A temporada Minas S/A Gestão & Marca tem hoje o décimo episódio, com Ailton Ricaldoni, 78, fundador da Nanum Nanotecnologia, nas plataformas de O TEMPO.
Há 16 anos no mercado, a Nanum tem a sede em Lagoa Santa (MG) onde inaugurou nova fábrica neste ano com investimentos de R$ 60 milhões.
Em 2025, Ricaldoni conta que vem mais um ciclo de aportes da ordem de R$ 60 milhões para diversificar o portfólio de produtos da companhia especializada em óxidos metálicos nanoparticulados.
Os recursos serão usados ainda em equipamentos, laboratório, treinamento de pessoal e desenvolvimento do mercado.
A Nanum Nanotecnologia é a primeira companhia no hemisfério sul a criar e produzir tintas magnéticas usadas na impressão de documentos de segurança a partir de nanomateriais desenvolvidos em laboratórios próprios e fabricados em escala industrial.
Na fábrica serão lançados produtos com aplicações nas áreas automotiva, energia, siderurgia, construção, aeroespacial e química.
O industrial iniciou sua trajetória aos 12 anos trabalhando como engraxate, no Barro Preto, em Belo Horizonte.
A seguir, a entrevista completa de Ailton Ricaldoni:
HL: Aílton, muito obrigada por ter vindo aqui. Eu já te conheço há bastante tempo pela Clamper, agora você está com a Nanum, há 15 anos, mas agora ela ganhou uma robustez, né. Conta um pouquinho para a gente essa trajetória sua.
AR: Muito obrigado pelo convite, Helenice, é sempre uma alegria poder falar um pouco da nossa atividade, da empresa, para o público de uma maneira geral. A Nanum, na realidade, começou há 16 anos atrás, talvez um pouco mais, foi logo após eu ter desenvolvido um projeto juntamente com a Cemig e com a Universidade Federal de São Carlos/SP, um projeto célula combustível, a etanol, que não foi possível por causa do problema da membrana, mas é uma história longa. Aí eu conheci o Doutor Fernando Contadini, porque para esse projeto eu precisava de um consultor e ele já era consultor da Petrobras, aí ele ficou meio expediente lá na Petrobras e meio comigo me dando consultoria, depois ficou tempo integral comigo lá no projeto, e nós tocamos esse projeto. Depois, o projeto foi finalizado, por diversas razões, e aí eu o convidei para permanecer na Clamper comigo. Ele é Engenheiro Químico, com Doutorado nos Estados Unidos, conhece bastante essa área de química, de química fina, e aí ele falou, “então, tem uma empresa, uma startup lá na UFMG que está fazendo alguma coisa na área de óxidos metálicos, o que você acha?”. Aí conversamos e eu fui lá e comprei a startup.
HL: Ela já fazia óxidos metálicos nano particulados?
AR: Era a especialidade que ela estava estudando, não tinha produção ainda, era uma startup, realmente. Aí eu comprei essa startup, investi um pouco e aí surgiu um cliente em potencial, que é a Hewlett-Packard, a HP, que precisava de uma tinta magnética a base de nanopartículas de ferrita, bem trabalhada para não decantar, não aglutinar, para não entupir as cabeças de impressão das impressoras, era uma tinta para impressão jato de tinta. Aí começamos a trabalhar e 2, 3 anos depois nós conseguimos fazer o produto para a HP. Eles estiveram aqui no Brasil, tivemos várias vezes lá em Corvallis, lá na Califórnia, na sede da HP, e começaram a comprar a tinta. Aí começamos a buscar outros mercados, começamos a desenvolver alguns outros produtos na área de misturar com combustível para melhorar o desempenho, aditivo para combustível, e outros produtos.
HL: Me fala uma coisa, Ailton, qual a diferenciação deste produto, desta tinta que a Nanum faz em relação aos concorrentes, o benefício que ela tem de reduzir custo para a HP, por exemplo, nas impressoras?
AR: No caso específico da HP, vamos tratar. A HP ela imprime muitos documentos importantes, como cheque, por exemplo.
HL: Aquele que não pode borrar, não pode sair a tinta, está o seu nome lá…
AR: E a tinta magnética exigia uma operação a mais, porque eles têm aquelas rotativas, aquelas impressoras rotativas de jato de tinta, mas que não podiam aplicar a tinta magnética, que é a tinta de segurança do cheque, então tinha que produzir tudo e depois passar tudo num processo para imprimir a tinta magnética no cheque, são duas operações. Então, se eles acrescentassem uma cabeça de impressão que operasse com tinta magnética, já saia o cheque pronto do outro lado, né, vamos dizer, estou dando o exemplo do cheque, é um custo menor para o cliente, mais rápido e tal. E além do que, a tinta a laser e o toner que eles usam para imprimir a tinta magnética é cancerígena, e aí nos deram essa missão e conseguimos fazer uma tinta que não decanta, que não aglutina, que não entope os furinhos da cabeça de impressão, e a HP gostou e começou a comprar da gente já tem quase 15 anos, 14 ou 13 anos que a gente já fornece direto para a HP. E aí surgiram outros clientes, tipo a Fuji e outros lá nos Estados Unidos, na Europa.
HL: Porque aí vem a propaganda boca a boca, né?
AR: É, mas aí nós ficamos só com esse produto e começamos a desenvolver outros. Eu consegui um espaço na Clamper para a Nanum, lá dentro do imóvel da Clamper, porque eu era o dono da Clamper e da Nanum, então é jogo de compadre, né.
HL: Tudo ali no Aeroporto Industrial?
AR: Eu “botei” a Nanum no galpão, mas a Nanum foi crescendo e nós começamos a desenvolver outros produtos. Com o evento de eu ter vendido a minha parte da Clamper.
HL: Você saiu da sociedade da Clamper?
AR: Saí da sociedade da Clamper, mas o meu filho continua lá. Aí os novos donos, os franceses, me deram um prazo para tirar Nanum lá de dentro.
HL: Porque é outra empresa, né? É outro CNPJ, outro público-alvo.
AR: É uma empresa dentro de outra empresa, só que agora não é do mesmo dono, então eu comecei a procurar imóvel lá por perto para a gente construir uma sede e surgiu a oportunidade daquele terreno do lado da Clamper, que a Prefeitura licitou várias vezes e ninguém comprou, aí eu resolvi comprar. Comprei, reformei, e hoje a Nanum está instalada lá numa área de 20 mil metros quadrados e 8 mil metros quadrados de área construída
HL: Ou seja, tem muita área para crescer ali dentro.
AR: Tem. Então, eu falo para o meu parceiro, meu sócio, nós temos conhecimento, mais de 16 anos de mercado, temos um conhecimento acumulado muito bom, temos um espaço maravilhoso, uma localização ótima, temos recurso e a clientela está ávida pelos nossos produtos, então juntou a fome com a vontade de comer.
HL: Literalmente, né! Dá para você verticalizar muita coisa, muito produto.
AR: Aliás, o propósito da Nanum é esse, o propósito principal, que o mercado está conseguindo enxergar, a possibilidade, porque a Nanum, ao mesmo tempo que ela é uma empresa de desenvolvimento tecnológico, nós temos laboratório próprio. Obviamente que nem todos os laboratórios têm determinados equipamentos, são muito caros, a gente usa laboratórios da Universidade ou do Centro de Pesquisa, ou de fora em algumas questões, mas na maioria do processo produtivo, nosso processo de desenvolvimento, a gente procura instalar os nossos próprios laboratórios, que é o que nós estamos fazendo já há muito tempo. Já temos e estamos continuando a fazer.
HL: Só que isso demanda um investimento alto, né. Esses 60 milhões que você investiu até agora na Nanum foi na compra de área…
AR: 60 foi só nesse ano, agora no ano que vem vai mais 60.
HL: E eles vão ser aplicados em que? O próximo ciclo de investimentos de 60 milhões, em 2025?
AR: Equipamento, laboratório, pessoal, treinamento de pessoal e desenvolvimento de mercado, principalmente.
HL: Ganhar novos mercados, levar os produtos da Nanun para outros mercados.
AR: É aquela história que a gente conversou, quem não é visto não é lembrado. A gente tem que botar a cara na rua e mostrar o que a Nanum faz, o que ela é capaz de fazer. E aí o grande diferencial que eu vejo da Nanum para algumas outras iniciativas que têm no mercado de química fina, por exemplo, é que o pessoal às vezes tem capacidade técnica, faz uma tinta ou uma quantidade a nível laboratório. e o cliente gostou, mas não tem como escalar na produção, quer dizer, industrializar volume.
HL: E customizar, né, eu quero um quilo, eu quero uma tonelada, aí a Indústria não está preparada para isso, mas a Nanum está?
AR: A Nanum está capacitada para isso, porque ela tem, por exemplo, vamos dizer o óxido de grafeno, tem um determinado cliente que quer ele de uma certa forma, com algum refinamento maior. A gente tem condição de fazer e escalar a produção. Ele falou “eu gostei deste produto, é o que o produto que eu quero, mas eu quero uma tonelada por mês”, a gente tem condição de fazer isso na linha de produção. Estou exagerando em uma tonelada, mas vamos dizer 100 quilos, porque nós estamos falando de nanopartículas, então uma tonelada é demais!
HL: Ailton, explica para o pessoal o que é a nanopartícula num produto como esse.
AR: A nanopartícula é uma partícula mil vezes menor do que a micro.
HL: Você não enxerga olho nu, precisa de um microscópio específico para isso?
AR: Microscópio eletrônico de alta potência para você conseguir enxergar.
HL: E a nanopartícula é que dá um valor agregado maior ao produto? O que ela provoca num produto como esse?
AR: Ela bem funcionalizada, que aí que está o segredo, você produziu uma nanopartícula de qualquer coisa, tem muitos métodos, vai fazendo até chegar na nanopartícula, mas você funcionalizar essa nanopartícula para que ela não aglutine, não decante ou disperse uniformemente num determinado ambiente que você vai aplicar, numa água, numa tinta, então é esse é o segredo da nanopartícula. Se você pegar uma nanopartícula ou milhões de nanopartículas, ela é do tamanho de uma partícula milimétrica, vamos dizer assim, é 1 milhão de vezes menor. Então, você junta 1 milhão de nanopartículas e equivale a 1 partícula de um milímetro.
HL: É muita tecnologia embarcada.
AR: Então, ela tem essas várias vantagens e aplicabilidades, por isso que a gente entrou nesse caminho.
HL: É, não é commodity, né. O trabalho da Nanum Nanotecnologia não é trabalhar com commodities, volumes.
AR: Eu vou lembrar aqui as palavras do Steve Jobs: “a empresa não vive de faturamento, ela vive de margem”. (risos) É verdade, ele não está falando nenhuma mentira. A empresa vive de caixa, ela não vive de “ah, faturou 1 bilhão. Quanto ganhou? Nada”. Não adianta nada.
HL: Não sobrevive, né?
AR: Está indo para o precipício (risos)
HL: E você aí há décadas no mercado sabe bem disso (risos).
AR: A empresa faturou 100 milhões, mas deu um lucro de 50, 60, aí essa é boa. Então, quer dizer, por isso que a gente não se preocupa muito com faturamento, preocupa muito com a margem, porque a margem boa de lucro ou de lucro bruto é o que permite a empresa reinvestir no processo. A empresa precisa permanentemente estar reinvestindo no negócio dela, novos laboratórios, novos materiais, inovando etc., porque senão morre, o mercado engole, daqui a pouco ela desapareceu.
HL: Vem outro concorrente que fala “eu faço melhor do que você, com preço melhor para o cliente”, pronto, acabou.
AR: É isso aí. Então, quer dizer, a empresa precisa desse investimento e você só consegue isso com uma imagem boa, ou então você vai ter que ir ao banco se endividar, ou então você vai chamar novos investidores.
HL: Diluir ou abrir o capital, ter acionistas, ter que reportar resultado de 3 em 3 meses.
AR: Numa direção básica aí, o que funciona mesmo, que sempre funcionou para mim na época da Clamper e agora, é você trabalhar com uma margem que te permite pegar uma parte, essa margem, e reinjetar no negócio, novos laboratórios, novas pessoas, treinamento, desenvolvimento tecnológico.
HL: Quer dizer, a Nanum precisou ir ao mercado, ela precisou fazer empréstimos ou ela tem as linhas de financiamento também específicas?
AR: Até o momento a gente só tomou um empréstimo muito pequeno, mas agora a previsão dos investimentos para 2025 já estão, assim, vamos dizer engatilhados ou já iniciados vários processos de financiamento, como no BNDES, Finep, BDMG, Fapemig, né, e vários outros caminhos que a gente tem para conseguir o recurso, e sem investir o recurso próprio, até agora foi tudo com recurso próprio. Agora, a gente precisa crescer mais rápido, e para isso demanda investimento e aí o mais prático ou mais recomendável é que a gente se beneficie dessas linhas específicas de financiamento para inovação tecnológica, para várias coisas que tem aí no mercado, é isso que nós estamos nos habilitando a esse tipo de recurso, de empréstimo, para financiar os nossos investimentos futuros próximos e o crescimento nosso. É mais ou menos nessa linha e funcionou assim. Eu não sou muito partidário de ficar tomando empréstimo…
HL: Alavancando demais, né, porque depois tem que pagar, juntando as parcelas ali…
AR: Teve uma época na Clamper que eu tive que dar uma alavancada e paguei caro, porque na época o juro estava muito alto, mas a sorte nossa, o que salvou é que eu paguei um juro alto, porque os Bancos estavam fechados por causa de várias razões aí, em 2016, 2017, e eu pude pagar, porque a margem da empresa era boa, se não tivesse margem eu não tinha condição de tomar um empréstimo daquele para reerguer a empresa, vamos dizer assim.
HL: É, porque aí mesmo vendendo tudo, você não consegue pagar.
AR: A pior coisa que tem é vender para comprar alguma coisa.
HL: É verdade.
AR:: A dívida boa é melhor. Vou vender minha casa e botar o dinheiro aqui, vou vender isso aqui, vou vender a fazenda, vou vender… isso é bobagem.
HL: Mas aí tem que ter uma gestão boa também, né, Aílton. Não adianta ter só a marca.
AR: A marca é o mais importante, quer dizer, é um dos fatores, é o grande ativo. O ativo mais valioso que uma empresa pode ter é a marca dela, é o caso da Clamper. A Clamper sempre valeu muito, porque o mercado acreditava na empresa, no produto da empresa, na eficiência etc., então, quer dizer, quando você ganha credibilidade do mercado e você coloca produtos, o mercado respeita e reconhece, esse é o maior ativo que você pode ter, é como o mercado enxerga sua empresa.
HL: Mas se em algum momento você desandar na gestão, começa a comprar um monte de coisa, mansão e carro, não sei o que, avião, barco (risos), é terrível, né!
AR: Aí vai para o buraco (risos)!
HL: Vai para o buraco mesmo, questão de tempo. Você falou desse produto para impressoras, essa tinta magnética de produtos nano particulados, né, Aílton, mas a Nanum está diversificando o portfólio dela, não é?
AR: Está. Nós estamos aí com vários produtos sendo lançados até o final deste ano e no ano que vem.
HL: Conta para a gente alguns que vão ser um marco no mercado.
AR: Eu costumo dizer que muitas vezes você é demandado, então eu acho que o setor de armazenamento de energia é o futuro da energia no Brasil, quer seja por grandes barragens ou energia potencial cinética, e de qualquer forma armazenamento de energia é importante. Eu comecei a fazer um projeto junto com o Doutor Contadini, que é um projeto de um hiper capacitor molecular, é uma patente que ele tem com um professor lá de São Paulo e um processo, e nós resolvemos que poderia se transformar num hiper capacitor molecular quântico, é uma bateria que não é uma bateria.
HL: Você substitui aquela bateria grande, seja ela de pilha para carro, dá para pensar nisso para o futuro?
AR: O que eu conversei com o pessoal do desenvolvimento, é que se eu conseguir desenvolver um hiper capacitor que consegue armazenar num mesmo volume, num mesmo peso a mesma quantidade de energia de uma bateria de íons de lítio, por exemplo, eu já ganhei absurdamente. Se o mesmo volume, o mesmo peso, conseguir armazenar a mesma quantidade de energia através do hiper capacitor comparado com íons de lítio ou uma bateria com eletrólito ou com processo químico…
HL: A durabilidade dela é maior? Dessa sua bateria, da Nanum.
AR: É infinitamente maior. Por exemplo, a bateria de íons de lítio, estamos falando aí de 8 mil ciclos de carga, descarga, de vida útil, em 10 mil as mais sofisticadas e tal, a nossa é de 1 milhão. É para a vida toda, então não tem desgaste, entendeu? A outra grande vantagem é o seguinte, se você descarregar uma bateria alcalina, de íons, muito rápido, ela esquenta e pode pegar fogo, explode. Esse não, o capacitador você pode descarregar ele todo de uma vez só.
HL: Ele não dá esse curto?
AR: Não, quer dizer, aliás o projeto do Tesla há muitos anos atrás, o Nikola Tesla estava fazendo o raio da morte, que era um banco de capacitor enorme que dá uma descarga instantânea de micro segundos, milissegundos, aí furava tudo que estava na frente. Quer dizer, o princípio é esse, que no hiper capacitor, no supercapacitor, você consegue descarregar e carregar ele rapidamente. Se você tiver uma fonte com potencial e uma capacidade adequada, você consegue carregar um capacitor desse em milissegundos.
HL: Mas aí qual que é o desafio para colocar isso no mercado? Quanto tempo você acha que demora? Ou é uma pesquisa que ainda está bem incipiente?
AR: Nós já temos 4 anos de projeto já. Nós estamos na fase já do TRL 4 ou 5.
HL: Já é de consolidação?
AR: É de consolidação. Quando chega em TRL 7 já é para industrialização mesmo. Nós estamos chegando para começar o processo de industrialização.
HL: Você acha que, então, mais uns 2 anos, 3 anos?
AR: Não, menos, no ano que vem. O pessoal está hoje lá em Curitiba/PR fazendo um teste, porque são detalhes que você não consegue… a química é um negócio fantástico.
HL: Você tem que estar testando o tempo inteiro, né?
AR: Por exemplo, a tinta que nós desenvolvemos para esse hiper capacitor, que é aplicada na superfície do ânodo e cátodo, na feitura dessa tinta, se não tiver um ambiente seco, qualquer umidade já diminui o rendimento.
HL: Já desestabiliza o equipamento.
AR: O pessoal foi lá para Curitiba para fazer a tinta no ambiente seco. Nós já compramos o equipamento, está chegando, deve chegar agora em novembro.
HL: Aí vocês vão ter que replicar esse ambiente aqui também na fábrica? A vácuo, sem umidade alguma?
AR: Nós vamos lá para fazer a tinta no ambiente seco para comprovar que a tinta feita no ambiente seco e aplicada, a eficiência do nosso hiper capacitor vai melhorar muito. Então, isso é o objetivo, e a partir desse protótipo que a gente está fazendo, dessa primeira fabricação de pilhas, né, porque são pedaços de um metro e meio enrolados dentro de uma pilhazinha, tipo AA, e depois nós vamos fazer maior.
HL: É, porque aí vai adaptando para cada tipo de uso, na indústria, no mercado em geral.
AR: É, a pesquisa é isso aí, você tem que ir na tentativa e erro, e vai até você acertar. Acertou, vai embora. É o que nós estamos esperando agora, até o final deste ano, início do ano que vem, a gente já ter o protótipo pronto. Quer dizer, comprovado que tem a eficiência mínima que a gente precisa para colocar no mercado, analisar o custo e tal, e aí nós vamos partir para montar uma linha de produção.
HL: O preço dessa bateria, né. Para o que ela serve....
AR: Aplicação, dá para tudo, agora, depende do material. Você pode usar, por exemplo, se você for fazer uma bateria pequena, concentrada, você pode usar até ouro, prata que o mercado, para aquela aplicação, paga. Agora, se você for botar uma bateria dessa no quintal de casa para poder alimentar uma residência, aí você pode ter menos preocupação com peso, com volume e com a matéria prima utilizada, porque o mercado vai pagar menos, mas vai ter espaço para colocar etc. Então, eu acho que esse é um caminho que nós trilhamos e um dos produtos que nós desenvolvemos para atender esse projeto, que é os óculos de grafeno, acabou se revelando um ótimo produto para diversas aplicações no mercado e já estamos vendendo.
HL: Esse já está tendo aplicação e já está tendo uma demanda bem maior?
AR: Nós desenvolvemos um óxido de grafeno reconhecido, de boa qualidade para o mercado. Então, a gente já tem um outro produto sendo lançado. Tem um outro produto que é o óxido cério também, que é para aditivar combustível.
HL: Esse é para o que, Aílton?
AR: O óxido de cério tem várias virtudes, uma delas é ser um catalisador, ele aumenta a capacidade de explosão do combustível, potencializa e com isso acaba reduzindo o consumo.
HL: Tudo nos seus produtos, eu vejo que desemboca nessa questão de reduzir custos, reduzir manutenção.
AR: Reduzir energia. Um produto que a gente está pensando seriamente agora, já está bem avançado, para avançar para o mercado B2C, porque todos os nossos produtos são B2B.
HL: De empresa para empresa. Agora, vocês já vão…
AR: O processo de produção de aço, de alumínio… Agora esse que nós vamos lançar é uma tinta que você pode aplicar com pincel ou spray, é para anticorrosivo. Uma tinta com nanopartícula para anticorrosivo. Ou seja, você mora na beira da praia, aquela maresia, você aplica a tinta lá em cima da ferrugem mesmo e ela já dá uma regulada na ferrugem.
HL: E para de corroer. Ela interrompe o processo de corrosão, melhora a aparência.
AR: Interrompe e reduz violentamente o processo de corrosão, e o segredo é a nanopartícula, porque é a nanopartícula de um produto que a gente tem lá e nós já estamos fazendo vários testes, já tem testes bastante expressivos realizados, e nós vamos já com a parte do spray para ver quanto é que vai custar no mercado.
HL: É, porque tem muita tecnologia e é um produto novo, geralmente ele chega com um preço maior. Depois, quando vai se popularizando, democratizando, você consegue abaixar.
AR: Mas eu acho que, Helenice, eu vivenciei isso na época da Clamper, porque o pessoal falava que o produto da Clamper era caro, mas era bom.
HL: Dá efeito. Eu tenho lá em casa e nunca mais queimou equipamento lá em casa. Eu botava aquele aquele negócio na tomada, aí dá o curto, a luz volta e protege. Nunca mais minha máquina de lavar queimou. (risos)
AR: Uma vez eu fui fazer um ultrassom com o médico, o médico falou “o senhor é dono da Clamper?”, eu falei “sou”, e ele disse “muito obrigado”. Os equipamentos dele queimavam, parou de queimar. É um médico que fazia ultrassom, usava os equipamentos mais caros, e protegeu.
HL: Só você colocar aquela tomadinha lá e acabou. Então, assim, o pensamento Nanum Nanotecnologia você mantém esse?
AR: Lógico. Mesmo que o produto custe mais caro do que a concorrência, ele tem um diferencial de valor e tem resultado. Então, isso que é importante, não adianta “ah, mas o chinês vende a 10 centavos”, deixa ele continuar vendendo, é problema dele.
HL: O seu mesmo que gaste um pouquinho mais, ele vai diluindo no uso do aparelho, não é uma aquela, que a gente chama, economia porca, né.
AR: Exatamente. E eu detesto essa tal de economia porca. O cara faz a licitação lá, pega 3 propostas, pega a mais barata e tal, vai arrepender para o resto da vida.
HL: Não adianta nada, né. Você compra um blazer vagabundo, rapidinho você já jogou ele fora.
AR: Eu tenho um blazer que eu comprei tem 10 anos, está ótimo.
HL: Olha só, você comprou lá atrás “nossa, que coisa cara!”. Mas já diluiu tudo, em 10 anos já se pagou quantas vezes, né?
AR: Eu gosto de coisa boa, e tudo que é bom é caro, a gente sabe disso, né. Nem tudo que é caro é bom é, mas tudo que é bom é caro (risos).
HL: Você está pagando um preço ali, mas você vai ter um retorno garantido.
AR: Vai usufruir.
HL: Aílton, então essa tinta está para sair por agora, nos próximos anos? Ano que vem também? Você está com isso tudo aí para sair, está no forno para 2025?
AR: 3 produtos vão sair esse ano já. Um são os óculos de grafeno, já está vendendo, já tem até pedido na fábrica para entregar, estamos precisando produzir, estamos terminando a linha de produção, primeira linha de produção. E tem mais um outro, de cério, e tem um produto que nós desenvolvemos, que é o soar, que é para proteger o parafuso na linha de montagem de solda das Indústrias Automobilísticas, para não grudar o respingo de solda no parafuso.
HL: Porque senão você tem que fazer a pintura do carro todos os dias, da carcaça. Isso aí economiza demais a linha de produção ali, economiza na fábrica. Vocês já vendem esse produto, ele já tem cliente garantido?
AR: Esse produto já foi testado, já foi aprovado, e agora nós estamos na fase final de desenvolver a máquina que vai aplicar, porque só pode aplicar na rosca do parafuso. Então, tem que ter uma máquina que aplica aquela resina ali só na rosca do parafuso.
HL: Ela tem que ser certeira, o jato tem que ser ali direcionado.
AR: Mas está praticamente pronto, já está para ser lançado para o início deste ano que vem, já vai estar no mercado.
HL: Ou seja, você vai ter um portfólio bom que atenda a esses 3 setores: Indústria Automobilística, Construção Civil e Siderúrgicas.
AR: Mineração e quiçá Agronegócio também.
HL: Que é o grande Eldorado. Você não pode falar ainda, né? (risos)
AR: Eu prefiro não falar.
HL: Agora, a sua área de atuação tem muita concorrência ou não? Você tem muito mercado externo e não tem grandes players assim que estão nessa?
AR: O diferencial do nosso negócio é exatamente esse. A gente não entra nesse mercado maciço. O chinês está doido para entrar e depredar, ou qualquer outro fabricante maior. O que a gente faz é oferecer para o mercado uma empresa, uma Indústria, que tem condição de customizar determinadas partículas de produtos para o processo dessa Indústria, especificamente, porque nós temos laboratórios, temos pesquisadores, temos conhecimento etc., e o mais virtuoso é que a gente sai da escala de laboratório e vai para escala industrial com facilidade. Nós temos condição de produzir, de escalar o produto, que é o cara falar assim “ó, gostei demais desse produto, eu quero 500 quilos por mês”. Um laboratório não faz não e nem com custo bom. Agora, nós temos condição de produzir, escalar a quantidade de produção com custo bom, entendeu? Essa é a vantagem, você tem começo, meio e fim. A Indústria é barba, cabelo e bigode.
HL: É, ela tem que ter isso, porque senão ela também não consegue chegar no cliente.
AR: Esse é o caminho que nós estamos seguindo para que o cliente, o B2B, principalmente, enxergue a Nanum como essa possibilidade, “olha essa empresa tem condição de customizar essa resina ou esse produto, essa coisa que nós vamos utilizar no nosso processo e escalar na produção”.
HL: E tem condição de entregar também, né. Dar prazo e entregar no prazo.
AR: Exatamente, é isso aí. Está cheio de laboratório aí, Universidade, que faz, tem até capacidade de fazer a nível laboratorial, ali é algumas gramas, mas me dá 10kg, aí não dá. E quando você fala de 100kg de nanopartícula, é “troço para xuxu”. Quando você fala 1 tonelada para Indústria Siderúrgica é mixaria, mas você fala 1 tonelada para nanopartícula é um volume…
HL: Qual é a capacidade instalada da Nanum, atualmente, para atender o mercado, dá para a gente quantificar isso?
AR: Olha, nós estamos nos preparando, porque está acontecendo com Nanum hoje um negócio que é o sonho de toda indústria, toda empresa, que é você ter o pedido dentro de casa e ter que se virar para entregar. Nós temos a tecnologia, o conhecimento, temos o ambiente, a empresa, e temos o cliente com pedido colocado. Então, agora é fabricar, montar a linha de produção, colocar gente e fabricar. Esse é o melhor desafio que eu já tive na minha vida, anos atrás com a Clamper, e agora estou tendo novamente. Tenho pedido, tenho gente querendo, tenho o produto, eu só preciso produzir.
HL: Você me falou que tem aí 40 profissionais, atualmente, na Nanum, mas são doutores…
AR: 10 dos 40, são 5 doutores e 5 mestres, e estamos contratando mais. Agora mesmo, essa semana, contratamos mais dois de nível.
HL: Mas tem que ser tudo PHD, com mestrado?
AR: A nossa mão de obra de pisos de fábrica, que a gente chama, é diferente, é um teco qualificadíssimo, porque ele opera máquinas complicadas, equipamentos de laboratório, então é um nível de funcionário mais elevado.
HL: É um produto que é um robô que vai usar, você estava me explicando, na Indústria Automobilística para fazer essa pintura da solda, é um robô que vai aplicar. Então, assim, tem que ser um produto muito sofisticado e aí tem que ser uma mão de obra também. O Brasil tem essa mão de obra ou já está tendo dificuldade também dessa mão de obra? O pessoal vai para fora (do país).
AR: Esse foi um assunto que nós discutimos na última reunião da diretoria. Toda segunda-feira, eu venho na diretoria, não tem pauta, é brainstorm, e uma das luzinhas amarelas que acenderam nessa reunião foi exatamente a mão de obra, e por isso eu já comecei a agir para a gente fazer uma parceria com o Senai, na FIEMG, e talvez até com o Centro de Instrução da Aeronáutica, lá em Lagoa Santa/MG, que tem lá, e treinar. Você treina um grupos de 25 pessoas, por exemplo, dá o treinamento, pega um camarada com nível médio, joga ele para estudar alguma coisa da parte de química, de operação, e treina, e depois você aproveita ali o máximo que você puder daquele grupo
HL: Os salários são bons nessa área?
AR: Os salários são bons, são ótimos.
HL: Chamam a atenção do profissional.
AR: Porque ele tem que ter uma bagagem, tem que ter alguma coisa para oferecer.
HL: Fazer doutorado não é para qualquer um, né, é uma coisa difícil. Agora, onde que o produto da Nanum tem ido, por exemplo, você me falou da Índia, não é? Que a Índia está tendo um mercado muito interessante, mas em que aspecto, por exemplo?
AR: Nós estamos já em várias negociações com empresas indianas, algumas poucas, mas com possibilidades. Nós tivemos uma missão da FIEMG lá, eu e o Doutor Contadini fizemos alguns contatos e a gente está evoluindo bastante nessa tinta magnética e em outros produtos. A Índia, só para você ter uma ideia, tem uma empresa que nós estamos negociando lá na Índia que produz 1 milhão de cheques por dia.
HL: Nossa! Gente, o pessoal usa cheque ainda, porque aqui no Brasil a gente não usa mais, é tudo pix.
AR: Aqui no Brasil não usa, mas os Estados Unidos usam muito.
HL: Vocês vendem para lá também, a tinta?
AR: Vendemos, a HP está lá comprando tinta da gente e outros, mas tem muitos países que ainda usam muito cheque, é normal, na Índia, então, é muito. Na Ásia acho que não deve nem ter, mas na Europa ainda tem, muitos países têm também cheque, e nos Estados Unidos.
HL: A gente está exportando tecnologia bancária, essa coisa do pix, essa coisa do Banco Digital é muito do Brasil.
AR: Mas lá nos Estados Unidos, por exemplo, o pessoal ainda recebe cheque em casa. Isso é bom ou é ruim? Não sei, é o modus operandi deles.
HL: Outro dia esteve aqui o CEO do Banco Inter, o Xande, e ele falando que lá eles estão criando um mercado com Banco Digital, com super app, para fazer tudo pelo celular, é uma questão de mercado. Então, quer dizer, vocês têm muito mercado ainda, não é? Com essa tinta.
AR: O que eu digo para você é o seguinte, a tecnologia tem os dois lados, é uma faca de dois legumes, vamos dizer, porque se você digitaliza tudo, você está mais sujeito a hacker, está mais sujeito a fraude. Quando se tem um cheque, que o cara passa o cheque numa máquina para saber se o cheque é verdadeiro, por causa da tinta magnética tem alguns sinais de segurança, é outra história. Ali é um cheque assinado por alguém. O cara pegou seu pix ali, pegou e entrou no seu celular, acabou, vai te levar a zero. Então, esse negócio de pix, de moeda digital, isso tudo tem uma vantagem, obviamente, mas tem os riscos.
HL: Então, para você o maior mercado, atualmente, continua sendo esse da tinta?
AR: Hoje é, é o carro-chefe, mas a tendência é mudar. Nós estamos mudando, já começamos.
HL: Para não ficar também dependendo só desse mercado.
AR: Eu acho que você tem que ter vários produtos e vários mercados para você poder modular e manter um padrão de faturamento de imagem bom, porque uma hora esse mercado está bom, mas outra hora esse aqui caiu um pouquinho, meu outro subiu, e você vai modulando e mantendo a empresa com um fluxo de caixa bom, né, com uma fábrica saudável.
HL: Porque, atualmente, Ailton, o principal mercado da Nanun é fora do Brasil, não é?
AR: Não, nós só exportamos. Agora que nós começamos a vender aqui, nesse ano, e é pouquinho, está começando, mas todo o faturamento da Nanum é exportação, 98%. Agora que está crescendo, e agora nós vamos enfatizar bem o mercado brasileiro e outros países, mas o brasileiro principalmente, porque tem um mercado imenso para muitos produtos que a gente faz aqui, e a gente vai explorar isso. Estamos começando a explorar e no bom sentido, explorar no bom sentido, oferecer produto de qualidade e ganhar o nosso pão de cada dia.
HL: Aqui no Brasil, o que seria assim o mercado promissor para a Nanum ganhar mercado?
AR: Olha, eu diria pra você que a amplitude de aplicação da química fina, da nanotecnologia é tão ampla que eu não teria coragem de dizer se é só na mineração, só no agronegócio, na indústria farmacêutica. É aberto.
HL: Por exemplo, você me falou de hospitais, que vocês estão com essa tinta antibactericida.
AR: É nanoprata aplicada numa tinta, é bactericida. Prata mata a bactéria, porque os nobres antigamente só comiam em talher de prata, bebia água, vinho na caneca de prata? É isso, é bactericida.
HL: E é uma coisa que o hospital precisa demais, né? O grande problema de um hospital é a infecção.
AR: Você pintar a parede com a tinta com nanopartículas de prata ali já diminui a possibilidade de infecção de bactéria.
HL: Aí a pessoa não vai precisar tomar o antibiótico e aí vai para outra questão, que você vai mexer com outras indústrias também. Essa tinta já está no forno aí para sair nos próximos anos?
AR: Essa tinta nós já temos, só precisa agora de analisar o mercado, recursos, aplicação, mas a gente já tem a tecnologia e a capacidade de fazer, isso nós já temos.
HL: Um dos desafios da Nanum é colocar preço nestes produtos para ele chegar ao mercado consumidor?
AR: Olha, eu vou dizer para você a minha experiência. O mercado consumidor é amplo, tem um mercado que está disposto a pagar 1000, tem um outro mercado está disposto a pagar 100, tem um outro mercado está disposto a pagar 10. Que mercado é esse, que tipo de produto que eu tenho a oferecer? Então, o empresário tem que buscar esse equilíbrio, porque não adianta ele querer oferecer relógio de ouro, caviar…
HL: Para o assalariado, né?
AR: É, colocar na cesta básica caviar, não tem cabimento o negócio. Não tem renda, não tem sentido, não vai conseguir vender nada. “Ah, mas essa cesta básica aqui tem uma latinha de caviar não sei da onde”, mas e daí? Ela não quer, pô.
HL: Não vai ter demanda, né.
AR: É o negócio da bateria. Bateria você pode fazer uma bateria pequenininha com materiais caríssimos, ouro, prata e grafeno, mas tem que ver qual mercado que paga. Tem mercado que paga aquilo ali pela miniaturização, pela eficiência e confiabilidade etc., tem mercado que paga.
HL: Agora é encontrar esse mercado.
AR: Você tem que separar os produtos que utilizam… aliás, o mesmo produto, por exemplo, ele pode usar componentes mais caros e mais baratos e ficar mais pesados, ficar mais volumosos ou menos volumosos, e dependendo do material que você usa, aí você tem que direcionar para aquele mercado, que é um mercado que paga menos, mas é um mercado mais volumoso, é um mercado que aceita aquele peso e aquele volume do produto.
HL: Aí ganha na margem, né?
AR: A margem não pode abrir mão. Se você abrir mão da sua margem acabou
HL: Acabou né, aí você está pagando para trabalhar, aí também não, né. (risos) Aí também é capote de madeira. Isso aí você sabe de cor e salteado na sua vida industrial. Tem um outro produto também, porque aqui, gente, a gente conversa bastante antes, e como é uma tecnologia muito nova, o Ailton estava me contando um pouco antes, por exemplo, você usa a escória e leva para Construção Civil. Conta um pouco desse processo.
AR: É um outro que nós estamos estudando, que é o grafeno esfoliado, é a folha de grafeno fina. Você produzir esse grafeno fino, ele resulta desse processo, uma escória, que é grafeno também, mas de outro nível de qualidade. Então, essa escória tem uma aceitação muito grande no mercado de Construção Civil, de concreto, de cimento, para melhor o desempenho dele. Eu estou falando de química aqui, mas eu sou Engenheiro Eletricista, eu estou dando bicada aqui nesse negócio, então posso falar alguma bobagem, né. É aquela história que a gente estava falando, do boi não sobra nem a unha, né.
HL: Você aproveita tudo.
AR: Não sobra nem o berro do boi. Então, você tem o grafite, você esfolia e produz o grafeno, e tem uma escória. Essa escória tem valor, também tem uma aplicação.
HL: Esse material, vocês compram de fornecedores? Quer dizer, a matéria-prima que a Nanum usa, é o que? É o grafeno…
AR: A gente tem vários, né. Prata, cobre e outros materiais, cério e ferrita, e a gente compra dos fornecedores, no Brasil, lá fora, tem vários.
HL: Até onde você quer levar a Nanum? O que você quer fazer mais lá na fábrica, quais as linhas de produção que você quer implantar para ela não ter que parar uma produção para poder fazer uma outra encomenda?
AR: Olha, área não falta para nós até o momento. Espero que sature aquela área lá em
curtos passos de tempo.
HL: A Indústria é pedido, né, é encomenda.
AR: Então, a gente vai focar nesses óculos metálicos, que são nanoparticulados, e com as adaptações dele nos óculos de grafeno, e vamos modulando e vendo, porque a Indústria precisa crescer, e não tem como proibir ela de crescer, porque ela morre. A Indústria é um negócio, ela vai pedindo para crescer, vai crescendo e você tem que deixá-la crescer, porque senão ela vai morrer.
HL: Porque senão outra entra e ganha o mercado.
AR: Ela morre. Então, eu tenho uma ideia, por exemplo, eu estive na fábrica da DuPont, lá em Delaware, nos Estados Unidos, Indústria Química, com mais de 200 anos, empresa familiar. Você vê que eles pegam um negócio, vê um mercado grande, eles abrem uma fábrica daquilo ali do lado, no outro país, no outro e eles vão embora, eles não têm limite. Agora, você tem que ter a estrutura básica bem montada, parte técnica, parte de treinamento, de laboratórios, de cabeça pensante, quer dizer, eu não sou imorrível, né, então tem que preparar a sucessão, tem que deixar as coisas bem feitas, as cabeças para os caras continuarem o negócio, para não deixar morrer. Essa é a ideia.
HL: Por exemplo, para a Indústria continuar crescendo você tem que estar sempre girando, você tem que ter sempre investimento. Você pensa em ter investidores estrangeiros, parceiros, você tem propostas?
AR: Já temos assédio, proposta não, assédio.
HL: (risos) O que é um assédio a um industrial?
AR: O cara fala assim “ah, você precisa de um sócio. Quer um investidor, quer fazer uma parceria?”. Por exemplo, tem uma empresa de fora aí agora quer fazer uma via de 2 mãos, um Joint Venture, eles falam uns nomes aí, cada hora é um termo. Eu falo “gente, eu não tenho restrição nenhuma”.
HL: Você não é fechado para propostas.
AR: Não, não, eu não tenho a boca muito grande, quer dizer, eu sei dividir, mas dentro do razoável, né, porque tem gente que não quer dividir, ele quer te tomar o negócio. O cara vem, entra e num instante você está fora, mas não é assim, eu acho que se for realmente uma parceria saudável, quer seja com empresa estrangeira ou nacional, a gente está aberto a discutir e caminhar junto, que eu acho que é aquela história da figura de mérito. Quer dizer, para você crescer sua figura de mérito, sua capacidade de realizar, você tem que juntar pessoas, senão você vai ficar do seu tamanho o resto da vida, a sua capacidade de fazer sendo uma. Agora, eu mais o fulano, mais outros técnicos, engenheiros, sócio etc., a minha capacidade de realizar aumenta bastante. E assim vai, vai crescendo a figura de mérito da empresa, do negócio, da pessoa etc.
HL: Porque é uma Indústria que precisa desse investimento anual, mais ou menos 60 milhões todos anos, ou não, não precisa disso todo ano?
AR: Eu acho o seguinte, que o investimento é diretamente proporcional ao que você quer fazer e ao mercado. Você tem um investimento básico, que esse não tem jeito, você tem que ter laboratório, porque se o seu negócio é pesquisa, desenvolver novas tecnologias, você tem que investir naquele ali, não tem outro jeito, tem que ter laboratório, tem que ter técnico, tem que ter doutor, mestre, engenheiros, técnico especializado e equipamento, esse é um investimento básico. Agora, o investimento maior é investimento da produção, são linhas de produção, às vezes, complexas para produzir alguns produtos nossos, mas aí depende do mercado. Se o mercado falar “eu quero comprar uma tonelada por dia”, vamos colocar a fábrica aí, investimento pesado.
HL: E esses equipamentos, tem como você comprar aqui no Brasil ou tem que importar tudo?
AR: Alguns tem, e inclusive um que estava atrasando uma linha de montagem nossa, que deve chegar no final de novembro, da China, eu consegui uma empresa brasileira aqui que vai entregar com 30 dias. É questão de você procurar.
HL: E ver, fazer parcerias.
AR: Aí alguém fala “mas, o da China está chegando”, só que quem tem 2 tem 1, e quem tem 1 não tem nenhum. O que abunda não prejudica (risos).
HL: Exatamente, é isso aí, Ailton.
AR: Não é um equipamento caríssimo, então compra mais um e põe lá.
HL: Porque se o outro estragar, tem ali.
AR: Pelo menos vai agilizar, vai otimizar o processo, nós vamos antecipar o faturamento etc.
HL: E para a Nanum continuar crescendo, isso é independente do mercado ou não, o mercado precisa estar bom, o investidor precisa estar com gás, com apetite, ou ela cresce independentemente dessas situações geracionais aí de ambientes de negócios?
AR: A nossa empresa, a Nanum, no ponto atual e mesmo depois que ela lançar algum produto para o mercado de varejo, para o consumidor final, ela é uma empresa que não depende disso. Se a população está recebendo bolsa-família, se não está, se vai comprar um saco pipoca… o nosso negócio é B2B, e não é B2B só no Brasil, é no mercado internacional. Então, é preciso ter uma queda de qualidade ou de competitividade muito grande, ou ter uma crise mundial muito grande para poder afetar, vamos assim, ferir de morte.
HL: Mesmo assim, né, muita gente sobreviveu à pandemia, inclusive você.
AR: Inclusive a Clamper, exatamente. Sobrevivemos e saímos por cima. Então, depende do mercado, e a função aí do gestor, do empreendedor, é exatamente saber modular, saber não botar os ovos todos numa cesta só.
HL: Ou seja, se a tempestade estiver muito grande, encosta o barquinho, espera passar.
AR: Exatamente. Ó, veio um furacão, encosta aqui, deixa passar. Passou, vai embora, não adianta brigar com gigante. Colocar tudo numa cesta só, os ovos caíram e acabou. Agora, se você distribui bem os ovos em várias cestas, vários mercados, produtos, você consegue uma modulação que te permite uma sobrevivência digna.
HL: Ah, muito legal. Ailton, adorei a conversa, acredita que a gente já tem que terminar? Depois você volta aqui mais.
AR: A prova está boa.
HL: Não está? Eu nem senti, agora que eu estou olhando aqui o tempo, que a gente tem que terminar. Olha, quero te agradecer demais viu, vários ensinamentos aqui, um mercado muito novo para gente, não é? Mas eu acho que a gente tem que estar sempre se reinventando, experimentando e vendo essas novas possibilidades, que é assim que o Brasil vai crescer, diversificando a sua Indústria, a sua economia, os seus produtos. Parabéns.
AR: Obrigado.
HL: E você está aí se reinventando sempre, né, 78 anos, né?
AR: 78 anos.
HL: Ih, entreguei a sua idade aqui (risos). Você já está há quantos anos na lida? Você já está há mais de 50 anos trabalhando, né?
AR: Eu comecei como engraxate quando tinha 12 anos. Eu tinha dois pontos de engraxate lá no Barro Preto, com 12 anos eu já ganhava meu dinheiro. Aliás, eu trouxe um livro aqui, que eu vou te dar, eu não sei se você recebeu o meu livro.
HL: Não, recebi não.
AR: Eu fiz um livro quando a Clamper fez 30 anos, eu fiz um livro que conta minha história. O seu eu vou te entregar em mãos aqui, um homem de energia.
HL: Obrigada.
AR: Esse livro aqui conta uma minha trajetória de vida, obviamente que não conta tudo, porque tem coisa que não pode contar (risos)
HL: Alguns tombos a gente conta, né. Que legal.
AR: Esse livro aí tem uma história minha, na época eu trabalhava no Ministério da Aeronáutica.
HL: Tem toda sua trajetória?
AR: Tem. Tem Cemig, empresário, tem depoimento de vários amigos aí do Colégio Estadual Central, estudei lá.
HL: Você vê que é uma trajetória, né, a gente vai… Olha o Aílton aqui. Você era bom estudante? Tirava boas notas?
AR: Eu fazia para o gasto. Sabe aquele cara que dá um arrotão e fala assim “educação zero, saúde dez, média cinco, passei”.
HL: A gente vê os melhores da turma, eles não são os que se evidenciam no mercado, né.
AR: Eu sempre fui um aluno bom, eu só não era muito dedicado, entendeu? Eu fazia para o gasto e passava (risos)
HL: Ótimo, Ailton. Olha, muito obrigada pelo livro, vou ler, e realmente é uma história, né, de engraxate a um industrial aí de ponta, não é todo dia que aparece e que vira, então é muito trabalho sempre
AR: Tem um depoimento aqui no início, é a pessoa que foi meu chefe lá no Ministério Aeronáutico, que eu trabalhei lá no Departamento de Eletrônica e tive a oportunidade de trabalhar na montagem do 1º Bandeirante, ao lado do Ozires.
HL: Ah sim, do ex-ministro Ozires Silva.
AR: Na formação da Embraer. Eu tinha 24, 25 anos, garoto Novo, e esse senhor aqui, Tenente Brigadeiro do Ar Sérgio Xavier Ferolla foi Ministro, Presidente do Superior do Tribunal Militar, piloto de caça formado pelo ITA, ele foi meu chefe. E aí eu perguntei se ele queria fazer parte do meu livro, então ele escreveu aqui um capítulo “Renovar esperanças em meio a tantos horizontes nebulosos”, falou sobre mim aqui, e aqui no final tem vários depoimentos do Anastasia, do Alberto Pinto Coelho, que foi meu colega de sala, Colégio Estadual, colega de carteira.
HL: Então, assim, pessoas que participaram da sua vida e sabem muito bem todos os altos e baixos.
AR: Ninguém falou mal de mim não, se tivesse falado eu não publicava (risos).
HL: (risos) Ailton, muito obrigada mais uma vez, e que você venha aqui várias vezes, eu quero ver a Nanum cada vez mais voando.