O Dia de Finados é celebrado nesta quarta-feira (2) e os cemitérios municipais de Belo Horizonte estarão com programação especial para receber as pessoas que irão visitar os jazigos de familiares e amigos. A expectativa é de que 100 mil pessoas passem pelos quatro cemitérios municipais. Lidar com a “dor” da saudade é tarefa diária para quem enfrenta o luto.

Há um ano e seis meses, a dona de casa Maria da Conceição Marcelino Soares, de 62 anos, perdeu o marido Lair Levindo Soares, de 62, com quem viveu por 46 anos. Vítima da Covid-19, o aposentado deixou três filhos e netos. O começo do luto foi “muito doloroso”, conforme comenta a viúva.

“A gente pensa muito na pessoa e nas recordações. Com o tempo, a dor alivia e vai ficando a saudade. É uma dor que nunca acaba. Conviver com o luto é eterno. Só de a gente nunca esquecer da pessoa que se foi faz o luto estar vivo em nós”, afirma.

A morte chegou repentinamente na vida de uma professora da rede pública municipal, que optou pelo anonimato. O companheiro dela faleceu após complicações cardíacas. “A morte é algo muito difícil. Pensamos que podemos nos preparar para ela, mas isso não acontece. Quando a pessoa parte de forma repentina, sem você se preparar, é muito pior”, diz.

O abatimento fez com que tanto Maria da Conceição, quanto a servidora pública procurassem ajuda profissional na vivência do luto. “Cheguei a fazer acompanhamento psicológico e foi muito importante para mostrar que eu não estava sozinha, que tem muitas pessoas orando por mim e pelos meus familiares, que tem muitos que ainda precisam do meu carinho. O tratamento faz com que a gente enxergue muitas coisas, principalmente que temos valor para Deus”, destaca a dona de casa.

Além do acompanhamento médico com psiquiatra e psicólogo, a professora encontrou na atividade física uma forma de ocupar o tempo livre e superar a tristeza da perda. “Confesso que perdi a energia e disposição que tinha. Faço as atividades para aceitar e entender o luto. Ainda estou muito abalada”.

Atrelado ao acompanhamento profissional, as entrevistadas pontuam que o carinho recebido por familiares e amigos é de extrema importância na vivência do luto. “Meu marido faleceu no período mais crítico da pandemia e não pude ter os amigos do meu lado, mesmo assim recebia ligações. Entendo tudo que aconteceu, já que o momento não possibilitava o contato. Minha família não me deixou desamparada. É isso que me sustentou”, destaca Maria da Conceição.

“Quando você perde um companheiro, a pessoa que te amava, é um vazio. O importante é receber o apoio e a demonstração daqueles que gostam de você”, afirma a professora que ressalta que o Dia de Finados faz com que ela pense ainda mais nos entes e amigos falecidos e, sobretudo, na morte. 

Fases do luto 

A experiência da perda faz, muitas vezes, com que as pessoas tenham um momento de recolhimento, evitando o convívio com outros. Isso não é recomendável, conforme alerta o psicólogo Thales Coutinho. “A princípio, a pessoa tem que entender que o luto é normal, um momento que é preciso vivenciar. Muitas pessoas se isolam e isso vai contra a natureza do luto, pois o enlutado precisa buscar outras pessoas para conversar, pois isso ajuda a elaborar o luto. Mascarar não é nada bom”.

O tempo do luto é diferente nos indivíduos. “A duração será proporcional ao tanto que a pessoa gostava do falecido, ou seja, qual o vínculo ela tinha”. Cinco estágios são comuns no luto, apesar de não haver linearidade neles, segundo reforçado por Coutinho:

  • Negação: o enlutado não acredita no que está acontecendo e pode manifestar isso verbalmente.
  • Raiva: a pessoa busca culpados e pode até mesmo se sentir responsabilizada pelo ocorrido.
  • Barganha: o enlutado tem pensamentos de que as coisas podem voltar a ser como antes.
  • Depressão: melancolia se faz presente, já que a pessoa começa a lidar com a perda, e por isso, vivencia o luto de forma mais intensa.
  • Aceitação: a angústia do luto é substituída por outras emoções e sentimentos mais confortáveis.

Operação especial da prefeitura

Cerca de 100 mil pessoas são esperadas nos quatro cemitérios públicos municipais de Belo Horizonte (Bonfim, Paz, Saudade e Consolação) no Dia de Finados. As necrópoles municipais funcionarão das 7h às 17h30 e terão reforço de funcionários para atendimento ao público, inclusive para esclarecimentos quanto à regularização de pendências, que poderão ser sanadas posteriormente, quando o atendimento administrativo estará funcionando. 

Para facilitar a localização dos jazigos pelos visitantes, haverá faixas indicativas e distribuição de mapas. Os funcionários também estarão disponíveis para orientar os visitantes. Além disso, serão disponibilizados cartazes com QR Code para acesso ao Sistema de Necrópoles do Município (SINEC). Ao acessar a plataforma, é necessário incluir o nome completo do falecido na aba de pesquisa. A partir daí, é possível saber a localização exata da quadra e do jazigo. A consulta está disponível on-line.

Estão previstas celebrações de missas, com programação a cargo das igrejas, e também atividades de acolhimento oferecidas por diversos segmentos religiosos. Não haverá venda de flores dentro dos cemitérios. Sendo assim, o visitante poderá levá-las, que devem ser naturais e não podem estar em nenhum tipo de vaso. Essa medida é importante para evitar a proliferação do mosquito da dengue.

Palestrante de série da Netflix

No cemitério Bosque da Esperança, pela primeira vez, Rafael Stein, personagem da série Queer Eye Brasil da Netflix se apresentará em um cemitério para falar sobre o luto.O evento, previsto para as 15h30 desta terça-feira (1), abrirá as celebrações do Dia de Finados seguido por uma missa às 17h e posteriormente uma homenagem para todos os entes ali sepultados.

Com o tema “Quando tudo é silêncio as flores falam – Eu vejo Flores em você”, o Bosque da Esperança promoverá na quarta-feira, dia 2 de novembro, mais duas palestras com Rafael Stein às 9:10hs e às 16:10hs e atividades de homenagens para crianças com monitoria e direcionamento de especialistas, que ajudam no enfrentamento das perdas. Ainda no dia 2 de novembro, foram organizadas missas às 8h, 11h e 15h, além de um culto ecumênico às 13:30hs.

A ideia de começar as homenagens de Finados com uma palestra dentro do cemitério tem a ver com a concepção dos cemitérios, enquanto espaços, que devem favorecer a expressão dos sentimentos que surgem com a perda. No Dia de Finados, o Bosque da Esperança espera receber pelo menos 25 mil pessoas.