Ano-Novo

Ser feliz depende de como você enxerga o mundo

Para especialistas, a alegria muitas vezes pode estar nas coisas mais simples da vida; é possível passar por momentos de provação e, ainda assim, sentir-se realizado


Publicado em 31 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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“Estado de espírito de quem se encontra alegre ou satisfeito; alegria, contentamento, fortúnio, júbilo”. De acordo com o dicionário, essa é a definição de felicidade. Mas, entre estar feliz e ser feliz, são muitas as variáveis. E é no último dia do ano, quando as pessoas fazem suas resoluções para o ano seguinte, que muitas delas projetam seus sonhos e desejos na expectativa de alcançar essa tal felicidade. E você, é feliz?

Autor e especialista em psicologia positiva, Tal Ben-Shahar já foi um dos professores mais populares na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Diante de tal popularidade, acabou recebendo o apelido de “guru da felicidade”. Mas, segundo ele, inicialmente, o que lhe interessou foi sua própria infelicidade.

“Eu estava indo bem como estudante de graduação em Harvard, eu era um atleta de alto nível, tive uma boa vida social – e estava infeliz. Foi então que percebi que o interior importa mais para os níveis de bem-estar do que o exterior. Foi aí que entrei na psicologia”, conta.

Depois de estudar psicologia positiva e se beneficiar com isso, Tal Ben-Shahar resolveu compartilhar o que aprendeu com os outros e, hoje, dá palestras em todo o mundo. “Eu defino a felicidade como ‘a experiência geral de prazer e significado’. A definição não pertence a um único momento, mas a um agregado generalizado de experiências: uma pessoa pode suportar dor emocional às vezes e ainda ser feliz em geral”, explica.

Há também quem diga que dinheiro traz felicidade. Mas, segundo o especialista, numerosos estudos mostram que essa fórmula não funciona bem. “Pesquisadores como o psicólogo e professor da Universidade de Illinois Ed Diener encontraram uma correlação muito baixa entre riqueza material e felicidade, exceto em casos de pobreza, em que as necessidades básicas não estavam sendo atendidas. Os estudos apontam para o fato de que a felicidade depende principalmente do nosso estado de espírito, em vez de nosso status ou conta bancária”, diz. O mesmo se aplica ao sucesso, ou seja, este não é o caminho para a felicidade, segundo Ben-Shahar.

Aposta. Em poucos meses, a empreendedora digital Ana Elisa Marques, 32, viveu uma reviravolta em sua vida. Ela abandonou o mundo corporativo com a carreira que não a estava satisfazendo e viu o marido ser demitido e apostar em um MBA no exterior sem bolsa integral. Mesmo com a pressão da família, eles se mudaram para a Holanda, com a filha bebê.

“Se estamos aqui neste paraíso hoje, é com muito suor. Não estamos vivendo um sonho. Estamos investindo tudo o que temos e fazendo dívidas. É um alto risco, sabemos”, conta.

O que aos olhos dos outros pode parecer loucura ou uma vida tranquila, em suas redes sociais (@asimplesescolhadesermaenacrise), Ana Elisa vem mostrando todos os desafios diários dessa aposta. No entanto, ela diz estar encontrando sua felicidade.

“Pelas minhas mais novas experiências, acredito que a felicidade cresce cada vez mais dentro de mim a partir de quando comecei a ter atitudes que me fazem sentir que seja eu mesma sem me preocupar mais com padrões impostos pela sociedade”, afirma.

De acordo com a coach de vida Kika Moreira, 38, felicidade é uma maneira de enxergar o mundo, mas a gente desaprende a ser feliz quando cresce. “Observe as crianças. Precisam de tão pouco para serem felizes. Porque em sua ingenuidade a felicidade é acessível sem padrões, sem metas, sem patamares. Um balde de água já é motivo para rir, brincar, aproveitar e ser feliz”, diz. Ela compara: “Um balde de água para os adultos, mesmo se estivermos em situação crítica de seca, será mais um alívio do que uma felicidade”, afirma.

Sete lições

Tal Ben-Shahar ensina a buscar a felicidade:

Lição 1 - Dê permissão para ser humano. Quando aceitamos as emoções como naturais, é mais provável que as superemos.

Lição 2 - A interseção entre prazer e significado. Estudos mostram que uma hora ou duas de atividades que são significativas e agradáveis podem afetar a qualidade de um dia inteiro.

Lição 3 - A felicidade depende de nosso estado de espírito. Salvo circunstâncias extremas, o nível de bem-estar é determinado pelo que nós escolhemos focar e por nossa interpretação de eventos externos.

Lição 4 - Simplifique! Estamos ocupados tentando espremer mais atividades em menos tempo. A quantidade influencia a qualidade e compromete a felicidade.

Lição 5 - Conexão mente-corpo. O que fazemos ou não com nossos corpos influencia nossa mente. Exercício regular, sono adequado e hábitos saudáveis levam à saúde física e mental.

Lição 6 - Expresse gratidão. Aprenda a apreciar e saborear as coisas maravilhosas da vida, das pessoas à comida, da natureza a um sorriso.

Lição 7 - Priorize as relações. O primeiro preditor de felicidade é o tempo que passamos com pessoas que nos preocupam e que se preocupam com a gente.

Minientrevista

Monja Coen Roshi

Zen budista brasileira

Essa busca pela felicidade é mesmo uma meta a ser alcançada ou um estado interior? Para o zen- budismo, é o contentamento com a existência. Não um estado permanente de alegria ou sucesso, mas a compreensão clara de quem somos, do que é a mente humana, o corpo, a vida-morte, o incessante transformar e de que podemos apreciar a existência com seus altos e baixos, ganhos e perdas. Na tristeza, ficamos tristes; na alegria, alegres. Mas nenhum estado é permanente, fixo. Assim podemos apreciar os vários sabores da vida: doce, amargo, azedo, salgado, insosso, acre e dulcíssimo.

A forte presença das redes sociais mudou a forma como as pessoas encaram e se cobram pela felicidade? Atualmente as pessoas querem se mostrar vitoriosas e felizes nas redes sociais – algumas verdadeiramente assim o sentem. Outras querem acreditar que estão bem. Será que há algo errado com isso? Acho que não. A intenção de estar bem não é apenas uma farsa. São aspectos nossos a que queremos dar maior visibilidade.

Aspectos básicos de segurança, moradia e alimentação são primordiais para alguém ser/estar feliz. Se a pessoa não tem acesso ao fundamental, como ser feliz? Butão considera mais importante do que o Produto Interno Bruto a Felicidade Interna Bruta. Entretanto, essa felicidade se baseia em que todos tenham o necessário para viver bem: casa, trabalho, educação, saúde. Bens materiais facilitam nosso bem-estar e a possibilidade de estarmos bem conosco e com o mundo. Precisamos nos sentir parte de um grupo, estar incluídos, ser reconhecidos. Por isso, para que a felicidade seja o termômetro de uma sociedade, é preciso que as pessoas estejam minimamente satisfeitas.

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