Moradores de condomínios residenciais de luxo de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, que vivem a até 30 km da área devastada pela onda de rejeitos de minério da barragem I da mina de Córrego do Feijão, podem entrar na fila para receber uma indenização emergencial a ser paga pela Vale em função do desastre. O acordo judicial firmado entre a mineradora e órgãos como o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) prevê que o benefício de um salário mínimo por adulto, meio salário por adolescente e um quarto por criança seja pago pelo período de 12 meses a todas as pessoas que residiam no município no dia da tragédia. 

Condôminos de ao menos dois residenciais luxuosos demonstraram interesse em compreender o direito ao pagamento. No condomínio Retiro do Chalé, o assunto virou tema de um informativo de comunicação interna, com detalhes sobre uma reunião com o prefeito da cidade, Avimar de Melo (PV). A indenização também teria sido assunto entre quem vive no Retiro das Pedras, um residencial cuja taxa de condomínio gira em torno de R$ 1.200, mais que o valor mensal da indenização. 

Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, do jornal “O Globo”, a diretora-presidente do condomínio, Cláudia Baeta, teria dito que alguns moradores vão receber o dinheiro a ser pago pela mineradora. “Não acho que tenho direito à indenização, mas a regra foi decidida pelos órgãos responsáveis”, teria afirmado Cláudia, que não confirmou se vai reivindicar o benefício. A reportagem tentou falar com os responsáveis pelos condomínios, mas, até o fechamento desta edição, ninguém havia respondido.

A dona de casa Naiara Nascimento, 27, mora a 100 m de onde a lama passou, no Parque das Cachoeiras, e critica o interesse de quem vive nos condomínios. “Nós é que somos atingidos diretamente. O prefeito está indo lá (nos condomínios) levar tudo que precisam, e nós aqui correndo atrás de documento”, reclama. 

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Brumadinho confirma que Avimar de Melo tem se reunido com os moradores dos condomínios, mas que ele também tem ido aos bairros, afirmando que não há tratamento diferenciado. 

O acordo com a Vale, segundo o promotor André Sperling, prevê indenização emergencial para todos os moradores de Brumadinho, independentemente da condição financeira deles ou da proximidade de suas residências com a barragem que se rompeu em janeiro. De acordo com ele, ao não criarem distinções, os órgãos envolvidos visaram agilizar o início do pagamento da indenização. “Talvez o morador não esteja tão necessitado, mas ele sofreu, de forma geral, um dano moral”, avalia. 

O benefício

A Vale confirmou em nota que deve garantir as indenizações a quem reside nos condomínios, já que o acordo firmado em juízo é baseado em critério geográfico. O benefício começou a ser pago em 16 de março, com prioridade para quem reside nos bairros Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão. 

A indenização emergencial não tem relação com valores pagos a familiares de vítimas, a pessoas que perderam imóveis ou a agricultores que tiveram sua atividade comprometida.