Giovana Santos, 23, não tem com quem deixar seus filhos, de 2 e 3 anos, durante as férias escolares de julho. “As pessoas estão cobrando um valor absurdo porque são dois e demandam muita atenção. A gente ainda não sabe o que vai fazer para conseguir trabalhar”, diz a mãe. Adriana Silva de Oliveira, 45, está na mesma situação. “É perigoso eu até perder meu serviço porque eles não aceitam a falta e não tem como eu deixar com ninguém”, afirma a mulher, que cria os dois netos, uma menina de 3 e um menino de 4.
As duas mulheres vivem no aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. O drama vivido por elas é compartilhado por muitas outras famílias da comunidade. “É uma loucura, são mulheres que têm que se virar para conseguir alguém para ficar com as crianças. Essa é a maior dificuldade das mães hoje em dia dentro do aglomerado”, destaca a líder comunitária Cristiane Pereira, 46, mais conhecida como “Kika”.
A comunidade está se organizando para tentar resolver esse problema, ou parte dele. Kika está em busca de financiamento para transformar a sede da associação em uma creche provisória, no período das férias. “A ideia surgiu de uma das nossas colaboradoras da associação, que já trabalhou em creches. E aí, por conta do espaço que nós temos, pensamos em ajudar essas mães”, comenta.
Localizada ao lado de uma das maiores creches do aglomerado, a associação tem uma estrutura adequada para receber a criançada. “O salão é grande, com mesas e cadeiras, cozinha industrial e espaço para brincadeiras. Temos capacidade para atender entre 80 e 100 crianças”, explica a líder comunitária.
A ideia é mobilizar ao menos 12 pessoas para atender cerca de 100 crianças em período integral. “No momento, temos oito ajudantes disponíveis. Mas acredito que a gente consiga mais depois que vier o patrocínio”, detalha Kika. Ela destaca ainda que a iniciativa não é a solução, mas é um passo importante. “Não vai resolver o problema de todas as mães, mas são 100 famílias atendidas, o que vai amenizar esse estresse”, prevê.
Tem espaço e tem voluntários, só está faltando patrocínio financeiro para comprar alimentos e todos os itens necessários para subsidiar o projeto. “Nossa planilha está em R$ 60 mil. Dez dias de colônia para 100 crianças com as despesas inclusas”, diz Kika, confiante na execução do plano.
“A gente tem muita assistência hoje dentro das comunidades, mas por pessoas físicas, porque, se fosse esperar só do poder público, tenho certeza de que estaria nossa situação estaria pior”, comenta.
Vulnerabilidade
Segundo o último Censo, cerca de 480 mil pessoas vivem em vilas e favelas em Belo Horizonte, com renda média mensal de R$ 700. Dados que se traduzem nas mais diversas vulnerabilidades, principalmente em período como as férias, quando a assistência escolar é suspensa. “Para mim, a tecla que bate mais forte é a questão da fome. Trazer essas crianças aqui para a associação é suprir também essa alimentação do dia a dia, porque a gente sabe que tem muitas famílias que não têm condições”, diz a líder comunitária.