Um acampamento do Movimento Sem Terra (MST), que foi alvo de ordem de despejo em Campo do Meio, cidade do Sul de Minas Gerais, nessa quarta-feira (12), sofreu um incêndio na manhã desta terça-feira (13).
Em vídeos encaminhados à reportagem – e outros que foram divulgados pelos manifestantes – vê-se uma grande coluna de fogo, que consome parte da mata seca que há no local.
Além de mais de 150 policiais militares emprenhados na madrugada de quarta e 2,5 mil pessoas que precisaram deixar o acampamento, as versões sobre como o as chamas começaram divergem.
Por um lado, o Capitão Souza, que comanda as operações em Campo do Meio, afirma que militares presentes no acampamento avistaram um homem a cavalo correndo e, pouco tempo depois, o incêndio começou.
Ele não soube precisar como exatamente o homem montado iniciou os fogos. “Vimos ele a cavalo, rodando próximo a vários pontos do pasto”, diz.
Do outro, manifestantes acusam a Polícia Militar (PM) de queimar parte da mata seca que existe no local para dispersar os manifestantes. “É claro que eles mentiriam dizendo que foi a gente. A PM tacou ateou fogo para dispersar as famílias", rebate uma ativista do MST.
A tensão no acampamento durou mais de 12 horas na quarta, quando houve os primeiros passos para o despejo.
Contudo, pela noite, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou em seu perfil do Twitter dizendo que pediu a suspensão da ação. Pouco tempo depois, o próprio governo do Estado esclareceu que isso não significava que os moradores seriam poupados.
“A polícia permaneceu no local e o comandante da ação disse ao MST que o despejo continua, caso não receba a ordem de suspensão de forma oficial”, afirma o MST em nota.
Após as denúncias de truculência por agentes da PM contra os sem terra, a corporação divulgou uma nota em que alega que a operação foi elaborada para que ocorra “de forma pacífica”. “Essas ações buscam preservar a segurança de todos os envolvidos na ação. As famílias vêm sendo realocadas em locais disponibilizados pela Prefeitura de Campo Belo”, diz o texto.
Conforme o movimento, porém, centenas de viaturas cercaram a ocupação e agiram com "truculência" diante das famílias. A entidade alega ainda que a ordem de posse ocorreu em meio à pandemia do coronavírus.
Conflito antigo
Desde o fim de julho, o MST diz que "viaturas e drones atormentaram a paz das famílias acampadas" quando a polícia teria "invadido" casas e ainda levado um os membros do movimento preso por resistência. O homem foi solto no mesmo dia e a entidade chegou a denunciar o caso ao Ministério Público diante da tentativa da PM em "coagir e incriminar os trabalhadores".
"Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam dezenas de áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitz nas estradas de acesso à pequena cidade", declarou a entidade em nota.
E na madrugada desta quarta, a ordem judicial foi cumprida e mais de 2,5 mil pessoas precisaram deixar o acampamento. Em julho do ano passado, a Justiça chegou a negar a reintegração de posse – o relator do caso, desembargador Luciano Pinto, enfatizou que o pedido não atendeu aos requisitos básicos. Nos últimos 22 anos, os membros do MST já foram alvo de cinco ações na localidade.
Ainda em 2019, um decreto do ex-governador Fernando Pimentel (PT) que transformava o entorno da usina em área de interesse social foi revogado pelo Estado após os proprietários do local questionarem o governo sobre o valor que seria pago para o assentamento das famílias.
No local, estava em construção um novo polo de conhecimento e tecnologia de agroecologia, com produção de alimentos sem uso de produtos químicos e fertilizantes tóxicos.