Vêm os feriados e vão-se as bolsas de sangue nos hemocentros do Brasil todo. No Hemominas, por exemplo, a assessoria de imprensa informa que os estoques estão cerca de 0,12% abaixo do ideal (dado do dia 10 deste mês). A solução para isso, além de conseguir doadores, é a utilização de técnicas que evitam que uma transfusão seja necessária.

“Segundo um estudo, a demanda de sangue no Brasil aumenta 1% ao ano, principalmente pelo aumento no número de cirurgias e procedimentos realizados. Ao mesmo tempo, as doações de sangue crescem pouco: de 0,5% a 0,7% ao ano. Há uma estimativa de que em 2030 haverá um déficit de 1 milhão de bolsas coletadas”, explica o cardiologista Antonio Alceu dos Santos, membro da equipe do Hospital Vaz Monteiro, em Lavras.

Para fazer essas contas fecharem, o país precisa parar de desperdiçar sangue. Os princípios para que isso aconteça, de acordo com o médico, são três.

“O primeiro é tratar toda e qualquer anemia que o paciente tenha. Assim, quando ele fizer uma cirurgia, não precisará de transfusões. Depois, (deve-se) evitar ou minimizar toda e qualquer perda de sangue durante as cirurgias, cauterizando vasinhos rompidos. Por fim, é saber se o paciente tolera anemia. Eu publiquei um relato de caso em que uma pessoa chegou a ter 2,9 de hemoglobina (o normal é entre 10 e 12) e saiu vivo”, aconselha o médico.

Essa última prática é muito importante em casos de acidentes. Segundo Santos, o médico deve avaliar a real necessidade de uma transfusão, pois, em alguns casos, mesmo com a hemoglobina baixa, o paciente continua bem.

Filtro. Outras medidas também podem ajudar nessa economia. Na técnica da autotransfusão, o sangue do próprio paciente é coletado por uma máquina que o filtra e o devolve ao organismo purificado. “A máquina, conhecida como Cell Saver, devolve para o corpo um sangue com o mesmo DNA e elimina a possibilidade de reações inflamatórias e imunológicas e de rejeição”, explica Santos.

Nas Unidades de Terapia Intensiva, ele defende o uso de frascos pediátricos para a realização dos exames. “Um paciente internado na UTI, às vezes, chega a fazer três coletas de sangue por dia, cada uma de 3 ml. Em 15 dias, ele precisará de uma transfusão”, calcula o médico.

Além de aliviar a necessidade dos bancos de sangue do país, essas técnicas apresentam uma enorme vantagem para o paciente. Os riscos de uma complicação – que pode levar à morte – fruto da transfusão são eliminados, e o tempo de hospitalização é diminuído.

Os médicos ainda precisam, segundo Santos, mudar a cabeça. Mas cabe também ao paciente controlar esse uso do sangue. “Se ele sabe que há alternativas, pode questionar a decisão do médico. Se há uma opção, vamos tentar usá-la”, recomenda.

Alternativas

Anemias. Devem ser tratadas em todos os pacientes.

Em cirurgias. Cauterizar todo e qualquer vaso que esteja perdendo sangue.

TolerânciaAvaliar com cautela a situação do paciente e ver se ele está tolerando a anemia.

Cell Saver. A máquina filtra o sangue do próprio paciente e o devolve purificado para o corpo, evitando a transfusão.

Tipo O fica ainda mais escasso

Alguns tipos sanguíneos são mais escassos nos bancos. No Hemominas, a situação para os sangues do tipo O é bem pior que da média: o positivo está 16% abaixo do ideal, enquanto falta 30% de bolsas do negativo para chegar ao número desejável.

De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, essa baixa se deve a dois fatores: de um lado, o maior fluxo de pessoas nas estradas do país em períodos de férias e feriados faz aumentar o número de acidentes e de transfusões realizadas. De outro lado, há um menor comparecimento de doadores, já que muitas pessoas estão fora de suas cidades. “Temos que fazer de tudo para incentivar a doação e ver o que podemos fazer para economizar sangue nos bancos”, constata o cardiologista Antonio Alceu dos Santos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já recomenda a redução transfusional em todo o mundo utilizando as técnicas alternativas. No Brasil, o Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, é um dos que já conseguiu baixar seus índices.