O diagnóstico de um câncer no trato digestivo recebido pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas, no último domingo, causou comoção unânime entre aliados e adversários políticos e tornou-se razão de solidariedade entre brasileiros de todas as regiões do país. 

No Brasil, mais de 21 mil pessoas desenvolvem câncer no estômago por ano, sendo o terceiro tipo mais frequente entre homens e o quinto entre mulheres, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo informações do quadro de saúde de Covas, a doença atingiu a porção inicial do órgão, na área em que há entroncamento com o esôfago – região denominada cárdia. Em processo de metástase, as células cancerígenas espalharam-se pela corrente sanguínea chegaram ao fígado, depois de atingirem os linfonodos – espécies de barreira de proteção do organismo.

Localizada na parte superior do abdômen, a cárdia, quando atacada, pode provocar dores e sensação de azia. “Mas, no dia a dia, é comum que esses sintomas sejam negligenciados, sendo tratados apenas com auxílio, por exemplo, de sal de fruta”, observa Leandro Ramos, médico oncologista da Oncomed BH.

Quando em estágio mais avançado, o câncer libera substâncias inflamatórias, que podem provocar trombose venosa – que, por sua vez, tende a provocar edemas, dificultando o controle de bactérias na pele, o que pode levar a casos de infecção, como erisipela, como explica Ramos. O prefeito foi internado, inicialmente, para tratar dessa condição inflamatória. Ele ainda seria diagnosticado com tromboembolismo nos dois pulmões. O tumor foi descoberto em seguida. 

O índice de sobrevivência para o câncer de estômago fica em torno de 30%, conforme cruzamento entre dados do Inca e do DataSUS. Quando a doença está em estágio mais avançado, havendo metástase e comprometimento da função hepática, como no caso de Covas, o índice cai para 5% de sobrevida em cinco anos. 

O prognóstico ruim não desanima o paulista, que se mostra otimista e não vai se licenciar do cargo.

Cirurgião oncológico e coordenador do grupo de estômago e esôfago do Inca, Flávio Sabino explica que seria recomendável uma cirurgia para remoção do tumor se a doença estivesse em estágio inicial, sem ocorrência de metástase. Todavia, como ela já é sistêmica, “o controle das células cancerígenas através de quimioterapia é a principal linha de tratamento”, aponta.

Médicos do hospital SírioLibanês, que estão acompanhando o quadro de Covas, avaliam que ele pode vir a passar por procedimentos cirúrgicos, a depender de como vai responder ao início do tratamento – que deve ser intenso, provavelmente combinando drogas conhecida como FLOT (fluorouracil mais leucovorina, oxaliplatina, e docetaxel).

Caso haja redução de, no mínimo, 30% do tumor, os oncologistas podem aconselhar pela remoção do foco da doença no estômago e da metástase no fígado. Embora o procedimento seja referência em pacientes que não apresentaram metástase, a estratégia pode funcionar para ele, que é jovem e fisicamente ativo.

Prevenção

O câncer de estômago pode ser identificado através de exame de endoscopia, sendo confirmado através de biópsia. A prevenção está relacionada com bons hábitos de vida, adotando uma dieta saudável, balanceada e rica em fibras.

Político faz 1ª sessão de quimioterapia

Um dia depois do diagnóstico de câncer no cárdia com metástase no fígado, Bruno Covas, prefeito de São Paulo, passou ontem pela primeira de três sessões de quimioterapia no hospital Sírio-Libanês.

O tipo de tumor apresentado por Covas é um adenocarcinoma – responsável por 95% dos casos de câncer de estômago, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). De acordo com a equipe médica, há apenas uma metástase no fígado. As chances de desenvolvimento da doença é duas vezes maior para homens, sendo mais comum naqueles com mais de 60 anos. Cerca de 65% dos pacientes têm mais de 50 anos, algo que causa surpresa, já que o prefeito possui apenas 39 anos.

Flávio Sabino, cirurgião oncológico e coordenador do grupo de estômago e esôfago do Inca, lembra que são fatores de risco para a doença a obesidade e o tabagismo e doenças gástricos. Leandro Ramos, médico oncologista da Oncomed BH, cita também o fator genético.