Trânsito

Com promessas de obras, Trevo do Belvedere enfrenta congestionamentos diários

O local é considerado um dos principais pontos de acesso à capital mineira e reúne grandes polos comerciais

Por Rayllan Oliveira
Publicado em 11 de março de 2024 | 13:00
 
 
Região tem fluxo intenso de veículos e concentra grandes polos comerciais Foto: Flavio Tavares / O Tempo

Um problema crônico de engarrafamento no trânsito. Essa é a realidade relatada por quem vive ou por quem precisa passar pelo Trevo do Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. O local, considerado um dos principais pontos de acesso à capital mineira e que reúne grandes polos comerciais, convive com o fluxo intenso de veículos e engarrafamentos. Um problema que, na última semana, levou as prefeituras de Belo Horizonte e de Nova Lima a anunciarem um pacote de obras para a região, com a promessa de melhorias no trânsito.

"É um problema maior para quem sai de Nova Lima com destino a Belo Horizonte. A sensação que temos é que começaram a povoar a cidade sem pensar nos acessos. Construíram uma casa, e só depois pensaram na porta", avalia Ubirajara Pires Glória, presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere desde 2000. Para ele, que reside e trabalha na região, o grande fluxo de veículos é um dos principais pontos de debate do grupo de moradores. "A gente fala sobre isso há décadas. O excesso de empreendimentos na região traz mais carros e, consequentemente, um congestionamento muito grande", explica.

De acordo com um estudo feito pela Prefeitura de Belo Horizonte, a MG-030, entre a capital e o município de Nova Lima, recebe um fluxo diário de aproximadamente 15 mil veículos. Conforme o levantamento,  são 12 mil carros de passeio, 2 mil motos e o restante divididos entre caminhões e veículos de médio porte. Para o especialista em trânsito e professor do Cefet-MG, Agmar Bento, o volume de veículos se dá por essa ser uma "região de passagem" e com polos comerciais atrativos.

"Quem está em Nova Lima não tem outra possibilidade de acesso à Belo Horizonte se não for pela região. Aquele também é o caminho para quem chega de outras cidades na capital e para quem passa pela avenida Raja Gabaglia. Somado a isso, os pontos comerciais que fazem a região ter uma densidade demográfica muito alta. Ou seja, é uma localidade que sempre vai ter um fluxo de automóveis muito intenso", avalia.

Conforme o professor do Cefet-MG, a região carece de obras de infraestrutura. "Uma possibilidade é aumentar o número de faixas, que vai permitir absorver um número maior de veículos", sugere. No entanto, segundo o especialista, junto às melhorias na infraestrutura, também é necessário criar outras medidas que possam melhorar o fluxo na região."É um debate antigo, mas investir no transporte público é uma das soluções. Isso vai fazer com que diminua o número de veículos", aponta.

Além dessa medida, o professor sugere a reconfiguração dos semáforos, a fim de que se tenha um fluxo menor de veículos nos pontos mais críticos da região. "Você precisa coordenar o trânsito em toda a região, não apenas nos pontos críticos. Se você faz mudanças no tempo dos semáforos, pode evitar que muitos carros cheguem juntos aos trechos mais críticos. É preciso pensar essa lógica também nos bairros próximos", acrescenta Bento. 

Promessas de obras

Na última semana, as prefeituras de Belo Horizonte e Nova Lima anunciaram um pacote de obras com o objetivo de reduzir em até 17% o fluxo de veículos na região. Estão previstas quatro obras na região, entre alargamento de pistas e construção de viadutos. Conforme o projeto, a intenção é de que 2.500 veículos deixem de passar pela região em até dois anos e meio, período em que as obras devem ser concluídas. O valor do investimento é de cerca de R$ 200 milhões, valor que será repartido entre os municípios.

A primeira delas será a construção de um viaduto em formato de “ferradura” para a ligação da MG-030 à BR-356, no sentido Rio de Janeiro, com faixa adicional na BR-356. A intervenção será de responsabilidade da prefeitura de Nova Lima. A previsão é que as obras sejam iniciadas em até 90 dias, contados a partir do dia 4 de março. Outra obra destinada a cidade da região metropolitana é o alargamento da alça de ligação da BR-356 com a MG-030, no sentido Nova Lima. Além disso, o município irá adequar a largura do vão do pontilhão da linha férrea.

Belo Horizonte será responsável pelo alargamento do viaduto sobre a BR-356, criando uma terceira faixa de rolamento no sentido Belvedere-Santa Lúcia. Também estão previstos ajustes dos encaixes das alças existentes. O município também será responsável pela implantação de viaduto para viabilizar o acesso direto do fluxo de veículos procedente da BR-356 (sentido Belo Horizonte-Rio de Janeiro) para a MG-030 (sentido Belo Horizonte – Nova Lima), sem a necessidade de utilizar o Trevo BR-356/avenida Raja Gabaglia.

"São obras que chegam para somar e melhorar o fluxo de veículos. Porém, é importante que elas não afetem as áreas verdes. Na região, temos árvores que foram plantadas há mais de 20 anos. São responsáveis por melhorar o clima na região. Temos que pensar em projetos que possam melhorar a mobilidade para as pessoas, que não destrua a vida da geração que vem posterior a nossa", avalia o presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere, Ubirajara Pires Glória.

Décadas de atraso

O pacote de obras, anunciado pelas prefeituras de Belo Horizonte e Nova Lima, foi comemorado pelo Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior. Segundo ele, o início das intervenções põe fim a uma espera de mais de 40 anos.

“Essas obras vêm trazer mobilidade e mais vida para BH. Não é viável que as pessoas passem mais de uma hora para fazer um trecho de 500 metros. Nós temos motivos para comemorar”, disse, na ocasião.

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) foi o responsável por mediar as tratativas para as obras. O órgão criou um grupo de trabalho, com membros de ambas as prefeituras, para viabilizar as intervenções.  

“Essas duas iniciativas trarão para essa região maior qualidade de vida para a população. Também colocamos na mesa todos os atores, os projetos foram sendo apresentados e, agora, concretizadas as iniciativas adotadas. Em breve teremos outras novidades que trarão bem estar, beleza para região numa construção conjunta da União, do governo de Minas e dos ministérios públicos estadual e federal”, garantiu, na ocasião.

Problema com ônibus e cratera no Belvedere

Durante a manhã desta segunda-feira (11 de março), motoristas que passavam pela região enfrentaram um longo congestionamento por causa de um ônibus com falhas mecânicas. Um problema que somado a interdição da avenida Eurico Gaspar Dutra. A rodovia está fechada desde a última semana por causa de uma cratera que se abriu após um temporal.

"São dois problemas isolados e que afetam a rotina de quem passa pela região. Quem mora no Belvedere tem a possibilidade de sair pelas avenidas Nossa Senhora do Carmo e Raja Gabaglia, pelo Sion, pela BR-356. Porém, quando esses problemas pontuais ocorrem, o trânsito tende a ficar ainda pior", finaliza o presidente da associação, Ubirajara Pires Glória.