“Eu quero seu sexo/ Eu quero seu amor/ É natural, é químico (vamos fazer isso!)/É lógico, habitual (podemos fazer isso?)/ Sexo é algo que nós devemos fazer/Sexo é algo para mim e para você” são alguns versos de “I Want Your Sex”, terceira faixa do disco de estreia de George Michael, “Faith”, lançado em 1987. Sexo é assunto popular nas letras de canções, independentemente do gênero.
“Quando eu chego cansado e quero dormir/ Falo meio sem jeito, hoje não tô afim/ Mas ela já sabe do meu ponto fraco/ Me beija o ouvido, tira o meu juízo/ E me leva pro quarto”, cantam os sertanejos Renê e Ronaldo em “Faz Amor”, faixa sobre uma mulher que quer transar toda hora. “Fico até assustado com tanta energia”, arremata a letra.
Sexo é algo natural e saudável na vida de um casal, mas também pode ser motivo de brigas e chateações quando a falta dele começa a fazer parte da rotina e uma das partes fica insatisfeita com a situação. Quando um não quer, dois não transam. “Na sexologia, nós chamamos de inadequação sexual. São preferências e necessidades diferentes que fazem parte da vida do casal. Um gosta de transar todo dia, para o outro de 15 em 15 dias está ótimo. Encontrar uma pessoa que tem a mesma intensidade sexual, o mesmo repertório e a mesma vontade é como achar uma agulha no palheiro. É raro”, afirma Cida Lopes, sexóloga, educadora sexual e autora de livros sobre sexualidade humana.
A situação, no entanto, não deve ser encarada como um “bicho de sete cabeças”. Falar sobre sexualidade deve estar na ordem do dia de qualquer casal. “É algo que temos que pensar sempre, por mais que a rotina seja desgastante. Se a sexualidade for sempre revista, o marasmo não vem. É um investimento a curto, médio e longo prazo”, ressalta a psicóloga sistêmica e sexóloga Sueli da Paz.
Se a recusa por sexo for algo muito recorrente, é preciso tratar o cenário com cautela e sensibilidade. Se for o caso, buscar ajuda médica – urologistas, ginecologistas, endocrinologistas e outros especialistas são ótimos caminhos – para entender o que está acontecendo pode ser necessário. Às vezes, a falta de apetite por sexo pode estar ligada a fatores fisiológicos.
Descartada a possibilidade de algum problema biológico, uma opção é recorrer a terapias. “Se está tudo ok, partimos para uma avaliação psicológica do casal ou do indivíduo. Perdi a vontade, mas eu quero transar? É meu corpo ou minha cabeça que naõ estão reagindo? Há mudanças negativas ou positivas na vida dos casais, desde troca de casa até perda de emprego, que podem influenciar na vida sexual”, pondera Sueli da Paz.
A psicóloga e analista transacional Tatiane Medeiros lembra que pensar o sexo somente como o ato em si prejudica a compreensão da relação e de possíveis obstáculos a serem vencidos: “Uma das soluções é construir intimidade e ter muita, muita conversa, sem virar DR ou uma discussão. É fundamental ter liberdade para falar o que se pensa, ter desejos sem julgamentos e conseguir expor isso ao outro. O grande problema é que a maioria dos casais não têm essa intimidade ou não sabem conversar, então precisam de terapia ou de uma terceira pessoa para ajudar no diálogo”.
Sueli da Paz tem uma opinião que vai ao encontro da fala de Tatiane. “O sexo depende de muita coisa, não somos animais, cada pessoa tem uma história, uma preparação mental. Não é simplesmente chegar lá e transar, tem todo o contexto do casal. A gente se diverte, se beija, conversa, faz carinho, aí chega o desejo, que é o que diferencia a relação amorosa de uma amizade”, diz a sexóloga.
Segundo a especialista, há, pelo menos, três tipos de sexo: a autoerotização, que seria a masturbação; o sexo com o outro, a troca, o abraço, o carrinho e a penetração, e, por último, o sexo que é só fantasia, que faz com que se pense nele antes, durante ou depois da masturbação ou da troca física.
Sexo não é obrigação
“O que tem de gente que transa sem querer não é brincadeira, mas isso não se sustenta”, defende a educadora sexual Cida Lopes. Ela contesta o senso comum de que a pessoa a recusar sexo é sempre (ou quase sempre) a mulher. Cida diz que quando há uma diferença de necessidade de transar no dia a dia de um casal, homens e mulheres acabam utilizando estratégias para evitar o sexo.
“As mulheres começam a colocar o filho bebê na cama do casal, finge ter dor de cabeça, começa a arrumar a casa à noite. No caso dos homens, eles começam a beber mais, jogar mais futebol, ter reuniões à noite, briga com os filhos para a mulher ficar chateada. A longo prazo, essas estratégias são péssimas para o casal”, observa.
Cida Lopes sugere a erotização da relação para casais que estejam enfrentando descompassos em relação à vontade e necessidade de transar. A sexóloga conta que entendeu esse “segredo” depois de muitos anos atendendo casais em seu consultório: “É você brincar de sexo sem necessariamente fazer sexo. Os casais têm de entender que beijar, passar a mão, falar alguma bobagem é bom para saber que há desejo naquela relação. Se sentir desejado é importante”.
Sueli da Paz salienta que a falta de desejo ou vontade pode ser algo passageiro, uma fase de um mês, seis meses. Se não há alteração hormonal ou problemas de saúde, o diálogo é o melhor caminho. Aprender a nos relacionarmos com nosso próprio corpo, aceitando que ela muda ao longo dos anos, também traz muitos benefícios. Segundo a psicóloga, há pessoas que gostam mais de sexo que outras e isso não deve ser visto como uma anormalidade.
Sueli também faz um alerta: gostar de transar é uma coisa, compulsão é outra: “Se for em excesso, prejudica o corpo de ambos na relação, vira doença”. O importante, ela finaliza, é qualidade, e não quantidade.