Quando pensamos no uso de telas, a preocupação principal costuma ser as crianças. Não por acaso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem recomendações específicas voltadas à utilização desses dispositivos durante a infância. Segundo o órgão, menores de 2 anos não devem ter acesso às telas. Já para os pequenos de 2 a 5 anos, a exposição máxima deve ser de uma hora por dia. Entre 6 e 10 anos, o uso não deve ultrapassar duas horas. Mas o impacto da utilização excessiva desses aparelhos não está restrito às crianças. Ficar diante de telas por muito tempo pode causar impactos também na qualidade de vida de idosos, principalmente quando o assunto é o sono. 

É isso o que aponta uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O estudo analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, que entrevistou mais de 43 mil pessoas com mais de 60 anos de todas as regiões do Brasil. Conforme a pesquisa, idosos que passavam mais de seis horas por dia assistindo à televisão tinham mais chances de desenvolver problemas para dormir.  

Embora outras telas também possam causar distúrbios, as pesquisadoras responsáveis pelo estudo notaram que a TV estava mais associada à pior qualidade do sono que outras mídias, como o celular e o computador. A observação não parece uma surpresa, já que dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2021 demonstraram que assistir à TV aberta é o hobby de 91% das pessoas com mais de 60 anos. 

Como a TV impacta o sono? 

Segundo a médica geriatra Simone de Paula, da Saúde no Lar, quando os idosos passam muito tempo assistindo à televisão, eles estão mais predispostos a ter um estilo de vida sedentário. “Em outras palavras, eles estão menos ativos fisicamente durante o dia, e a falta de atividade física regular pode levá-los a ter dificuldade para adormecer ou a apresentar problemas com a qualidade de sono”, explica.  

Outro fator que impacta de forma negativa é a exposição à luz azul emitida por aparelhos eletrônicos, que incluem não só a TV, mas também computadores, celulares e tablets. “Essa luz artificial tem capacidade de inibir a liberação de melatonina, um hormônio que ajuda na regulação do sono, confundindo o relógio interno do corpo e, consequentemente, prejudicando o início do adormecimento”.  

A geriatra pontua ainda que os conteúdos consumidos pelos idosos também podem ser causas para o desenvolvimento de problemas para dormir. “Programas ou jogos que envolvem emocionalmente os telespectadores podem deixá-los mais inquietos e pensativos antes de dormir, dificultando o relaxamento”.  

Televisão não é vilã 

Embora possam aumentar a possibilidade de distúrbios no sono, as telas – principalmente a televisão – não precisam ser abolidas. “Não é necessário eliminar a televisão, até porque ela pode ser considerada um momento de lazer e descontração. A questão é o tempo e horário de exposição. O ideal é que haja um limite no tempo que o idoso passa assistindo à TV”, explica a médica.  

Segundo ela, como a televisão é geralmente usada quando as pessoas estão sentadas ou deitadas, esse tempo acaba se transformando em um período de menos atividade ao longo do dia. “Intercalar horários de TV com exercícios é uma estratégia. Fazer pausas regulares também”, orienta.  

Preferir acompanhar os programas televisivos durante o dia, deixando de assistir à televisão duas horas antes de dormir, é outra dica compartilhada por Simone de Paula. 

Quanto aos conteúdos consumidos, a médica orienta que é importante avaliá-los. “Incentivar os idosos a realizar outras atividades, como a leitura, a fazer programas ao ar livre e a ter compromissos sociais contribui imensamente para a saúde mental de pessoas nessa faixa etária”, ressalta.  

O que fazer quando há dificuldade para dormir? 

A geriatra explica que várias questões podem estar ligadas a uma baixa qualidade do sono, por isso é importante entender, antes de tudo, o que tem prejudicado o descanso e, a partir disso, definir a melhor forma de tratamento.  

Apesar disso, alguns passos podem ser seguidos. O primeiro deles é calcular o período que o idoso passa dormindo. “Talvez o tempo esteja adequado, mas fora do horário ‘padrão’. Por exemplo: uma pessoa que se deita às 19h e acorda às três da madrugada tem oito horas de sono. Essa quantidade é adequada para adultos e idosos. Porém, acordar de madrugada e encontrar todos dormindo pode gerar ansiedade e uma sensação de que o sono não está bom. Nesse caso, devemos adiar o horário de ir para cama, e não iniciar o tratamento com uma medicação”, explica.  

Conforme Simone de Paula, a criação e a manutenção de uma rotina também podem contribuir para a melhora da qualidade do repouso. “Ir para cama e se levantar no dia seguinte sempre no mesmo horário, mesmo nos fins de semana, ajuda o relógio interno a ficar regulado. Eliminar o que pode prejudicar o sono, como uso de cafeína ou de eletrônicos em um horário próximo ao de se deitar, também faz parte da higiene do sono”, explica.  

A especialista ainda ressalta a importância de que seja criado um ambiente propício para o descanso, deixando o local tranquilo, escuro, com temperatura adequada e longe de barulhos externos. “Praticar técnicas de relaxamento ou leitura de livros antes de dormir também ajuda o corpo a relaxar”, acrescenta. 

Durante o dia, a dica é realizar atividades físicas e se movimentar para gastar energia e liberar substância relaxantes.