Bem-estar

Trabalho x felicidade: qual será a equação ideal para a realização pessoal?

Especialistas dão dicas sobre como se encontrar satisfação nas obrigações das nossas rotinas laborais


Publicado em 01 de maio de 2023 | 05:00
 
 
 
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Depois de três décadas na área de contabilidade, Vanuza Borges Fernandes, 50, decidiu se reinventar profissionalmente. Apesar de ter um emprego estável e financeiramente rentável, ela sentia falta de algo mais significativo e prazeroso que seu trabalho.

"Acordei um dia e descobri que estava num ponto crucial da vida. Após tanto esforço que fiz cursando uma faculdade e me dedicando a uma profissão, eu só me sentia deprimida e estressada. Trabalhava simplesmente por dinheiro, e passava oito, nove, dez horas dentro de um escritório atordoada com o mesmo pensamento: 'Meu Deus, não é isso o que eu quero para mim. Preciso ser feliz'", recorda.

Foi ai que ela teve a certeza de que era hora de apostar todas as fichas numa nova carreira.

"Sempre gostei da área de estética, mas nunca tinha levado isso muito a sério pois achava que não conseguiria pagar minhas contas. Por fim, optei por trabalhar com alegria já que para mim isso é mais importante do que ter uma conta bancária recheada. Parece clichê, mas cheguei à conclusão que dinheiro não é tudo. Hoje me sinto leve e realizada fazendo aquilo que gosto", sintetiza a esteticista.

Vanuza é uma das milhares de brasileiras e brasileiros que na última década vêm reconhecendo que a felicidade no trabalho é um elemento imprescindível para a realização pessoal.

Diante da rotina moderna, cada vez mais urgente e opressora, será mesmo possível encontrar-se prazer nos nossos compromissos laborais?

"Sim, mas isso vai ter muito a ver com a forma com que a gente pensa, sente e se comporta em relação ao trabalho em si", afirma Renata Borja, psicóloga, especialista em terapia cognitivo-comportamental e mestre em relações interculturais.

Ela diz que não precisamos fazer algo sensacional e prazeroso o tempo todo para sermos felizes profissionalmente.

"Isso é praticamente impossível. O importante é acharmos significado naquilo que executamos diariamente, pois a felicidade está mais ligada à nossa capacidade de lidar com os problemas e superá-los do que qualquer outra coisa", observa.

Para a psicóloga com foco em psicologia positiva, coach e mentora de carreira, Renata Andrade, encontrar satisfação no trabalho está diretamente ligado com nossa forma de encarar os desafios ao nosso redor.

"A felicidade não está no trabalho, mas é um estado interno. Se você está feliz acaba fazendo escolhas que condizem com esse sentimento. Dessa forma, ainda que seu trabalho não seja o que mais ama, você vai ver um sentido maior na sua jornada", aponta ela.

Rebeca Toyama, especialista em carreira e comportamento, diz que encarar o trabalho como castigo pode trazer consequências negativas para nossa existência de um modo geral.

"O ser humano precisa de momentos de liberação de hormônios positivos, e se a gente não aprende a ter isso ao longo do dia de forma saudável, vamos querer compensar. E então na compensação vamos ter a compulsão, como: comer demais, querer muito sexo, comprar demais ou até mesmo cair no vício do alcóol e das drogas", explica.

Portanto, gostar ou não do que fazemos profissionalmente envolve otimismo e bom ânimo.

"Se não aprendermos a fazer uso desse hormônio positivo de forma natural, a gente pode parar nesse lugar de consumo psicoterápico, e nas questões de saúde mental", esclarece Rebeca.

Sinal de mudança

Após a pandemia, alguns movimentos globais, como a “grande renúncia” – em que milhões de trabalhadores pediram demissões voluntárias – vêm ganhando fôlego contra a chamada infelicidade nos ambientes de trabalho. Renata Borja acha que isso pode servir como uma mudança necessária em como as grandes empresas querem se relacionar com seus colaboradores de agora em diante.

"Quando nos deparamos com uma situação muito estressante como foi o caso da pandemia é natural que elas se questionem sobre o tipo de vida que estão levando. Essa demissão em massa é um reflexo de como a população tem visto sua relação com o trabalho. São pessoas dizendo que querem ter uma vida melhor do que a atual. É importante que as empresas também se adaptem e entendam que elas precisam dar uma qualidade melhor de trabalho para as pessoas para que assim elas possam ter mais felicidade no ambiente profissional",  opina a especialista.

Rebeca Toyama concorda e acrescenta: "Essas mudanças já vinham acontecendo no mundo, e a pandemia só acelerou esse processo. Então, muitas regras e métodos que funcionavam antes não têm mais efeito e precisamos rever nossos critérios e valores", detalha.

Renata Borja acredita que podemos sim encontrar caminhos possíveis para tirarmos alguma satisfação de onde tiramos dinheiro.

"É claro que é muito importante a gente ter satisfação nos afazeres e nas rotinas do dia a dia, mas a gente precisa também ser capaz de executar tarefas e obrigações. Precisamos lembrar que nem tudo no nosso dia vai ser só prazer. O segredo está em lidarmos com nossas obrigações de uma maneira mais tranquila e também buscar atividades que possam nos dar prazer. Esse equilíbrio é que vai fazer a diferença", finaliza.

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