Fomos até o Chile, conhecer uma das mais jovens e promissoras categorias do automobilismo: a Fórmula E, com monopostos 100% elétricos. Em sua quinta temporada apenas, a categoria desponta como um laboratório cada vez maior para o desenvolvimento de produtos das montadoras. A Nissan é a caçula delas, sendo a primeira marca japonesa a apostar na Fórmula E, mas outras fabricantes, como Audi, BMW, Jaguar, Mahindra e DS, já participam da disputa. Na próxima temporada, Mercedes e Porsche devem ser as estreantes. A nova categoria ainda não tem, nem de longe, toda a pompa e o apelo emocional que a Fórmula 1 tem, mas a cada ano tem ganhado mais popularidade, sobretudo entre os jovens.
Acompanhamos a terceira etapa da atual temporada, sempre disputada em circuitos de rua, no Parque O’Higgins, em Santiago. Na pista, o que logo chama atenção é o barulho. No lugar do ronco alto do motor a combustão, os bólidos elétricos equipados com motores de até 250 kW (cerca de 340 cv) são bem “silenciosos”, digamos. Além do rolamento do pneus, o único barulho que se ouve é um ruído estridente, parecido com o de um liquidificador ligado. A velocidade máxima chega a 280 km/h, e é isso o que de certa forma empolga quem está na arquibancada. “São duas fórmulas diferentes em conceito. Na F-1, é mais velocidade e potência. Aqui é mais estratégia e eficiência. Vence quem consegue acelerar mais gastando menos energia da bateria”, comenta Juan Manuel Hoyos, diretor de marketing da Nissan para a América Latina.
Formato inusitado
Na “Fórmula 1 dos carros elétricos”, não há pit stop. Os pneus fornecidos pela Michelin são normais de carro de rua, aro 18, e cada piloto pode usar somente dois jogos em cada etapa da temporada. As sessões de classificação e a corrida são disputadas num único dia (sempre aos sábados).
No treino, os pilotos são divididos em quatro grupos, e os seis melhores tempos disputam a superpole, quando cada piloto tem direito a cravar apenas uma volta rápida. Quem larga em primeiro já soma três pontos no campeonato. Em vez de números de voltas, na Fórmula E todas as provas são disputadas por tempo. São sempre 45 minutos mais uma volta.
“Se você não pensar no barulho, é um carro que te dá muitas reações importantes, mas a mentalidade é bem diferente. A tecnologia na F-1 é mais para o lado da aerodinâmica. Aqui, é um carro que anda com pneu de rua, mais pesado, com menos potência e quase nada de carga aerodinâmica. Uma corrida de Fórmula E parece com kart indoor, onde você larga e tudo acontece ao mesmo tempo. Não é uma categoria fácil”, afirma Felipe Massa, vice-campeão da F-1 em 2008, pela Ferrari. Além dele, mais dois brasileiros ex-pilotos da Fórmula 1 participam da categoria: Nelsinho Piquet, pela equipe Jaguar Racing, e Lucas Di Grassi, que veste o macacão da Audi.
Elétricos serão mais baratos que carros a combustão em 2025
Líder mundial na venda de veículos elétricos com o Leaf, a Nissan acredita que o preço do carro elétrico seja mais em conta do que se possa imaginar em relação a um veículo a combustão mais rápido. “A consultoria financeira Morgan Stanley afirmou que, até meados de 2020, isso vai acontecer”, atesta Juan Manuel Hoyos, diretor de marketing da Nissan para América Latina.
Para Hoyos, até lá, os custos de homologação dos veículos a combustão interna vão ser cada vez maiores nos países desenvolvidos, dando vantagem aos elétricos, que atualmente têm preço de utilitários-esportivos médios. No Brasil, a Nissan já iniciou a pré-venda da segunda geração do Leaf, que desembarca no país no fim do primeiro semestre custando R$ 178,4 mil. “Já tivemos 50 interessados na compra do carro, que oferece o mais alto nível de tecnologia da nossa marca. Por enquanto, não estamos preocupados com o número de vendas. O Leaf veio para ser um carro de imagem da marca”, explicou Hoyos.
Intenção de troca
De acordo com o executivo, pesquisas internas feitas pela Nissan antes de decidir trazer o Leaf para o Brasil apontavam que oito entre dez latino-americanos estão dispostos a comprar um carro elétrico. “As pessoas topam, estão dispostas a participar dessa transformação”, analisa Hoyos.
O estudo, no entanto, não levou em conta a faixa de preço do elétrico aos potenciais clientes. “Sabemos que, conhecendo o preço, o Leaf é um carro de nicho ainda, mas, no futuro, o preço não será mais empecilho para a compra”, aponta. Além do custo, 75% dos entrevistados pela Nissan consideram a falta de infraestrutura, tal como de pontos de recarga, como uma das maiores barreiras para a compra de um elétrico.
BH está no radar da categoria
Lucas Di Grassi, um dos três brasileiros que disputam a Fórmula E, está engajado no processo para trazer uma prova da categoria ao país. São Paulo e Belo Horizonte são fortes candidatas a sediar o evento já no ano que vem.
“Vai ter no Brasil, hoje eu diria que a chance de ter em 2020 é de 50%. A gente está trabalhando bastante para isso, já desenhei uma pista para São Paulo, outra para Belo Horizonte”, revelou o piloto. Segundo Di Grassi, o circuito de rua na capital mineira seria no entorno do Mineirão. “Já fiz um esboço do traçado, mas não posso mostrar ainda porque precisa de autorização da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). A meu ver, seria um lugar viável”, disse. Em São Paulo, o projeto da pista de rua foi desenhado para a região do Parque do Ibirapuera, segundo Di Grassi. “O grande desafio é fazer um evento internacional, importante, mas sem uso de dinheiro público. A gente precisa trazer recurso, não tirar recurso dos Estados. Então, temos que achar parceiros para fazer a Fórmula E no Brasil, e é nisso que estamos trabalhando”, conta o brasileiro.
Campeão da categoria na temporada 2016/2017 pela equipe Audi, Di Grassi acredita a Fórmula E é apenas a cereja do bolo no processo de eletrificação dos automóveis.
“Não faz mais sentido você investir em esporte a motor com carro a combustão, mesmo porque carro a combustão, daqui a dez ou 15 anos, não vai ser mais vendido. Então, por isso que a gente já tem tanta montadora na Fórmula E. Eles vão ter que produzir carro elétrico em larga escala, então, por isso estão investindo aqui para desenvolver seus produtos” finaliza o piloto, de 34 anos.
Saiba mais
Evolução
Com as baterias com autonomia limitada, até o ano passado, cada equipe podia utilizar dois carros por corrida. Na atual temporada, é permitido apenas um monoposto por prova.
Balança
Segundo Michael Carcamo, diretor global da Nismo Motorsports, o motor elétrico do carro da Fórmula E pesa cerca de 20 kg para compensar o peso das baterias, com quase 400 kg.
Calendário
A Fórmula E em 2019 terá 11 etapas. A prova do Chile é a única realizada na América do Sul.
*O jornalista viajou a convite da Nissan