Valorização atípica

Empresas de Eike Batista disparam e geram pedido de investigação

Associação Brasileira de Investidores protocolou pedido de investigação sobre as negociações de Eike durante o mês de outubro

Sex, 23/10/20 - 19h11
Defesa de Eike quer que processo se concentre no Rio | Foto: FÁBIO POZZEBOM/ABR

A valorização atípica das ações de duas empresas do empresário Eike Batista levou a Abradin (Associação Brasileira de Investidores) a protocolar na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) um pedido de investigação sobre as negociações com os papéis durante o mês de outubro.

As ações da mineradora MMX encerraram o pregão desta quinta (22) cotadas a R$ 16,11, um ganho de 805% em relação ao último pregão de setembro, quando estavam R$ 1,78. Em 13 de outubro, os papéis chegaram a R$ 36, maior valor desde 2014. Já os papéis da companhia de construção naval OSX estão cotados a R$ 15, uma valorização de 240% em relação a setembro. Na máxima deste mês, chegaram a R$ 21.

"Essas bolhas, frutos de manipulação, somente ocorrem pela omissão dos reguladores, que não aplicam a legislação vigente. As negociações com essas ações deveriam ter sido suspensas ainda no dia 13", afirmou Aurélio Valporto, presidente da Abradin.

Na reclamação à CVM, a associação ressalta que o movimento indica "efeito manada" e que a grande volatilidade dos papéis, que chegaram a cair 52% após o pico do dia 13, "certamente provocou ganhos ilegítimos e prejuízos a inúmeros investidores menos informados acerca de história de fraudes no mercado de capitais nacional".

"A CVM deveria estudar a anulação de todas as operações ocorridas com ações da MMX e OSX desde o dia 13 de outubro. Assim, seriam evitados ganhos e perdas ilegítimos e seria preservada a higidez do mercado", acrescenta Valporto.

Enquanto a OSX afirmou não ver razões para a valorização dos papéis, a MMX disse à CVM acreditar que as oscilações atípicas estejam relacionadas à divulgação de um pedido à Justiça para recuperar a operação de um projeto de minério de ferro em Corumbá (MS).

O complexo, que tem duas minas e uma instalação de beneficiamento, foi arrendado em 2014, antes do pedido de recuperação judicial, à Vetorial Mineração. A MMX considerava que os baixos preços do minério não justificavam o negócio e decidiu passar adiante a operação por um prazo que se encerrava em 2019.

A companhia afirma que os administradores judiciais prorrogaram o contrato sem o aval da Justiça, contrariando regras da recuperação judicial, e que os preços atuais do minério de ferro tornam o negócio rentável. Diz que a receita do projeto poderia sustentar um plano de recuperação e ajudar no pagamento da dívida, hoje em torno de R$ 700 milhões.

No pedido à Justiça, diz que o projeto é avaliado em US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão) e que poderia produzir aproximadamente dois milhões de toneladas de minério de ferro por ano, com expectativa de operação ainda por 70 anos.

Em 2018, segundo a empresa, os administradores judiciais da MMX abriram mão dos direitos minerários do projeto, o que é questionado pelos advogados de Eike. Eles pedem à Justiça a suspensão de todos os atos tomados pela gestão da empresa em relação ao projeto.

A Folha apurou que o empresário contratou o escritório para uma auditoria em todos os processos da recuperação judicial, atrás de uma solução para evitar a falência da empresa, que hoje é discutida na Justiça. Com apenas três funcionários e sem operações, a MMX praticamente não produz receitas.

A briga para retomar a mina gerou no mercado expectativas sobre a volta de Eike ao comando das empresas, mesmo que à distância, já que ele foi proibido pela CVM de administrar companhias abertas pelos próximos sete anos. O executivo, que já foi condenado na Justiça por manipulação de mercado e pagamento de propina ao governo Sérgio Cabral, no Rio, cumpre hoje prisão domiciliar.

Analistas do mercado financeiro evitam comentar sobre a empresa, fora do radar da Faria Lima desde a queda de Eike. De acordo com Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, a recente alta dos papéis é fruto da movimentação de pequenos investidores.

"É um movimento de pessoa física querendo buscar ganhos absurdos em cima de um papel que não tem nada a ver. Nada justifica essa alta, é puramente especulativo", afirma ele.

Bertotti diz que mesmo se a MMX conseguir reaver a mina de Corumbá, a empresa deve enfrentar um longo processo de recuperação. "O setor de minério tem muitas empresas grande e capitalizadas. Não é algo simples."

Segundo dados de setembro, a MMX tem um capital de giro líquido negativo de cerca R$ 845,75 milhões.

O advogado que representa Eike na MMX, Flávio Galdino, preferiu não comentar o assunto. A Folha não conseguiu contato com a Vetorial.

A CVM disse que "acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo o mercado de valores mobiliários, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário", mas que não comenta casos específicos.

Bancos e Petrobras levam Bolsa perto de 102 mil pontos
São Paulo"No pregão desta quinta (22), as ações de bancos e da Petrobras dispararam com o otimismo do mercado em relação aos resultados do terceiro trimestre e levaram o Ibovespa a subir 1,35%, a 101.917 pontos, maior patamar desde 1º de setembro.

O Itaú Unibanco saltou 5,14%, e o Bradesco aumentou 4,6%. O Santander, por sua vez, avançou 4,16%, e o Banco do Brasil, 4,34%.

As ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras subiram 3,37%, enquanto as ordinárias (com direito a voto), tiveram alta de 3,17%. A empresa estatal também foi beneficiada pela recuperação do petróleo, que subiu 1,75%, a US$ 42,46 (R$ 237,56).

O dólar caiu 0,37%, a R$ 5,5950. O dólar turismo está cotado a R$ 5,743.

Em Nova York, os índices S&P 500 e Dow Jones subiram 0,5% cada um e Nasdaq teve alta de 0,2%, com a expectativa de que novos estímulos fiscais sejam aprovados nos Estados Unidos.

Na quarta (21), a Uni.co, dona das marcas Puket, Imaginarium e Mind, pediu para entrar na Bolsa brasileira. Com o IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês), coordenado pela XP Investimentos, ela visa comprar novos negócios, investir em tecnologia e reforçar o capital de giro.

Controlada pela gestora Squadra Investimentos, que será vendedora na oferta secundária, a Uni.co tem 445 lojas em todos os estados do país.

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