Processo

Justiça decide hoje se mantém prisão de delegado que atirou em motorista em BH

Rafael Horácio passará por audiência de custódia no Fórum Lafayette

Por Lucas Henrique Gomes
Publicado em 09 de agosto de 2022 | 11:51
 
 
Homem era religioso e dedicado ao trabalho Foto: VIDEOPRESS PRODUTORA / ARQUIVO PESSOAL

A Justiça vai decidir no início da tarde desta terça-feira (9) se mantém ou não a prisão do delegado Rafael Horácio, apontado como o autor de um disparo que matou o motorista de caminhão reboque Anderson Cândido de Melo, no último dia 26 de julho. O delegado passará por uma audiência de custódia no Fórum Lafayette.

Apesar do crime ser no dia 26, o delegado só se apresentou à Justiça quatro dias depois, fora do prazo de flagrante. Por isso a audiência de custódia não foi feita imediatamente após a prisão, já que ele não foi detido na cena do crime.

De acordo com a assessoria do Fórum Lafayette, a audiência será conduzida pelo juiz do Tribunal do Júri que é responsável pela morte do motorista. Logo, essa audiência não será de um processo de prisão que tramita de forma separada à acusação do homicídio.

Prisão

Na manhã do sábado, dia 30, o policial se entregou e foi encaminhado à Casa de Custódia da PCMG. Segundo o porta-voz da corporação, Saulo de Tarso Castro, o delegado foi indiciado pelo crime de homicídio duplamente qualificado – por motivo fútil e sem possibilidade de defesa da vítima.

Por ser considerado crime hediondo, a Polícia Civil terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para concluir as investigações. Até lá, no entanto, o delegado não perde o cargo de delegado, e deve continuar a receber ⅓ do salário como funcionário público.

O porta-voz da Polícia Civil argumentou, em coletiva de imprensa, na tarde deste sábado, que o delegado não foi preso em flagrante no dia do crime apenas pelo fato de ter se apresentado espontaneamente. A corporação negou que a liberação inicial tenha ocorrido pelo fato de o policial ter alegado legítima defesa.

Relembre o caso

O desentendimento entre o reboqueiro Anderson Cândido de Melo e o delegado Rafael de Souza Horácio ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local dos disparos indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.

Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do disparo acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.

Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.

Foi então que a filha dele pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento em baixo do banco do passageiro, e uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem, que acompanhou a situação.

Quem é a vítima

Vizinhos de Anderson, ouvidos pela reportagem, contam que o reboqueiro era um trabalhador que se dedicava à família e à igreja. “Nunca teve nada errado com ele, ele era um homem evangélico que só vivia de luta”, contou uma amiga, que preferiu o anonimato.

Pai de quatro filhos (um menino e três meninas) e amoroso com todos eles, Melo era querido na vizinhança e também na comunidade da igreja. “Foi um choque (a morte) para todos, a pastora e o pastor estão na casa dele. Todos os filhos moravam com ele, a mulher dele está inconsolável”, revela a vizinha. Um amigo dele, que também pediu anonimato, desabafou que nunca havia visto tamanha “covardia”.

“Saracura (como era conhecido Anderson) era um ótimo mecânico, um excelente profissional no ramo de reboque e um amigo sem igual. Ninguém nunca viu Saracura numa mesa de jogo, ou numa mesa de bar. Era serviço e igreja”, detalhou.