A temporada Minas S/A Desenvolvimento e Construção tem hoje o terceiro episódio com João Marcelo Dieguez, prefeito de Nova Lima, nas plataformas de O TEMPO.
Com 323 anos, Nova Lima (MG) tem mais de 50% do seu território preservado em mata nativa.
“Aqui o nosso bioma é Mata Atlântica e Cerrado. Isso é muito positivo do aspecto da qualidade de vida e a cidade está passando por uma grande transformação”, diz Dieguez.
Para o prefeito, o aspecto da mobilidade se coloca como um dos grandes desafios.
“Vamos pôr algo em torno de R$ 350 milhões de investimento do município de Nova Lima em obras de mobilidade”, calcula.
Dieguez conta que no primeiro ano de governo, a prefeitura executou R$ 700 milhões no que se refere a políticas públicas, obras e serviços.
“No ano passado a gente executou R$ 1,4 bilhão. De fato a gente está investindo na cidade”, afirma o prefeito de Nova Lima.
A seguir, a entrevista na íntegra:
HL: Eu queria que você se apresentasse primeiro para o pessoal, não é todo dia que a gente encontra um prefeito com apenas 32 anos e já tendo que administrar uma das cidades que tem uma das maiores economias do Estado, né. Como é a sua trajetória? Você é de Nova Lima/MG? O que deu na sua cabeça de ir para política?
JM: Bom, eu sou daqui de Nova Lima/MG mesmo, do centro da cidade, minha família é daqui e nunca teve envolvimento com política, né, foi a minha história de vida que me trouxe até aqui, e eu vou resumir de maneira bem rápida. Eu estou com 32 anos, né, eu sou Técnico em Administração na escola do Sebrae, aqui de Nova Lima, sou Bacharel em Administração, com linha de formação para Comércio Exterior, onde cheguei a ter oportunidade de trabalhar, por exemplo, na Vale, e me pós-graduei, me especializei em Administração Pública na oportunidade que tive de ser Vice-prefeito, enquanto Vice-prefeito da nossa cidade. E o que me levou para a política, apesar das experiências profissionais que tive na Santa Casa e na Vale, foi uma vocação mesmo que eu descobri ao longo da minha vida e que foi despertada ainda muito novo, como criança, sem nem saber o que era política, o que era prefeitura, o que era serviço público, mas com 7 anos de idade, eu falo que um presente da minha mãe mudou esse destino da minha vida, né. Minha mãe me deu de presente uma roupa de papai noel e com aquela roupa eu quis, numa brincadeira, ser papai noel para as outras crianças. Eu tinha 7 anos de idade, eu ainda acreditava em papai noel, mas eu quis ser papai noel para as outras crianças e a partir de uma brincadeira, ao longo do tempo, aquilo se transformou num projeto social, ao longo do tempo se formalizou como uma ONG que existe até hoje. Eu sou um voluntário, a ONG continua com as atividades e eu sou um voluntário da ONG, mas toda essa trajetória do papai noel mirim, que tem hoje projetos sociais durante todo o ano, foi o que despertou essa vocação minha para a política. Quando eu tinha uns 15 anos, a gente tinha uma força de mobilização jovem muito grande aqui na cidade, a gente mobilizava praticamente 600 jovens para fazer projeto social, atividade social, e aí quando eu tava com 18 anos esse grupo de jovem falou “João, está chegando eleição, a gente quer que você se candidate a Vereador, a gente se identifica
em você e não naqueles que, eventualmente, estavam lá naquela circunstância, né”, e aí eu falei “ah, poxa, se eu acho que eu posso contribuir de alguma forma, então vou encarar esse desafio, não vou ficar esperando não”. E foi engraçado, porque como eu disse, né, minha família não tem herança política, não tinha padrinho político nenhum. Quando eu comentei isso em casa minha mãe tomou um susto.
HL: Sua mãe faz o quê? Seu pai como chama?
JM: Meus pais, hoje, são aposentados da Indústria, mas tiveram uma trajetória… minha mãe, por exemplo, entrou como estagiária e aposentou com 38 anos de trabalho na antiga Morro Velho, hoje AngloGold. Minha mãe é química, aposentou com 20 anos de química e depois continuou…
HL: Aquela vida estável, totalmente planejada.
JM: CLT, carteira assinada, e, assim, o meu pai da mesma forma na Indústria. Meu pai fez carreira como comprador, mas aí percorreu o setor da mineração, também teve no setor automobilístico, mas sempre na Indústria como comprador. Então na hora que eu trouxe assim “olha, eu tô pensando, eu vou me candidatar a Vereador”, minha mãe falou “meu Deus, eu criei meu filho pra virar político”, naquela visão, muitas vezes, da sociedade, uma visão que coloca todos os políticos no mesmo balaio daqueles que não correspondem ou que são irresponsáveis, e aí vem essa preocupação, mas a visão da minha mãe foi o seguinte: ela pensou, conversou com meu pai, disse o seguinte “ó, ele quer viver isso, vão deixar viver, ele vai se frustrar, vai dar errado e aí pronto, ele viveu a experiência”.
HL: E volta para a nossa vida de CLT, de trabalhador. Como é o nome da sua mãe e do seu pai?
JM: Álida e Cláudio. É Álida, mas é lidinha, todo mundo conhece como lidinha.
HL: Álida e Cláudio. Fizeram a coisa certa, né, deixaram você andar com as próprias pernas.
JM: E eu fui pra eleição de Vereador, disputei ela com 20 anos de idade, 2 anos depois, porque nesse período tinha acabado de passar as eleições gerais e eu não tinha dinheiro para campanha, não tinha apadrinhamento, mas fui muito bem votado. Essa turma jovem abraçou a candidatura.
HL: Compareceram, né, sabiam que você era capaz de entregar mais.
JM: Exatamente, mas eu não me elegi. Eu fiquei entre os 10 mais votados, mas o meu partido político não atingiu o coeficiente eleitoral que me desse condição de ter uma cadeira na câmara, e isso foi interessante, porque…
HL: Que frustração, hein.
JM: Pois é, mas aí que está o ponto. A minha interpretação, numa eleição tão difícil, tão disputada, com pessoas que estavam há tantos anos no processo político e eu entrando ali naquele momento, me apresentando para a cidade, como eu já disse aqui, sem recurso para campanha, sem apadrinhamento político, a minha conclusão foi “eu não me elegi, mas eu venci a eleição. Eu cumpri um papel bonito, eu me apresentei para a cidade e eu venci a eleição”. Eu saí daquela eleição muito maior do que eu entrei politicamente, a cidade passou a conhecer quem era o João e quais eram suas ideias.
HL: É, você se apresentou e na outra eleição já sabiam quem era o João.
JM: Tanto que nesse período, foi quando eu fazia faculdade, aí foi antes da eleição, eu estava na Santa Casa, depois foi quando eu fui pra Vale, e nesse período eu me preparava para uma nova eleição de Vereador e o desafio era a montagem de partido, porque os partidos políticos não queriam me aceitar, aceitar minha afiliação, porque a minha expectativa de votação estava tão alta naquele momento e tinha risco de tirar a cadeira dos outros. Esse passou a ser um desafio, mas ainda assim foi possível e eu trabalhei na construção de uma candidatura a vereador e fui convidado para ser Vice-prefeito, e aceitei o convite, que foi uma experiência fantástica, nós vencemos a eleição e eu tive 4 anos dentro da Prefeitura, que foi aí o período que eu saí, me desliguei da Vale, vim para a Prefeitura. Na Prefeitura eu me dediquei de corpo e alma, porque tem muito Vice-prefeito que cumpre o papel, a função de só substituir o Prefeito na ausência dele. Eu decidi viver o governo, enfrentar os desafios juntos com a administração.
HL: Você teve presença de cena.
JM: Exatamente, estive por dentro de praticamente todas as grandes pautas, as grandes questões do Governo. Acompanhei, vivi, aprendi muito e foi essencial para que me desse condição de colocar meu nome como um candidato a Prefeito 4 anos depois. Então com 20 anos eu disputei uma eleição, não me elegi, com 24 eu disputei a segunda eleição já para Vice-prefeito, me elegi, e aos 28 anos eu tomei a decisão de colocar meu nome à disposição da cidade, de construir um projeto político com muito respeito a quem nos antecedeu, mas também apresentando novas ideias para a cidade, e a gente teve um sucesso eleitoral, a confiança da população, que é algo muito grandioso, uma responsabilidade muito grande, as pessoas delegam a você a administração do município. Então, resumidamente, essa é minha trajetória, que tem um pouco aí da minha formação profissional, das minhas experiências profissionais, da minha trajetória política e acima de tudo dessa vocação, né, que nasceu numa brincadeira de criança, que me permitiu conhecer desde muito novo um lado de Nova Lima que muita gente não sabe que existe, os projetos sociais me permitiram isso. Então resumidamente foi assim que eu cheguei aqui, claro que com apoio de umas centenas e milhares de pessoas que abraçaram, que acreditaram, ninguém faz nada sozinho, e se não fossem essas pessoas certamente isso não seria possível.
HL: João, agora falando da cidade. Nova Lima/MG é uma cidade grande, tem uma população que demanda várias obras, ela não somente depende de Nova Lima, mas Nova Lima, ligada aí a Belo Horizonte, muitas pessoas preferem morar em Nova Lima, como eu, que adoro morar aqui, acho que tem uma qualidade de vida incrível, olhar pras montanhas né. A gente tem um projeto agora que é um desafio de resolver, pelo menos em parte, o problema da mobilidade, porque Nova Lima tem só aquela saída ali e eu vejo que chega 5 horas da tarde, 4h30 já vai parando tudo, aí fica esse processo até 7 horas da noite. É um grande projeto de mobilidade, num pacote de 250 milhões de reais que Nova Lima tem para você pelo menos começar essa obra. Como é que está o projeto que todo mundo me pergunta “você vai falar com o Prefeito? Conversa com ele para ele descrever o que vai resolver aqui pra gente”.
JM: Nova Lima é uma cidade territorialmente maior que a capital, por exemplo, uma cidade que tem uma qualidade de vida, em virtude também das questões ambientais, é uma cidade que tem mais de 50% do seu território preservado em mata nativa. Aqui o nosso bioma é Mata Atlântica e Cerrado, então assim, isso é muito positivo do aspecto da qualidade de vida e a cidade está passando por uma grande transformação. A gente tem aqui no centro aquelas características de uma cidade do interior, é uma cidade histórica com os traços culturais, são 323 anos, mas a cidade não é só esse núcleo, é uma cidade polinucleada. Nós temos regiões em desenvolvimento como Jardim Canadá, nós temos a região da Lagoa dos Ingleses, nós temos a região de Honório Bicalho e nós temos a região da divisa com Belo Horizonte, onde nos últimos anos tem ocorrido uma grande migração de belorizontinos para Nova Lima por conta da qualidade de vida, por conta de Belo Horizonte estar praticamente todo ocupada também.
HL: Não tem mais como fazer muito prédio lá, o plano diretor também.
JM: Exatamente. E esse crescimento para Nova Lima traz, claro, muitos pontos positivos, mas também desafios e pontos a serem enfrentados, e o aspecto da mobilidade hoje se coloca para mim como um dos 3 grandes desafios do nosso município. Nova Lima tem uma única ligação com a capital, que é a MG-030, que é a veia principal de ligação, mas ela que ao longo dos anos se tornou praticamente saturada e a gente tem que construir alternativas para que esse desenvolvimento carregue consigo a qualidade de vida, que é um fator determinante na escolha das pessoas que desejam vir morar em Nova Lima. E a gente tem feito um grande trabalho de mobilidade urbana, esse pacote de 250 milhões é uma das ações junto a prefeitura de Belo Horizonte, eu já vou chegar nele, mas em paralelo a isso outras iniciativas tem sido muito importante. Exemplo: a estrada que liga Nova Lima a Sabará e que tem um braço de acesso à região leste da capital, ali na região hospitalar, quem deseja ir para aquela região.
HL: Vocês também estão fazendo obras lá.
JM: Exatamente. Essa é uma obra, que é uma rodovia estadual, a gente repassou o recurso, a obra chegou a ser iniciada, em determinado momento o DR optou por delegar o trecho paro o município, nós estamos exatamente nessa etapa, e assim que o trecho nos for delegado o município de Nova Lima vai executar essa obra, mas é uma obra que já iniciou e que já teve até uma parte executada e nós vamos retomar ela agora pra concluir. E por que ela é importante? Porque as pessoas que desejam ir, por exemplo, para essa região leste da região hospitalar de Belo Horizonte e que hoje tem como única alternativa a MG-030, já é um primeiro desafogo, não precisa passar lá. A segunda obra que é muito importante nesse sentido é a ligação da Rio de Peixe, que é uma estrada que liga a região central aqui de Honório Bicalho, especificamente, ao Jardim Canadá, por dentro de Nova Lima. Hoje quem deseja ir para o Jardim Canadá, por Nova Lima ou por Honório Bicalho, tem que necessariamente passar lá no BH Shopping, ir lá dentro de Belo Horizonte e voltar. Com essa via, que é uma via de 22 quilômetros, a Vale vai arcar com 16 quilômetros e o município com o restante, é uma conexão direta. Essa obra já está em fase final de projeto, muito próximo de ser licitada. A terceira intervenção, que é muito importante também, é uma avenida paralela à MG-30, logo depois do posto da polícia militar rodoviária, que sai lá no Jardim da Torre, é a avenida Doutor Flávio Guimarães. Os principais engarrafamentos da MG-030 ocorrem no colégio Santo Agostinho para cima.
HL: Aquela região de condomínios fechados.
JM: Exatamente. E ali você cria uma alternativa paralela, também, de conexão à capital. Então antes de chegar no projeto ali dos 230 milhões, nós já temos aqui 3 alternativas que vão desafogar de maneira muito positiva a MG-030.
HL: E isso aí demora muito? Essas obras…
JM: Então, a Rio de Peixe está terminando o projeto executivo, a alternativa Jardim da Torre, que é a Doutor Flávio Guimarães já está com contrato assinado, ordem de serviço dada, a empresa está se mobilizando para iniciar as obras, mas já com ordem de serviço e contrato assinado, e a Nova Lima/Sabará o Estado está fazendo a delegação do trecho para o município concluir a obra. E aí a gente chega, agora, depois dessas 3 alternativas que vão contribuir exatamente ali na região da divisa entre Nova Lima e Belo Horizonte, onde a Prefeitura de Nova Lima e a Prefeitura de Belo Horizonte formalizaram um compromisso de 4 grandes intervenções que vão, sobremaneira, melhorar ali na região o trânsito, duas de responsabilidade do nosso município, duas de responsabilidade do município de Belo Horizonte. Quais são essas obras? O município de Nova Lima vai realizar primeiro um viaduto ferradura, para quem está saindo da MG-030 e deseja ir para a BR-356 não ter que passar lá no BH shopping, ele vai sair à direita, um viaduto ferradura encaixa embaixo.
HL: O pessoal fica na dúvida de onde que sai, né? É ali onde era o 6 pistas que vocês fizeram aquela obra ou é pela linha férrea, como é?
JM: Você passa debaixo do viaduto, da linha férrea, de Nova Lima sentido à Belo Horizonte. Passou ali debaixo tem aquela reta que desce, que tem até uma trincheira por baixo, é ali, ele sai à direita, passa por cima…
HL: Ah, ele vai passar por cima então daquele viaduto.
JM: Exatamente, ele sai à direita. Essa é uma obra que a gente tem projeto executivo pronto e que vamos executar com contrapartidas urbanísticas dos empreendimentos daquela região, já tem umas contrapartidas. Então, olha só, nós temos projeto executivo pronto e o recurso. O que está pendente… porque esse braço de saída é no cercadinho, que é uma área de preservação, que já houve uma desafetação.
HL: Desafetação é retirada…
JM: Desafetação é permitir uma intervenção numa área de preservação, e já foi feita a desafetação por conta até de outras obras que já foram feitas ali, aquela alça que vem da Leroy Merlin, e já foi previsto isso, nós estamos avaliando agora, para iniciar a obra só falta isso, basicamente, nós vamos ampliar esses 5 a 10 metros de desafetação ou se nós vamos adequar o projeto dentro do que já foi desafetado, e a equipe técnica está cuidando disso, é a única pendência que a gente tem para iniciar essa obra. É uma obra de impacto muito grande ali.
HL: Você acha que essa obra começa esse ano ainda ou depende muito de aprovação da Assembleia Legislativa, aprovação de licenciamento ambiental?
JM: A expectativa nossa é que sim, porque a gente tem o recurso já para isso e o projeto pronto. Agora a gente não pode iniciar uma obra que vai passar por uma área que não foi desafetada.
HL: É, não tem jeito.
JM: A gente tem duas alternativas. Ou vamos desafetar esse pequeno trecho ou vamos encaixar o projeto dentro do que é possível, e aí eu estou otimista com isso. Essa é a primeira obra de responsabilidade do nosso município. A segunda é o alargamento daquela alça que vem da Leroy Merlin e que encaixa na nossa cidade. Quem está chegando, né, pela 040 pode subir ali. E as duas obras de responsabilidade da prefeitura de BH já são mais próximas ao BH Shopping. A primeira delas é o alargamento daquele viaduto do BH shopping mesmo.
HL: Aquele que faz a curvinha pra cair na Raja Gabaglia.
JM Quem sobe ou desce pra Raja, hoje, que tem duas pistas, passará a ter três pistas. Essa é a primeira obra da prefeitura de BH e a segunda é um viaduto direcional que quem está subindo da Nossa Senhora do Carmo e quer vir pra Nova Lima, hoje tem que entrar naquela rotatória do BH Shopping, e não precisará, porque ele vai passar debaixo do viaduto do BH Shopping e aí vai vir um viaduto que vai passar por cima e conectar direto a MG-030. São essas 4 grandes obras. E aí vai chegar um determinado momento que nós vamos ter a prefeitura de Nova Lima, por exemplo, realizando obras de mobilidades em 3 municípios, porque todas essas obras, essas 4, são dentro do território de Belo Horizonte, e o asfaltamento Nova Lima/Sabará nós vamos executar ele por completo, o trecho de Nova Lima e trecho de Sabará/MG. Então nós vamos estar fazendo obra de mobilidade em Nova Lima, em Sabará, em Belo Horizonte, ou seja, nós estamos enfrentando o problema, a gente sabe o quanto que a população sofre diariamente naquele trânsito caótico.
HL: Se aconteceu um acidente, parou tudo, né.
JM: E são soluções que não acontecem no estalo de dedo de um dia para o outro, mas nós estamos enfrentando para criar alternativas como a Rio de Peixe, Nova Lima/Sabará, Jardim da Torre, mas também para atacar localmente lá fazendo parcerias. O município de Nova Lima vai estar executando obras em 3 municípios, é uma prefeitura executando obras em 3.
HL: É uma interferência enorme, não é? Tem que ter um diálogo aí e também vai ter que ter uma paciência da população na hora que começarem as obras. Você tem esperança que alguma dessas obras comecem ainda esse ano ou é muito difícil prever?
JM: A minha expectativa é o Jardim da Torre, e eu ainda tenho uma expectativa muito positiva com Nova Lima/Sabará e com essa ferradura.
HL: Qual que vai ser o volume total de investimentos para essa mobilidade toda?
JM: Olha, é um pacote aí… da parte de Nova Lima, a gente tem, aproximadamente, R$ 100 milhões nessa parceria com a Prefeitura de BH, mais uns R$ 80 milhões do Jardim da Torre, mais uns R$ 50 milhões de Nova Lima/Sabará. Nisso daí já deu R$ 230 milhões e a Rede Peixe é uma obra grande, mas a Vale vai arcar com uma parte. Eu não tenho os orçamentos aí, mas vamos pôr algo em torno de R$ 350 milhões de investimento do município de Nova Lima nessas obras de mobilidade. São obras estruturantes.
HL: Pelo menos já foi apresentado para a sociedade, é começar né. João, é lógico que a cidade tem várias outras frentes, tem uma arrecadação que você já calculou, ano passado, foi de um 1 bilhão e 200 milhões, vocês tiveram superávit, tiveram um investimento aí de 1 bilhão e 400 milhões. Como é que está agora, assim, qual que é uma outra frente que você vê que precisa ter investimentos? Vocês estão diversificando a economia, que ela era antes muito baseada na mineração, e conversando com seu pessoal da assessoria, a gente já vê que a mineração já é quarto lugar em arrecadação. Como é que hoje está dividida essa arrecadação da cidade?
JM: Bom, primeiro que Nova Lima tem uma arrecadação de fato privilegiada. Nós tivemos no último ano 1 bi e 200 milhões de arrecadação, mas tem duas questões que são muito importantes que eu gosto de tratar, que é o seguinte: a primeira delas foi quase que um mantra no meu governo, porque a Prefeitura vinha com vários superávits e acumulando caixa, é verdade que a prefeitura não é banco, esse dinheiro que a prefeitura arrecada é para ser revertido em políticas públicas, obras, serviços, qualidade de vida para a população, e quando a gente assumiu a Prefeitura no primeiro ano de Governo, por exemplo, a Prefeitura executou 700 milhões e o caixa só aumentando, e ano passado a gente executou 1 bi e 400. São duas prefeituras rodando, ou seja, a população começa a sentir o retorno dos impostos, né, do que é destinado para a prefeitura. De fato a gente tá investindo na cidade.
HL: Esse ano vocês estão investindo quanto? Qual que vai ser o orçamento?
JM: A previsão de arrecadação nossa cresce um pouco de R$ 1,2 bilhão para R$ 1,3 bilhão, e a expectativa nossa é executar o que a gente arrecada.
HL: R$ 1,3 bilhão para investir esse ano.
JM: Exatamente. Quando a gente fala em executar tudo não pode ser de qualquer forma, tem que ter responsabilidade. Por exemplo, a prefeitura, a gente assumiu ela com um gasto com pessoal em torno de 40%.
HL: 40% era a folha?
JM: Era a folha. De 35 a 40%.
HL: O que você fez com isso, com esse percentual?
JM: Esse valor já era um valor positivo perto do que tinha no passado. Já tínhamos enfrentado uma reforma administrativa dura que abaixou ali dos 54% para os 40%, mas nós conseguimos abaixar isso ainda mais. Hoje o nosso gasto com folha representa em torno de 30%, e foram várias medidas que nós tomamos para que isso fosse possível. Primeiro, nós exoneramos os servidores que já estavam aposentados e alguns deles, inclusive, com altos salários, mas oxigenamos o nosso quadro e a nossa folha. Segundo, fizemos um PDVI, um plano de demissão voluntário, que aí sim, principalmente profissionais de muito tempo de Prefeitura e de alto salário, isso tudo ajudou a enxugar nossa folha mais ainda. A gente tinha no município uma política de gratificações que permitia toda a folha do município ser gratificada em 50%, o que era uma loucura, aí nós reduzimos isso inicialmente a 4%.
HL: Passa a viver para pagar folha, né, como várias outras prefeituras em Minas Gerais.
JM: Exatamente. Nós reduzimos isso a 4% da folha e agora nós, em ano eleitoral, acabamos com as gratificações. Não existe gratificação na prefeitura, mais uma medida de coragem de um governo que entende que a cidade precisa ter recurso para investimentos. Então assim, a gente conseguiu ter medidas e em paralelo a isso a gente conseguiu construir um plano de carreira para o servidor que retomou o horizonte de crescimento, as possibilidades dele ter progressão na carreira, mas com uma responsabilidade fiscal e com uma trava de 35%
HL: Ah, tem um teto aí, né?
JM: Exatamente. A Constituição Federal nos permite chegar a 54%. Aqui em Nova Lima nós colocamos uma trava de 35%. Então o servidor tem horizonte de crescimento, mas o horizonte dele não é a qualquer custo, se o município não crescer, não tem como o servidor crescer. Com qualificação dos nossos servidores, capacitação, cursos, isso vai permitir com que o servidor trabalhe para que o município tenha uma arrecadação cada vez melhor, porque isso vai permitir ele crescer também.
HL: Que aí vai o valor agregado, né.
JM: A gente, hoje, tem uma responsabilidade fiscal e daí vem uma capacidade de investimento, por exemplo, nessas obras de infraestrutura que nós estamos falando, que vai refletir em mais atração de empregos, porque as empresas querem vir onde tem mobilidade.
HL: Senão ela começa a sair fora né. Não tem infraestrutura, não tem logística, tchau.
JM: Nova Lima está muito bem posicionada, às margens 040, tem área para crescer do lado da capital, mas se não tiver mobilidade esse crescimento vai ficar só na expectativa. Ou seja, esses investimentos vão gerar o quê? Atração de novos investimentos, que vão gerar aumento da arrecadação e esse círculo passa a girar. E para onde que a gente tá enxergando esse desenvolvimento? Nova Lima é uma cidade que tem sua história atrelada à mineração.
HL: Não tem como dissociar, e continua, não é? Vale, AngloGold, mineradoras de ferro e de ouro.
JM: São grandes proprietários das terras do município, inclusive, a Vale, por exemplo, continua operando.
HL: Que tem barragens, está descomissionando barragens.
JM: Exatamente, Então, a gente já vê um processo de diversificação econômica, quando a gente enxerga, hoje, as maiores receitas do município.
HL: Ou seja, comércio, serviço…
JM: Comércio e serviço representam praticamente 50%, 25/25, enquanto o Cefen, que o órgão que representa a mineração, representa 14% a 18% da nossa arrecadação.
HL: Que bom, não é, João Marcelo? A mineração também não vai ser pro resto da vida, ela tem também um um tempo de vida útil, as reservas minerais. Em todo lugar é assim, não é só aqui. Então a cidade precisa se preparar para outras vocações, como tecnologia, mão de obra capacitada para outras questões, né? Tecnologia eu vejo que você também aplica muito, está com muita inovação.
JM: Qual é a nossa lógica? É entender quais são as vocações econômicas do município, sejam elas naturais ou que se desenvolveram ao longo dos anos, e apostar nisso. Por exemplo, nós temos o setor do ecoturismo em Honório Bicalho e Macacos também, é uma vocação natural. Então a gente tem apostado nisso. Nós temos o setor da saúde, Nova Lima hoje tem as principais redes privadas de saúde de Minas Gerais.
HL: Tem ainda o hospital que vai ser inaugurado, né?
JM: Exatamente. Tem o Mater Dei que vai ser inaugurado, o grupo D’Or, que comprou o Biocor e tem interesse também em vir para o município, tem o Hospital Vila da Serra, então assim é um polo de saúde que tem se desenvolvido, sem contar várias outras clínicas e serviços de saúde, né. Então é outro olhar que a gente tem especial.
HL: É outra mão de obra, também, capacitada pra isso, né.
JM: Eu vou falar um pouco sobre como a gente tem enfrentado isso. Nós temos o Polo de Biotecnologia, especialmente na Lagoa dos Ingleses, que tem como grande âncora a Biomm, que é algo que a gente acredita muito, porque são empresas de alto valor agregado.
HL: E elas precisam ter uma cadeia de fornecedores perto, porque senão fica caro, né, João Marcelo?
JM: Exatamente. E é o que a gente quer atrair. E por que é muito positivo? Porque a empresa de baixo impacto poluidor e são empresas que vão gerar emprego, renda para a população, arrecadação para o município, ou seja, é um polo que a gente acredita muito.
HL: É, produção de insulina, por exemplo. Todo mundo tem alguma questão relacionada a insulina precisa, né. Então, assim, é uma indústria que pode só crescer ali.
JM: E o aspecto da tecnologia, que Nova Lima tem se desenvolvido especialmente na região ali do Vila da serra, muitas empresas de desenvolvimento tecnológico, ou seja, essas são as vocações. O que nós temos que trabalhar?
HL: E aí tem que ter mão de obra formada para isso, né. Eu vejo que vocês estão com curso de mandarim, eu falei assim “gente, chinês está tendo demanda, né, essa língua que é tão difícil”. Mandarim, inglês, espanhol, vocês estão capacitando, tem aula de graça para o pessoal?
JM: Nós temos um programa, que é o programa Nova Língua. Nós credenciamos as instituições privadas do município para oferecer o curso, e exatamente para quem mais precisa a gente paga 100% de bolsa.
HL: Porque é caríssimo você fazer um curso de inglês.
JM: Aulas de inglês, espanhol e mandarim. Por que mandarim? Hoje o principal parceiro comercial da Vale da mineração no Brasil é a China, e a gente não vai fechar os olhos para mineração por mais que a gente passe por um processo de diversificação.
HL: Ela vai continuar aí compondo pelo menos esses 50% na arrecadação, não vai cair disso.
JM: Exatamente, tem um horizonte ainda, mas aí são cursos para população que mais precisa bancados pelo município, mas mais do que isso, a gente tem hoje o maior programa de qualificação técnica da história da nossa cidade, gratuito, bolsa 100% pagas pelo município em parceria com Senai, Sebrae e Senac, grandes parceiros.
HL: São cursos que todo mundo quer fazer.
JM: E todos os cursos alinhados com essa vocação econômica. Curso de Enfermagem, Curso de Biotecnologia e Química, Curso de Administração, Marketing.
HL: Tem concorrência para esses cursos. Eu sei, porque tenho amigos que as crianças tem que tentar a bolsa, não é, para poder entrar. Aí vocês estão investindo? Vocês tem que investir, ou não, é um acordo de parceria…
JM: Investimento da prefeitura.
HL: Qual é o investimento?
JM: Para você ter uma ideia, a gente tem a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que é responsável por esses programas, quando a gente assumiu ela tinha um orçamento anual de R$ 3 milhões, R$ 3,5 milhões, em média, e aí eu não tô falando do governo A, B, C ou D, era a média que a Prefeitura investia. Nós saltamos esse investimento para R$ 20 milhões a R$ 28 milhões, o orçamento 6 a 7 vezes maior, investindo exatamente nisso, nas diversas parcerias que a gente tem. A gente tem, por exemplo, a primeira Escola Pública de Programação e Robótica para jovens e adultos.
HL: Que é outro setor também muito demandado.
JM: Está ligado à tecnologia. Programação é um emprego do futuro. Hoje um bom programador, na verdade um bom não, programador ruim de serviço, está bem empregado e bem pago.
HL: Não tem no mercado, né, todo mundo quer.
JM: E essas vagas estão surgindo em Nova Lima, a gente quer garantir que os nova-limenses tenham a oportunidade de ocupar essas vagas e por isso a gente criou essa escola.
HL: Saber operar o robô, saber fazer o robô, né?
JM: Essa escola é uma parceria com a FIEMG, que passa por: iniciação, aperfeiçoamento, curso técnico e curso pós-técnico.
HL: Pelo Sesi e Senai.
JM: Exatamente. O pessoal da FIEMG que esteve aqui, e no lançamento, falou que o profissional que percorrer essa trilha por completo é a “mosca do olho azul” para Programação e Robótica, você não encontra no mercado.
HL: E salários altos. Ele vai gastar aqui com o comércio, que vai pedir mais na indústria, mais pedidos, assim vai gerar uma roda, né.
JM: O poder de transformação dessa escola, você pegar o filho de um motoboy, a filha de uma cozinheira e transformar a vida dessas famílias que não teriam essa oportunidade é muito grande. Então a gente quer preparar os profissionais, só pra você ter uma ideia, essa escola nos custa 6 milhões de reais por ano. Para e pensa comigo, o orçamento todo da secretaria era 3 no passado, seria impossível oferecer oportunidades como essa, mas o nosso Governo tem uma convicção muito grande de que oportunidade é o que muda a vida das pessoas. O poder público não tem a obrigação de pegar uma criança, um jovem, e falar assim “você vai se transformar num empresário de sucesso”, “você vai se transformar num atleta, num músico, numa música de sucesso, num artista”. Ele tem a obrigação de oferecer oportunidade.
HL: Condições para ele se capacitar, e aí ele faz o que quer da vida dele, né?
JM: Cada um tem seus sonhos, cada um tem seus dons, cada um com suas limitações. O Poder Público tem a obrigação de oferecer oportunidade, que é o que nós estamos fazendo.
HL: Porque como você teve a oportunidade de estudar, numa família estável financeiramente, de chegar a uma mineradora do porte da Vale, as outras pessoas, muitas vezes, não têm essas oportunidades.
JM: Por exemplo, eu pude estudar inglês em escola particular e isso abriu portas para minha vida, inclusive isso foi determinante para eu me formar em Comércio Exterior e trabalhar numa mineradora como a Vale
HL: E ter a visão que você tem hoje.
JM: Exatamente. Agora, quantas outras pessoas não tiveram essa oportunidade? Nós estamos garantindo com o nosso programa Nova Língua. O curso técnico que eu fiz na escola do Sebrae é caro, que nem todos têm essa oportunidade. Esse mesmo curso técnico, o mesmo diploma que eu tenho, está incluído no nosso Programa Carreiras Tec+ para quem mais precisa. Então o poder de transformar a vida das pessoas está atrelado às oportunidades que elas têm, e é nisso que a gente acredita e que a gente apoia
HL: E melhoria dos salários, que a pessoa vai garantindo isso pra gerações futuras dela, né, e riqueza pra cidade.
JM: Exatamente. Então, assim, essa parte da qualificação e capacitação é o que a gente tem apostado muito.
HL: Dá para ampliar essa capacitação? Você tem um projeto assim de aumentar, de atingir mais pessoas?
JM: A gente quer nessa escola de Robótica trazer um curso Superior de Engenharia Robótica, para completar essa trilha de formação. E os cursos técnicos, a gente sempre atrela eles a necessidade do mercado e as vocações econômicas do município. Então, por exemplo, eu falei, nós temos Curso Técnico de Administração, de Biotecnologia, de Química, de Enfermagem, tudo muito atrelado a esse caminho que a gente está desenvolvendo
HL: Por exemplo, drone, né, a pessoa tem que saber como ela vai manipular ali o drone, é uma coisa altamente específica.
JM: E tudo isso está alinhado com as vocações econômicas do nosso município. Falar sobre isso é daquilo que me dá a maior satisfação, porque isso transforma de fato a vida das pessoas.
HL: Vai transformar a cidade, vai colocar ela num outro patamar. Na Segurança Pública também você está fazendo uma modificação, né, com as câmeras.
JM: É, Nova Lima realizou grandes investimentos, grandes parcerias também, por exemplo, nós fizemos a doação e a destinação de recurso para construção do novo quartel da Polícia Militar, nós vemos a doação do terreno e vamos repassar o recurso para agora a construção da Delegacia Regional da Polícia Civil, são parcerias importantes, porque todos trabalham pela segurança pública. Estamos fazendo um concurso, a gente citou aqui rapidamente, da Guarda Municipal, uma guarda que foi criada há mais de 20 anos, com 120 guardas. Ao longo dos anos a cidade cresceu e a guarda encolheu, porque tiveram guardas que tomaram outros rumos ou faleceram, várias circunstâncias, né, a guarda encolheu e a cidade cresceu. Nós estamos agora com um concurso aberto para 100 vagas, vamos ampliar nossa Guarda Municipal e tivemos a implantação do CIAP, que é o Centro Integrado de Ações Preventivas, que é o nosso vídeo monitoramento, que já recebemos duas premiações, uma em Curitiba/PR e outra em São Paulo/SP, em congressos de cidades inteligentes como um projeto inovador na área de segurança. Fomos extremamente pioneiros, instalamos mais de 400 câmeras pela cidade, em pontos estratégicos definidos junto com as polícias, as forças de segurança, câmeras de alta resolução com zoom 25 vezes, qualidade 4k, rotação 360, integração com sistemas das polícias para reconhecimento facial, para reconhecimento de placa, e isso às vezes gera muita dúvida na população, existe todo um protocolo…
HL: É, estou sendo monitorado aí, como é que vai ser, é um Big Brother (risos).
JM: Por exemplo, a maior forma de esclarecer isso: a pessoa deixou de pagar o IPVA, a câmera vai pegar e vai falar… não, o objetivo não é esse, o objetivo é aquele veículo que foi furtado, se ele entrou no município e a placa está lá, vai se acionar, e o sistema é inteligente, ele aciona imediatamente. Nós tivemos recentemente um episódio no bairro dos Cristais, em que uma pessoa… questão de tráfico de drogas, foi assassinada no bairro. Duas pessoas numa moto vieram e assassinaram ela na calçada, e eles estavam sem placa na moto, de capacete, e foram embora, e por mais que as câmeras iam monitorando o percurso não conseguiram identificar quem era, mas o sistema é tão inteligente que pela roupa das pessoas, ele conseguiu identificar no dia anterior que um dos dois estava com a mesma roupa, mais do que isso, visitando o local e planejando tudo e aí sem capacete. A pessoa foi lá, olhou, planejou tudo,
HL: Aí teve o reconhecimento facial.
JM: E aí conseguiu identificar.
HL: Não existe crime perfeito.
JM: Exatamente, mas por quê? Porque o sistema não é só um sistema de câmera, é um sistema inteligente e que ajudou nessa identificação.
HL: Ele vai fazendo essas comparações, desse histórico todo, cruzando.
JM: E isso, além de fazer Nova Lima ser premiada, né, no Congresso da Anciti, no Congresso Smart City, isso fez com que Nova Lima se colocasse como município de Minas Gerais em 1º lugar no índice de queda de crimes violentos. Ou seja, é um investimento trazendo resultado para a população.
HL: E aí o investidor que quer colocar uma fábrica, que quer fazer algum investimento em Minas Gerais, ele olha isso.
JM: Ele vai olhar os aspectos logísticos que a gente falou, educação e qualidade de vida, segurança, né.
HL: João, tem uma outra questão também que a gente lá no jornal tem recebido muito, é leitor/internauta falando sobre a questão da Mata Atlântica, que tem nessa região, você mesmo já falou, tem esse bioma aqui e muito se conversa em relação ao Vila da Serra, né. Vila da Serra, mais Vale do Sereno agora, né, aquela região toda ali que muitos querem morar e que tem tido um projeto de obras lá enorme. Como é que está essa questão, a fiscalização a as licenças ambientais para as construtoras irem e fazerem essas obras todas ali? Ali tem mata Atlântica?
JM: Bom, ali tem, né, boa parte do nosso território tem. Ali é o seguinte, primeira coisa, existe uma lei, que é o plano diretor do município, que aponta o desenvolvimento da cidade, que aponta para onde o município pode crescer e de que tamanho pode crescer, né, e que a legislação que está em vigor. Hoje eu não posso impedir um projeto, porque eu não quero. Se a legislação permite e segue o rito…
HL: A legislação aprovada pela Câmara Municipal…
JM: Exatamente, existe um trâmite. Já chegou ao ponto aqui no município da gente segurar alvará e a empresa entrar lá na justiça e falar “aqui, eu estou dentro da lei, você não pode me segurar não”, e a empresa está certa.
HL: Mas mesmo com a Mata Atlântica ali o pessoal está conseguindo?
JM: Porque é um loteamento que já foi aprovado no município. Então a legislação permite isso. Agora, um ponto que a gente tem que entender é o seguinte…
HL: É que tem a questão do adensamento, virar um Belvedere ali…
JM: A gente tem no Vila da Serra, que a gente está estruturando um grande projeto do Parque Jardim das Águas, que preserva todas as nascentes que tem ali, que preserva o entorno das nascentes e que é um parque praticamente duas vezes maior que o Parque Municipal de Belo Horizonte, e que muitas pessoas não conhecem, e que as pessoas têm que entender que existe vida fora do carro, que existe qualidade de vida fora do carro. Quando a gente tem ali no coração, é exatamente ali atrás da igreja.
HL: Ali na pandemia a gente fazia muita caminhada, né, ninguém podia ir pra academia. A água está toda ali, a gente via o rio ali dentro do parque, logo atrás da igreja. É enorme ali, salvou na pandemia.
JM: É um parque enorme, e as pessoas têm que conhecer e saber que existe essa qualidade de vida ali. Então, assim, o nosso projeto para o Vale do Sereno é integrar ele como um bairro onde as pessoas possam levar uma vida ao ar livre, que elas possam caminhar, que elas possam ir ao mercado a pé, que elas possam ir às compras a pé, que elas possam visitar a igreja a pé e que elas possam ir ao parque passear e divertir a pé, do que essa vida dentro do carro.
HL: Ter aonde respirar, né. Então ali já está tudo fechado, não tem mais construção ali?
JM: Nesta área do parque não tem como, mas na área que é o loteamento…
HL: Essa não tem jeito
JM: Não tem jeito, é a legislação.
HL: Vocês não pensam em mudar essa legislação?
JM: É a revisão pelo Plano Diretor que nós estamos fazendo e discutindo com a sociedade, né, que a gente já teve inclusive várias audiências públicas, a população tem que participar, que é outra coisa também, é muito fácil reclamar e é muito difícil participar. Quantas pessoas arregaçam as bandas, levantam da cadeira e participam de uma audiência. A sociedade tem que participar, porque essas discussões norteiam o caminho do desenvolvimento da cidade.
HL: O que ela quer, né, para a cidade.
JM: O plano diretor da cidade seria um plano participativo. Então, assim, a gente está amadurecendo isso para, em breve, poder encaminhar para câmera.
HL: Mas não sabe ainda se dá para ser esse ano?
JM: A ideia minha é ser esse ano. Gostaria que já tivesse enviado, inclusive, mas tem todo rito que tem que ser cumprido. As audiências públicas, as consultas…
HL: João, ainda tem vários outros desafios, né, para você fazer, o que você ainda pretende que você não conseguiu fazer do jeito que você queria na cidade? Que é um sonho seu e que precisa ter um entendimento, né. A gente vê a mobilidade ainda, né, tem as linhas de ônibus que você está aumentando, já vi agora muitos abrigos, é muito legal isso, né, mas os ônibus, eu já andei muito de ônibus em Nova Lima também e tinha uma demora enorme, porque são poucas linhas. Isso está mudando também? Essa questão para a população que não tem carro?
JM: Bom, primeiro, nesse aspecto da mobilidade, eu acho que a grande questão que se você me perguntasse, eu acreditava que eu já conseguisse ter isso mais avançado, mas os trâmites da administração… está aí o grande sonho, é o grande legado.
HL: Metrô a gente não vai ter mesmo, né?
JM: É uma luta né, é uma luta metropolitana. É muito difícil uma prefeitura como Nova Lima, né, entrar nesse processo, mas o nosso transporte público avançou muito, o nosso transporte público municipal. Nós fomos pioneiros aí no subsídio de tarifário, não levamos a tarifa única, levamos a tarifa de 2 reais, a gente tinha uma tarifa de R$ 4,30 a 6 e alguma coisa, 6,50, não sei, unificamos todas as tarifas do município em R$ 2,00, isso fez com que o nosso volume de passageiros aumentassem, num mês, de 150 mil para 500 mil.
HL: Isso sem interferir, tenho a perspectiva aí de novas linhas.
JM: Esse é o ponto que eu ia chegar. Mas para a gente implantar o subsídio, eu condicionei uma série de contrapartidas para o município, que são elas: novos ônibus, novos horários, novas linhas, um aplicativo de mobilidade urbana do transporte público que o cidadão consegue monitorar onde está cada ônibus, quanto tempo ele demora pra chegar no ponto que ele está, ele consegue comprar passagem no aplicativo.
HL: Igual acontece na Europa, né, que a gente fica assim “gente, não é possível que vai chegar aqui esse trem em sete minutos”, e chega, né. Dá para a gente sonhar com isso aqui também.
JM: Já aqui em Nova Lima a gente já tem no nosso aplicativo. E a integração, a integração é se ele pagou uma passagem, ele tem mais duas horas para pegar um outro ônibus em continuidade na rota dele, sem ter que pagar uma segunda passagem
HL: É, a gente já vê isso em outras cidades
JM: Exatamente. Isso tudo foi uma um pacote contrapartidas para que a gente implantasse o subsídio, e deu muito certo, nos permitiu agora colocar também a tarifa zerada aos domingos e feriados, para incentivar as atividades culturais, esportivas, sociais, religiosas, familiares. Então o transporte público municipal foi muito positivo. A gente criou uma linha de transporte que não existia para o bairro Jardim Serrano, nós criamos uma linha para Macacos, nós ampliamos o número de ônibus, se não me engano, de 42 para 55. Enfim, novos horários, porque houve um acréscimo da população.
HL: A pessoa fica “ah meu Deus, se passar nesse horário eu não tenho mais como ir de ônibus”.
JM: É. Então tudo isso foi muito positivo aí no transporte público municipal. Isso afeta muito quem gera emprego. Se você parar para pensar que o transporte intermunicipal é R$10 e o nosso é R$ 2.
HL: Ela vai falar assim” não dá, quem mora em Nova Lima, não dá para eu dar emprego aqui em Belo Horizonte”.
JM: Se você contrata alguém que usa o transporte municipal, por dia você vai pagar R$20,00, no outro você vai pagar R$4,00.
HL: Isso impacta demais a folha, aí a empresa já pensa duas vezes.
JM: Imagina uma empresa de 100 pessoas no horizonte de 1 ano. Se você fizer um cálculo desse, você vai ver que o transporte intermunicipal, ela vai gastar 500 mil no ano, e no municipal ela vai gastar 100.
HL: Aí a conta não fecha.
JM: É injeção na veia, para quem está empregando e para quem usa o transporte público municipal.
HL: Legal isso. A gente já está caminhando para o final, mas você tem outros projetos, né, a gente tem várias frentes na cidade que… 32 anos, você acha que dá para fazer muito mais na cidade? Para ela ficar muito mais atraente para outras empresas virem pra cá, para concorrer com uma qualidade de vida ainda melhor para as pessoas?
JM: Sem dúvida. A gente tem feito investimentos que a população aguarda… Nova Lima é uma cidade que tem desafios de hoje, do futuro e do passado. Nós estamos realizando obra na cidade que há 40 anos são esperadas, obras que quando eu nasci a população já esperava.
HL: Qual por exemplo?
JM: Por exemplo, uma obra da Bossoroca da Alvorada, que foi um desmoronamento que há 40 anos essas famílias vivem em risco e que ninguém teve coragem de encarar isso, e nós estamos executando a obra. O próprio asfaltamento que liga Nova Lima a Sabará, que é outra obra de 40 anos. Fizemos intervenções como o espaço cultural, que era um grande terrão, que as pessoas viviam na lama no período chuvoso e na poeira no período de seca, que virou uma grande esplanada cultural que tem eventos, que têm atividades esportivas, culturais, que as famílias vão pra lá no final de semana, uma obra aguardada há 30, 40 anos pela cidade também.
HL: Até mesmo a ocupação da cidade, né, a gente vê em várias outras cidades aglomerados que vão se formando em relação ao centro da cidade que vão perdendo o controle, né, e aí depois vem problema de enchente, tudo e aquela tragédia toda. Você está fazendo esse planejamento aqui para isso não acontecer
JM: Exatamente, muitos desafios, né. A ocupação, muitas vezes, é mais acelerada do que o poder de resposta do poder público, mas não tem outra alternativa que não seja encarar esses desafios. É o que eu falei, a gente encara problemas de 10, 20, 30, 40 anos atrás, problemas que surgem hoje e tem que ter um horizonte de futuro. Qual a Nova Lima a gente quer em 2030? Qual Nova Lima a gente quer em 2040? Onde a gente quer chegar? Eu falo que essa experiência minha de prefeito é como uma maratona 4 por 100, e na hora que eu pego o bastão, eu tenho que correr e entregar o meu máximo, sabendo que daqui a pouco eu vou passar para frente e que quem me antecedeu fez o máximo dele, no modo dele, ao tempo dele. Para a cidade chegar aonde a gente quer chegar hoje é a contribuição de todo mundo, e que eu tenho que olhar é lá pra frente, que daqui a pouco eu vou passar um bastão.
HL: E você vai continuar vivendo em Nova Lima.
JM: Exatamente, que é onde minha família vive, é onde eu escolhi viver, onde eu me casei e quero construir minha família. Então é dessa forma.
HL: E esse desafio todo, você fala em 2030, 2040, aí ao mesmo tempo tem esse programa todo de descarbonização, que a cidade tem que estar alinhada também para ser atraente para outras empresas, né? A questão de renda, emprego, não é, quer dizer, você tem que estar sempre conseguindo novas formas de melhorar.
JM: É, não é atoa que a gente tem um olhar muito especial para a Educação Básica. Nova Lima, hoje, a educação pública municipal é de altíssima qualidade, não perde em nada para a rede privada, a gente tem aqui, por exemplo, no contraturno escolar, que é onde os alunos têm aquelas atividades de esporte, artes, dança, aula de inglês, a gente tem um projeto de imersão bilíngue, que ao invés dele ter a aula de inglês, ele passa a ter todo o contraturno na língua inglesa. Ele passa a ter aulas de esportes em inglês, aula de artes em inglês, a aula é ministrada em inglês, a identificação da escola fica em inglês, a plaquinha do banheiro. Então é uma imersão bilíngue, que é algo extremamente pioneiro. A gente fez no ano passado em uma escola, deu muito certo, esse ano nós ampliamos para 15.
HL: E são quantas escolas que você quer ampliar isso?
JM: Todas as escolas do fundamental a gente já tem. Não conseguimos atingir todos os alunos, o meu sonho é esse, que a gente consiga ter por completo. E a gente vai ampliando na medida em que a gente está… mas enfim, é aquela oportunidade do inglês, que a gente falou, desde a educação básica, não só da aula de inglês, mas de uma imersão bilíngue, as outras disciplinas sendo ministradas em inglês, ou seja, é esse olhar para o futuro. Qual nova-limense que a gente quer? Hoje a alimentação das nossas escolas é de altíssimo nível, é equilibrado, os alunos só alimentam com nutricionista, as frutas são morango, kiwi uva, pêra, tem tilápia, cogumelo chitaque, esse é o nível da nossa alimentação, coisas que muitas vezes a gente não tem condição de ter na nossa própria casa e as nossas crianças têm. A gente oferece todo material escolar, todo uniforme, inclusive o tênis e o agasalho para o aluno, nós fornecemos tablets para todos os alunos, computador para todos os professores, lousa digital em todas salas de aula, uma verdadeira revolução tecnológica. Hoje o nosso aluno, ele chega na escola, ele tem o faceSchool, que ele mostra a carinha dele, o pai recebe na hora no celular que o filho dele registrou presença ou que saiu da escola.
HL: Ah, tem um aplicativo pra mostrar isso tudo.
JM: Exatamente, que monitora a presença. Nova Lima ficou em primeiro lugar em Minas Gerais como a cidade com maior índice de alfabetização, 98%, sendo a primeira cidade de Minas Gerais. Nós fizemos um programa de recuperação pós-pandemia, o Saber Mais, com um horário a mais para os alunos que tinham dificuldade.
HL: É, que foi um problema, né?
JM: Exatamente. Nós fomos premiados em Portugal com o projeto que é o CPP Itinerante. O que é o CPP Itinerante? É o centro psicopedagógico que recebe os alunos com mais dificuldade, mas nem todos conseguem se locomover. Nós passamos a levar o CPP para dentro das escolas para ajudar aqueles alunos com mais dificuldade a se desenvolver. Criamos o prêmio IDEB. O que é o prêmio IDEB. IDEB é a Avaliação Nacional da Educação, que estabelece metas para todas as escolas, para os municípios. Aqui em Nova Lima a gente bonifica o professor da escola que atinge a meta com 1 salário.
HL: Ah, tem a meritocracia.
JM: E se toda rede municipal atingir a meta, a gente bonifica com um segundo salário. Ou seja, a gente incentiva os professores a atingir as metas estabelecidas.
HL: É, porque a educação não é só o aluno, né, o professor também tem que estar com vontade e sendo bem remunerado para isso.
JM: Nós criamos a Casa do Educador, que é um projeto que eu já vi coisas parecidas no Rio Grande do Sul e no Ceará, que é um espaço voltado exclusivamente para o bem-estar do profissional da educação Lá ele tem curso de capacitação e qualificação, lá ele tem atendimento jurídico, atendimento terapêutico, faz massagem, é focado no bem-estar do professor. Então isso tudo leva a gente a ser a cidade em primeiro lugar em Minas Gerais.
HL: E é pela educação que vai diminuindo essa má distribuição de renda, que é um problema enorme do Brasil.
JM: Porque a gente forma melhor os nossos jovens, adultos e consequentemente os cidadãos, os profissionais, e faz essa transformação na cidade.