População carcerária

80% dos presos não têm documentos básicos, aponta CNJ

A falta desses documentos, como CPF, certidão de nascimento, RG e carteira de trabalho, gera prejuízos aos presidiários

Por Agência Estado
Publicado em 22 de julho de 2019 | 10:42
 
 
MA - SÃO LUÍS/VIOLÊNCIA - CIDADES - Detentos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão, nesta segunda-feira. Uma comitiva de senadores da Comissão de Direitos Humanos fez, nesta segunda-feira, 13, uma visita à Penitenciária com o objetivo de verificar a situação do presídio e as condições dos presos. Os senadores permaneceram três horas no presídio. 13/01/2014 - Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO CONTEÚDO ESTADÃO CONTEÚDO

Estudo inédito do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta que apenas cinco Estados do país têm controle da documentação pessoal das suas respectivas populações carcerárias.

Segundo o presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ, ministro Dias Toffoli, 80% dos presos, calculados em 797 mil pessoas, não têm documentos básicos necessários para o exercício da cidadania.

O CNJ considera documentos básicos carteira de trabalho, registro de identidade, certidão de nascimento, título de eleitor e CPF. O jornal "O Estado de S. Paulo" teve acesso a detalhes do levantamento, feito para subsidiar políticas públicas voltadas aos detentos. 

A falta desses documentos, segundo o conselho, gera prejuízos aos presidiários. Sem CPF, por exemplo, mesmo que exista escola dentro da unidade penitenciária, o preso não consegue se matricular.

A falta de RG impede a obtenção do cartão do Sistema Único de Saúde.

E a carteira de trabalho é essencial para que o detento concilie uma atividade externa, enquanto estiver em regime semiaberto, o que dificulta a reinserção social. 

Em evento público no fim de junho, realizado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Toffoli criticou a falta de conhecimento, por parte do Estado brasileiro, da população carcerária do país.

"Pouco ou nada sabemos sobre essas pessoas. Quem são, de onde vêm, perfil e respectivas aptidões. Isso traduz o imenso desafio de levantarmos o véu da invisibilidade de quem está sob a custódia e a proteção do Estado. A maior parte delas não possui acesso a nenhum tipo documento pessoal, o que inviabiliza a fruição de direitos e aumenta a marginalização", disse.

"Muitas vezes o preso passa anos no sistema prisional sem nem sequer uma documentação segura", complementou.

Na ocasião, o ministro assinou um termo de cooperação técnica entre o CNJ e o TSE para a construção de um banco de cadastramento biométrico e emissão de documentos da população carcerária. 

A emissão de documentos dos presos começa em janeiro, com ajuda dos cartórios nos Estados. Paralelamente, o CNJ vai iniciar um mutirão de cadastro biométrico da população carcerária. A previsão é de que tudo seja concluído até setembro. 

Biometria

Segundo o juiz coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, Luís Geraldo Lanfredi, é nos Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste onde a população carcerária mais sofre com a falta de documentos. 

Serão duas formas de coleta biométricas. A primeira, nas varas de execução ou nas audiências de custódia. Para as pessoas que já estão recolhidas, haverá coleta nos estabelecimentos.