Pelo menos 150 mil kits de testes diagnósticos do novo coronavírus serão estocados pelo governo de Minas Gerais para quando a pandemia atingir o pico no Estado — ao redor do dia 15 de julho, segundo as estimativas mais recentes da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já mostrou preocupação com o nível de testagem no país e citou os dados de Minas como “pouco confiáveis”, devido ao número alto de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em relação aos casos confirmados de Covid-19.

Ainda assim, em entrevista exclusiva a O Tempo, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, reforçou a determinação em guardar testes no Estado para quando “o pior” chegar. “Efetivamente, estamos fazendo certo estoque para dias piores, porque sabemos que a tendência é haver mais casos para frente. Os 150 mil testes que compramos foi para ter um estoque regulador. Se houver qualquer problema com o ministério, temos que ter condição de segurar um pouco a barra”, detalhou.

Minas Gerais recebeu cerca de 160 mil testes do tipo PCR do Ministério da Saúde. Além desses, o governo estadual comprou outros 150 mil — 50 mil deles já chegaram a Minas e mais 100 mil estão previstos para daqui a 20 dias. Até então, os exames realizados pela SES-MG utilizaram somente os kits disponibilizados pelo ministério, totalizando 25.034 testes finalizados pela rede pública — fora os 33.586 feitos pela rede particular. Cada investigação de casos suspeitos de Covid-19 demanda entre três e quatro itens de testagem, isto é, mais de 60 mil itens enviados pelo ministério, dos 160 mil, foram utilizados. 

A estratégia de postergar o uso dos testes também se justifica pela escassez de recursos mundialmente, explicou Amaral. “No dia 26 de maio, recebemos testes que tínhamos comprado há mais de 60 dias. Não dá para sermos afoitos”. A maior parte dos princípios ativos dos exames adquiridos pelo Estado vêm da China ou da Coreia do Sul, e o secretário lembra que houve desabastecimento, inclusive, de swab, o cotonete utilizado para fazer coleta de material para os exames. Outra dificuldade, conforme detalha a SES-MG, é que os fornecedores nem sempre mandam os kits de testes completos, ou seja, eventualmente o Estado recebe uma parte dos itens de testagem em um momento e o restante, depois. Assim, não necessariamente os 50 mil testes recebidos pelo governo estariam prontos para uso imediato. 

“Precisamos garantir (testes) para aquelas pessoas que têm indicação de testagem — aquelas com caso grave, profissionais da saúde, da segurança pública, as pessoas com restrição de liberdade, em presídios ou asilados, e indígenas. Se modificarmos isso e sairmos testando todo mundo, corremos o risco de que, daqui 15 dias, um mês, quando os casos aumentarem, tenhamos gasto grande parte dos testes e não consigamos atender à demanda que haverá nesse momento”, continuou Amaral. Ele disse não descartar que os grupos de testagem sejam ampliados na medida em que mais testes chegarem ao longo da pandemia. 

Sobre o aumento dos casos de óbito de Síndrome Respiratória Aguda Grave no Estado, a SES-MG informa constantemente em coletivas de imprensa que o problema pode ser relacionado a outras doenças, que não a Covid-19, e que todos os casos de morte com suspeita de contaminação por coronavírus são testados. Outra hipótese para explicar o aumento de ocorrências, observado pela Abin, é que médicos teriam ficado mais sensibilizados para diagnóstico da síndrome durante a pandemia e feito mais registros sobre ela.  

Outros Estados testam mais por estarem em nível avançado da epidemia, segundo secretário

Com no nível de testes atual e considerando a população de Minas informada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de cerca de 21,2 milhões de habitantes, o Estado realizou cerca de 118,2 testes por 100 mil habitantes, levando em conta os kits da rede pública.

“É lógico que Estados que estão tendo sobrecarga e estresse gigantescos da rede de assistência, como Ceará e Pará, naturalmente testem mais, porque ali precisam muito. Vamos testar mais quando chegarmos ao nosso pico. Como eles estão mais adiante na curva da casos, estão testando mais, o que vamos fazer daqui 20 dias”, pontuou Amaral. 

A taxa de ocupação de leitos de UTI no Estado é de cerca de 72%, sendo que 11,86% desse total são ocupados por pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19. Aproximadamente 70% dos leitos de enfermaria também estão ocupados, sendo 7,68% por pacientes com suspeita ou confirmação de contaminação pelo coronavírus. É uma evidência, segundo Amaral, de que Minas está em situação relativamente mais controlada. “Minas tem sido efetiva, tanto que não temos tido sobrecarga extrema dos serviços de saúde, o que é, de longe, o dado mais confiável para nós”, apontou. 

Minas conviverá com surtos de Covid-19 até surgimento de vacina, diz secretário

“Nós tivemos vários surtos no Estado. Temos regiões onde os surtos tiveram impacto, como a Noroeste. Na região Centro-Sul, tivemos alguns surtos, com tendência de diminuição do número de casos, mas ainda estão em observação devido aos 14 dias (de isolamento). A região Sudeste teve surto há 21 dias e está em franca melhoria. Isso vai ser dinâmico. Vamos passar o ano inteiro tendo essa correção da epidemia. Se houver um surto, interviremos, ajudaremos e esse vai ser nosso dia a dia”, disse o secretário.

Até então, a SES-MG registrou 14 surtos de Covid-19 em Minas, distribuídos entre 12 cidades, inclusive Belo Horizonte. Um surto significa um rápido aumento de casos em um local específico — uma empresa ou um presídio, por exemplo. A SES-MG não informa onde exatamente cada surto aconteceu e quantas pessoas foram atingidas, mas Amaral prevê que “com certeza” situações do tipo ocorrerão até surgir uma vacina contra o coronavírus.  

“Essa epidemia vai acontecer em banho-maria (depois do pico). Podemos ter surtos em algumas regiões, que seriam ‘picos localizados', mas a tendência é que convivamos com esse vírus por pelo menos um ano e meio, até chegar a vacina”, vislumbrou.  

“Não notei modificação significativa”, diz secretário sobre mudanças no Ministério da Saúde

Desde o começo da pandemia, o Ministério da Saúde já foi comandado por três nomes diferentes. Com a ascensão do general Eduardo Pazuello ao cargo de ministro interno, postos-chave da pasta foram ocupados por militares, em vez de especialistas técnicos. Para Carlos Eduardo Amaral, as mudanças não trazem alterações ao dia a dia da SES-MG.

“Acompanhamos todo o desenrolar de perto, mas eu não entendo que haja fragmentação importante. Toda vez que há alguma mudança, temos que voltar a ter uma relação e conhecer quem entra, o que é natural. Mas não notei modificação significativa nem de piora ou melhora”, disse. 

A SES-MG diz prezar pela qualidade das informações sobre a pandemia. A Sala de Situação da secretaria reúne 16 profissionais, como bombeiros com expertise em catástrofes e estatísticos, para monitorar e reunir dados sobre a pandemia em Minas, sendo sete responsáveis pela elaboração do boletim diário divulgado pela SES-MG com número de infectados.

Apesar de declarar apreço pelos dados, Amaral diz não ser papel dos secretários estaduais de saúde serem críticos do Governo Federal. O Ministério da Saúde envolveu-se em polêmicas ao decidir divulgar somente o número diário de contaminados e mortos, e não o número acumulado, o que já foi revisto

“Precisamos ter controle do Estado, tomar conta dele, gerenciar os dados de Minas Gerais, e é baseado nisso que trabalhamos. Seria infrutífero nos preocuparmos muito com o que o Governo Federal está fazendo. Como eles consolidam os dados, dependem da base que chega para eles. O que Minas Gerais pode fazer para contribuir para o todo é ter a melhor qualidade de dados para fomentar a União, e é isso o que vamos fazer”, declarou.  

Confira a entrevista:

A Secretaria de Saúde passa os dados da Covid-19 no Estado para o Ministério da Saúde consolidar. Com a chegada de militares no lugar de especialistas técnicos no ministério, o que muda no dia a dia da secretaria?

A relação efetiva da secretaria com o ministério se faz em vários níveis de processamento. Existe o nível do relacionamento do secretário com o ministro e dos subsecretários com os secretários especiais do ministério. Na verdade, o grosso da relação que temos é de técnico com técnico. Então, de forma geral, o trabalho técnico, tanto do ministério quanto a secretaria, não teve fragmentação em momento algum. Acompanhamos todo o desenrolar de perto, mas eu não entendo que haja fragmentação importante. Toda vez que há alguma mudança, temos que voltar a ter uma relação e conhecer quem entra, o que é natural. Mas não notei modificação significativa nem de piora ou melhora. Há uma nova adaptação, mas o ministério continua tendo uma relação com a secretaria como sempre teve. 

Como senhor avalia as decisões de mudança da divulgação dos dados da pandemia pelo ministério?

Eu acho que nós, secretários estaduais de saúde, temos que estar muito focados no que acontece em nosso Estado, essa é a nossa função. Não nos cabe ser críticos do Governo Federal. Precisamos ter controle do Estado, tomar conta dele, gerenciar os dados de Minas Gerais, e é baseado nisso que trabalhamos. Seria infrutífero nos preocuparmos muito com o que o Governo Federal está fazendo. Como eles consolidam os dados, dependem da base que chega para eles. O que Minas Gerais pode fazer para contribuir para o todo é ter a melhor qualidade de dados para fomentar a União, e é isso o que vamos fazer. 

O pico da pandemia em Minas é progressivamente adiado. Esse adiamento significa que a pandemia está sob controle ou que há represamento de casos, ou seja, que os números vão "explodir" adiante?

Adiar o pico significa a resposta do trabalho que estamos fazendo. O único objetivo de todo o trabalho com a pandemia, como fazer exames e ampliar leitos, é que as pessoas que adoecerem tenham condições de ser tratadas. Fora disso, não há por quê. Quando falamos em adiar o pico, significa que, na medida em que tomamos medidas e ações ao longo do tempo, foi evitado que as nossas projeções mostrassem que haveria muitas pessoas doentes ao mesmo tempo. A nossa vontade é que não haja pico, mas que entremos em um platô e que as pessoas vão adoecendo aos poucos, de forma que tenhamos condição de tratar todas. Mas sabemos que não é sempre assim. Eu costumo falar que o coronavírus não combina as coisas com a gente. Então, continuamos ainda tendo previsão de aumento de casos e de um pico muito mais plano e chato do que se previa no início. Esse discreto aumento de casos que estamos vendo agora mostra que estamos caminhando em direção a ter mais casos na pandemia. Ao mesmo tempo, se notamos algumas mudanças, precisamos ter ações corretivas. Na semana retrasada, começamos a ter essas ações. Começamos a entrar em contato com todas as regionais orientando um distanciamento ainda mais adequado, sensibilizando regionais que têm progressão de doença um pouco mais acelerada para elas retornarem um pouco o distanciamento. Todas essas ações têm o objetivo de evitar um pico. Essas projeções do pico que fazemos mostram, de certa forma, que as ações que viemos tomando estão tendo resultado. O ideal, para nós, é não ter pico. Para nós, seria o sucesso máximo se, daqui dois, três anos, conseguirmos ter noção de que passamos pela epidemia sem pico.

O que indicará que estaremos em um platô e não em um pico? O que interfere se o Estado vai passar por um ou por outro?

O pico seria um acréscimo muito grande de casos que, naturalmente, acabam descendo - não temos como ter certeza absoluta depois de quanto tempo. Evitar absolutamente que as pessoas adoeçam não é a realidade, isso só aconteceria se tivéssemos vacina. Então, as pessoas tendem a adoecer. Agimos com isolamento e com outras medidas para que elas não adoeçam todas ao mesmo tempo, porque, se isso acontecesse, não teríamos condição de tratá-las. O aumento do número de casos significa que tendemos a ter um nível mais alto de casos. Se isso vai se manter para ser um platô, só o tempo mostrará. Estamos em um momento de aumento de casos e, baseados nessas medidas que começamos a tomar há 15 dias, gostaríamos que esse aumento se estabilizasse e se mantivesse, e não continuasse aumento. Essa seria a diferença entre um platô e um pico. 

Um platô significaria chegar ao dia 15 de julho, a data prevista para o pico, com a mesma quantidade de novos casos atuais?

Significaria, de hoje até um pouco mais para frente, manter um número de casos que não continuasse aumentando, se mantivessem e chegassem a um platô. Quando falamos do dia 15 de julho, significa que a tendência que há, com a multiplicação dos casos, mostra que até o dia 15 de julho teremos aumento e, depois disso, haverá um decremento, uma diminuição, o que configura um pico. É possível que tenhamos aumento e depois uma queda, e aí mantemos o platô. 

O que leva a essa queda?

Ela está relacionada desde ao aumento de pessoas contaminadas - que podem começar a ser mecanismo de barreira, por já estarem imunes - a medidas corretivas. Em Minas, sempre tentamos ser mais céleres do que a doença. Entramos em isolamento antes de outros Estados e, há 15 dias, quando notamos aumento de casos, começamos a entrar em contato com as regionais. Essas medidas que estamos tomando agora têm um atraso devido à inércia da doença. A pessoa que é contaminada hoje segue um fluxo de doença por 14 dias. Durante esse tempo, ela ainda vai apresentar a doença e entrar nas estatísticas. Quando tomo uma medida hoje, demoramos de 14 a 21 dias para ter o resultado dela. Quando começamos a tomar as últimas medidas, é para tentar cortar o pico no início de julho.

A secretaria já comentou que o aumento atual de de casos signfica aproximação do pico. Que fatores exatamente levam a esse aumento agora?

A doença é auto estimulante por si só. Ou seja, uma pessoa passa a doença para outras. Quando temos um isolamento muito agressivo, como um lockdown, uma pessoa passa a doença para menos de uma, então nem todo doente a passaria para frente. Quando temos isolamento moderado, como está, uma pessoa passa ou para uma outra ou para 1,2, ou seja, seria uma tendência discreta de crescimento, mas manteríamos a doença em "banho-maria". Isto é, as pessoas adoecem, mas devagar, e o objetivo é haver assistência para todas. Se tivéssemos projeção muito grande da doença, haveria um pico, ou seja, uma pessoa passaria para duas, três, quatro. Mesmo passando de uma para 1,2, que é o que aceitamos, há pequena tendência de crescimento. Então, esses aumentos progressivos de caso tendem a acontecer até voltarmos a ter transmissão de um para um ou abaixo disso, o que nivelaria e seguraria a doença. 

O aumento desses casos na semana passada indica menos isolamento nas duas semanas anteriores, então?

É possível que sim. Ou surtos de doença. Em geral, o que vemos hoje é o que aconteceu há duas ou três semanas.

A região do Vale do Aço é uma das que mais preocupa o Estado. Como o governo tem agido junto às prefeituras para o controle dos casos na área e quais são os maiores desafios apresentados por elas?

O Vale do Aço foi a primeira região em que fizemos uma reunião de aconselhamento e orientação. É importante lembrar que quem define se haverá um decreto de isolamento tende a ser o prefeito. Temos acreditado em um aconselhamento forte. Temos nossa posição e entendemos que ela deve ser seguida. Na quinta-feira retrasada, fizemos uma reunião com os secretários municipais de saúde do Vale do Aço e mostramos os dados da SES-MG, dissemos entender que há tendência de crescimento de casos no Vale do Aço e que dali há 14 ou 21 dias ele teria maior número de casos, então orientamos para que entrassem com medias mais rigorosas de isolamento. Fomos muito claros com todos eles. Além disso, temos nossa Superintendência Regional de Saúde no Vale do Aço, coordenada pelo Ernany de Oliveira, que está muito próximos dos hospitais e prefeituras com objetivo de acertar o fluxo de pacientes e de internação e de desospitalização. É muito importante que aquele paciente que já não precisa mais de CTI e que não precisa ficar no hospital tenha alta mais precoce e que aquele que não precisa de um hospital de alta complexidade vá a um de baixa complexidade. Isso tudo faz parte do plano de contingência do Estado, que tem uma sequência de ações operacionalizadas pela regionais. 

Além do Vale do Aço, quais regiões mais preocupam a SES-MG?

Nós tivemos vários surtos no Estado, em várias macrorregiões. Temos regiões onde os surtos tiveram impacto, como a Noroeste. Na região Centro-Sul, tivemos alguns surtos, com tendência de diminuição do número de casos, mas ainda estão em observação devido aos 14 dias (de isolamento). A região Sudeste teve surto há 21 dias e está em franca melhoria. Isso vai ser dinâmico. Vamos passar o ano inteiro tendo essa correção da epidemia. Se houver um surto, interviremos, ajudaremos e esse vai ser nosso dia a dia. 

Após o pico da pandemia, podemos continuar esperando surtos de Covid-19 no Estado?

Com certeza eles vão acontecer. Essa epidemia vai acontecer em banho-maria depois. Vai continuar havendo casos, e o que não queremos é que haja picos, que significam muitas pessoas adoecendo ao mesmo tempo. Podemos ter surtos em algumas regiões, que seriam "picos localizados", mas a tendência é que convivamos com esse vírus por pelo menos um ano e meio, até chegar a vacina. Minas tem sido efetiva, tanto que não temos tido sobrecarga extrema dos serviços de saúde, o que é, de longe, o dado mais confiável para nós. Basta comparar com outros Estados para vermos que efetivamente não estamos tendo essa sobrecarga. Nesse contexto, nossa ideia é que quanto mais efetivas as ações, menor a transmissão, menor o número de pessoas que teoricamente já adoeceram e mais tempo teremos que conviver com a presença do vírus e das pessoas adoecendo. 

O senhor tem exemplos de surtos no Estado? Sabemos que houve um caso Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), em Barbacena.

Não vou citar nomes, mas tivemos surtos em empresas na região Noroeste, em instituições de longa permanência de idosos em vários lugares e em outras empresas nas regiões Centro e Leste. É natural: onde há alojamentos ou onde as pessoas acabam convivendo mais, se uma adoecer pode haver um pequeno surto.

Fala-se muito na falta de pessoal e de insumos para realizar os testes. Quantos e quais insumos têm faltado?

Não temos um volume de insumos para sair testando todo mundo. Não temos segurança mundial para isso. Ninguém sabe se testarmos todo mundo e gastarmos testes demais teremos reposição deles. Temos desabastecimento mundial de respiradores e, agora, de sedativos, o que foi muito veiculado, além das restrições a aquisição de testes. Não se consegue comprar testes facilmente e, quando se consegue comprá-los, o período para entrega é demorado. Fazemos licitação e fazemos concorrência para a compra, a maioria desses testes tem princípio ativo da Coreia do Sul ou da China. No dia 26 de maio, recebemos testes que tínhamos comprado há mais de 60 dias. Não dá para sermos afoitos. Precisamos garantir (testes) para aquelas pessoas que têm indicação de testagem desde o início - aquelas com caso grave, profissionais da saúde, da segurança pública, as pessoas com restrição de liberdade, em presídios ou asilado. Com testagem agressiva desses grupos, há mudança de prognóstico e contemos surtos. Se modificarmos isso e sairmos testando todo mundo, corremos o risco de que, daqui 15 dias, um mês, quando os casos aumentarem, o que esperamos que aconteça no dia 15 de julho, tenhamos gasto grande parte dos testes e não consigamos atender à demanda que haverá nesse momento. Neste contexto, mantemos o que estamos fazendo. 

Como está o fluxo de testagem na Fundação Ezequiel Dias (Funed)?

Hoje, temos testes, a Funed trabalha com no máximo 48 horas de tempo entre a chegada do material e o resultado, então não há represamento. A Funed e a rede de laboratórios não estão fazendo mais testes porque, neste momento, com a testagem e com as indicações de testagem que temos, não estamos tendo representamento e a demanda está sendo atendida. Passando o pico e voltando a haver disponibilidade mundial de testes com mais segurança, nossa tendência vai ser aumentar o número de grupos testados. Inicialmente, por exemplo, eram só os casos graves, depois vieram os profissionais de saúde e segurança pública, depois, detentos e asilados, agora estamos testando os indígenas também. A nossa tendência vai ser fazer isso. O que não podemos é deixar faltar. Então, é melhor mantermos um controle e não deixar faltar testes para casos em que isso muda o tratamento, do que querer testar todo mundo e, lá na frente, faltar testes. Tivemos problema com swab, o cotonete de coleta de material do teste. Houve desabastecimento em alguns lugares. Temos que ter bom-senso. Seria muito bonito conseguir testar todo mundo, se conseguíssemos comprar testes facilmente, mas essa não é a realidade, Comprar testes não está simples e acho que precisamos ter bom-senso. Entendemos o questionamento sobre não testar mais. Mas, avaliando a testagem por 100 mil habitantes, Minas Gerais está muito próxima da maioria dos Estados. Em número absoluto, em relação à epidemia, é lógico que Estados que estão tendo sobrecarga e estresse gigantescos da rede de assistência, como Manaus, Ceará e Pará, naturalmente testam mais, porque ali precisam muito. Vamos testar mais quando chegarmos ao nosso pico. Não adianta eu sair testando agora, porque muitos testes não vão dar positivo e não vamos conseguir fazer essa triagem com qualidade, e faltar lá na frente. Esses outros Estados, não. Como eles estão mais adiante na curva da casos, estão testando mais, o que vamos fazer daqui 20 dias.

Temos testes o suficiente para a demanda durante o pico?

A princípio, sim. O Estado comprou 150 mil testes e já chegaram 50 mil. Em 20 dias, chegam os 100 mil restantes. Além disso, o ministério tem mandado um pouco de testes para a gente toda semana. Efetivamente, estamos fazendo certo estoque para dias piores, porque sabemos que a tendência é haver mais casos para a frente. 

Então, temos 50 mil testes e vão chegar os outros 100 mil em 20 dias, além de outros 150 mil?

O Ministério encaminhou 160 mil testes PCR. E uma pessoa, às vezes, é submetida a três ou quatro testagens para ter confirmação. O ministério distribui os testes que Farmanguinhos produz conforme a demanda nacional. Onde ele vê que há mais demanda, manda mais. Se começarmos a ter mais casos, tendemos a receber mais testes do ministério. Os 150 mil testes que compramos foi para ter um estoque regulador. Se houver qualquer problema com o ministério, temos que ter condição de segurar um pouco a barra. Por isso, compramos esse número. E a tendência é que o ministério mande mais na medida em que tenhamos mais casos. 

Por enquanto, estamos utilizando os testes enviados pelo ministério?

Isso.   

O senhor citou que Minas Gerais tem uma quantidade de testes por 100 mil habitantes parecida com a de outros Estados. De quanto ela é?

Não é idêntica. Pela última conta que fiz, são 116 testes por 100 mil habitantes nos laboratórios públicos e, se somar com os privados, vai a 267 testes por 100 mil habitantes. (A reportagem apurou que a taxa de testes públicos por 100 mil habitantes no Estado é de 118,2, atualmente)