comenta o urologista Luiz Otávio Torres. No caso do câncer de próstata, quando o tratamento exige a retirada da glândula, pode haver uma sensação de encolhimento de até 2 cm. Isso ocorre porque, após o procedimento, é necessário unir a bexiga e uretra, fazendo que o membro “saia menos” para a parte externa do corpo. Nos dois casos, o melhor a se fazer é adotar uma postura preventiva, realizando consultas regulares e adotando hábitos de higiene e o uso de preservativo durante as relações.
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Outra situação em que pode haver a subtração de centímetros é por efeito da cirurgia em casos de condições que levam à fibrose, como a doença de Peyronie, que provoca o comprometimento do pênis, causando prejuízo à sua elasticidade e à sua curvatura. Ela é mais comum em homens acima de 50 anos, e o tratamento é feito por meio de enxerto, que, sem o devido acompanhamento, pode vir a encolher.
Já a sensação de redução das dimensões penianas pode ser provocada por fatores diversos. O ganho de peso, já citado por Torres, é um exemplo. Em tais situações, como o pênis está apenas parcialmente escondido pela camada de gordura, a realização de um procedimento de lipoaspiração na região é suficiente para solucionar o problema. O urologista ainda indica que há diversos mitos que dão conta de um encolhimento em função do diabetes, do tabagismo e do envelhecimento. Todavia, não há comprovação científica para tais hipóteses. Para ele, a explicação é emocional. “Todas essas condições são fatores para a disfunção erétil. E, se o sujeito não consegue ter ereções, pode começar a ficar estressado, observar muito o órgão e ter uma falsa ideia de uma diminuição do tamanho”, avalia.
Terapias e cirurgias para aumento peniano são ineficazes
Luiz Otávio Torres adverte que nenhuma terapia ou cirurgia que promete o aumento do tamanho do pênis é recomendada pela sociedade médica. “Isso está muito ligado à picaretagem e ao charlatanismo. Na internet há várias pessoas anunciando esses procedimentos, mas o único objetivo delas é o ganho financeiro”, assevera.
Há, no entanto, procedimentos que dão a impressão de o pênis ficar maior, embora não haja crescimento propriamente dito. É o caso da mencionada retirada da camada de gordura, que deixa o órgão mais exposto. Outra possibilidade em termos de cirurgias estéticas é realizar um corte nos ligamentos que prendem a base interna da genitália aos ossos da bacia, de forma que ela vai se projetar para fora, dando a impressão de ser maior. No entanto, quando ereto, o membro não vai subir, ficando apontado para baixo. Além disso, há riscos de redução da qualidade da ereção e de retração. Por fim, ao se tentar aumentar a circunferência por meio da injeção de substâncias, como a gordura do próprio corpo ou metacrilato, o resultado costuma ser esteticamente desagradável, aponta Torres.
Outras cirurgias que prometem aumentar largura ou comprimento do genital são consideradas experimentais, apresentam risco e só são indicadas para casos muito específicos – como amputação para retirada de cânceres e no caso de o paciente possuir micropênis.
Brinquedos sexuais podem ajudar
Idealizadora da butique de sex toys Sob Sigilo, a comunicóloga Ana Carolina Sanseverino tem uma boa solução para aqueles que estão inseguros com suas dimensões. Até que façam as pazes com o próprio corpo, podem optar pelas capas extensoras. Funciona assim: durante a ereção, deve-se usar lubrificante no membro e, então, encaixar o objeto, que emula o formato e a textura do pênis, trazendo ganho de comprimento ou de largura. O aumento, neste caso, obviamente, é apenas artificial e momentâneo.
Carol, como a empreendedora é conhecida, relata que, curiosamente, o tamanho do genital é considerado até na hora de comprar brinquedos sexuais. Acontece que, em relações heterossexuais, é comum que o homem evite adquirir itens maiores do que o órgão dele. “Os vibradores e bullets que mais vendemos têm entre 11 cm e 14 cm”, situa. Outra característica, alguns deles chegam a evitar produtos que reproduzem a aparência do pênis.
O hábito também é comum entre casais lésbicos. A comunicóloga identifica que elas normalmente preferem sex toys menores e que não apresentem estética excessivamente fálica. Já entre os gays, a opção por brinquedos maiores e mais largos é mais frequente.