As contrações musculares involuntárias costumam ser associadas à prática de atividade física. No entanto, uma das diversas condições médicas que também provocam esse quadro é a chamada tetania. Atingindo, principalmente, os músculos das mãos, dos pés e da face, os espasmos podem se estender por todo o corpo.

De acordo com o neurologista Delson José da Silva, vice-coordenador do Departamento de Controle de Transtorno de Movimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), a tetania não é uma doença, mas um sinal de que algo não vai bem. “Trata-se de uma consequência física que envolve nervos excessivamente estimulados. Isso significa que, embora existam tratamentos eficazes para a condição, para impedi-la, muitas vezes, dependemos da identificação do que a causou em primeiro lugar”, explica o médico.

Esses movimentos persistentes podem ser provocados, na maior parte das vezes, pelo nível baixo de cálcio no sangue devido ao hipoparatireoidismo (doença provocada pela secreção insuficiente do hormônio paratormônio, produzido pela paratireóide, na parte de trás da tireoide e responsável por aumentar a concentração de cálcio no sangue) e a deficiência de magnésio ou potássio, causando crises de ansiedade e hiperventilação (quando se respira muito rapidamente). 

“O maior grupo de risco é formado por pessoas que fizeram a cirurgia da tireoide. Esse procedimento pode provocar uma lesão na região, diminuindo a produção do hormônio TSH, que estimula a produção do paratormônio. Ele trabalha em conjunto com a vitamina D para manter os níveis de cálcio no sangue normais”, explica o endocrinologista Sergio Maeda, diretor do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Ação. Como o tratamento da tetania deve levar em consideração a origem da doença que a provoca, no caso do hipoparatireoidismo, por exemplo, o cálcio deve ser suplementado, seja por via oral ou intravenosa. “Dependendo da situação, administramos doses individualizadas (de quantidade e tempo) de cálcio com vitamina D, chegando até a quatro vezes por dia”, afirma Maeda. 

Segundo o médico, a detecção precoce da tetania pode evitar sintomas mais graves como fraturas ósseas. “Os quadros mais sérios envolvem convulsões, problemas cardíacos e contusões decorrentes de contrações que, dependendo da força dos movimentos, podem resultar em fratura dos ossos nos locais atingidos”, diz o endocrinologista.

Rim. Apesar de raros, os casos com insuficiência renal requerem tratamento contínuo com suplementos de cálcio para tratar a condição que levou à tetania.

Ansiedade pode ser agravante

Não são apenas as condições físicas que interferem diretamente no aparecimento das contrações musculares. O estado emocional de uma pessoa também pode ter um papel fundamental, independentemente da causa.

“A ansiedade atua porque, quando você está estressado por um longo período de tempo (não importando o motivo), seus músculos nunca deixam a fase de contração. Eventualmente, essa tensão causa dor, desconforto e até problemas com a mobilidade”, afirma o psicoterapeuta André Freitas.

No caso do músico Jonathan Martins, 30, a tetania surge depois de crises desencadeadas pelo transtorno de ansiedade. “Já cheguei a ficar com as pálpebras tremendo por dois dias seguidos. Os tremores ficam mais fortes com o passar do tempo até que acabam”, conta o rapaz, que convive com os espasmos desde 2015. 

Para tratar o agravante emocional, Freitas sugere uma rotina de vida saudável, além de acompanhamento profissional. “Viver bem, alimentar-se bem, praticar atividades físicas e, sobretudo, fazer terapia com um profissional especializado, impedem que a ansiedade coloque em prática seus gatilhos e que se reproduza através dos tremores”, pontua o especialista.