Dezenas de mães manifestaram em frente à Upa São João del-Rei, na cidade do Campo das Vertentes, na noite dessa quarta-feira (25 de outubro). De máscara e segurando placas com o escrito ‘Plantão Pediátrico’ e balões da cor preta, as mulheres gritaram por um reforço médico na Upa, que é indicada como referência caso as crianças apresentem sintomas de dor de garganta, vômitos, febre e manchas na pele – características da bactéria Streptococcus. Segundo uma das manifestantes, a contadora Ana Maria Hilário Fiche, de 45, faltam médicos e equipamentos na única Upa de São João del-Rei.
O alarde acontece em meio a investigação da morte de três crianças além da internação de mais quatro. Os exames para identificar a possibilidade da contaminação pela bactéria ainda estão sendo realizados. Enquanto isso, o cenário é de Upa cheia, demora no atendimento e encaminhamentos para hospitais próximos. “Eu estive na Upa ontem (25/10). Não tem oxímetro infantil, não tem monitor infantil, não tem sequer termômetro para todos e papel toalha. As mães estão trazendo os termômetros de casa”, denuncia Ana Maria.
Dezenas de mães manifestaram em frente à única Upa de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, na noite dessa terça-feira (26). Segundo as manifestantes, faltam médicos e equipamentos na unidade. pic.twitter.com/jyg01r0A5R
— O Tempo (@otempo) October 26, 2023A contadora é uma das representantes do grupo e reclama da incapacidade da Upa de São João del-Rei em atender os casos de adoecimento das crianças sem um reforço médico ou de estrutura. “Todos os médicos são clínicos na Upa. Ontem, deveriam estar três de plantão, estavam só dois. A Saúde está um caos”, continua.
Ana Maria Hilário Fiche conta que, em casos graves, as famílias estão sendo encaminhadas para hospitais de cidades próximas, como Barbacena, quando não para a Santa Casa de São João del-Rei. “Quando mandam ir para Barbacena, a família tem que se virar, muitas não tem carro, não tem como ir”, lamenta.
A prefeitura de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, está analisando a possibilidade de contratações de urgência de médicos para a rede assistencial da cidade, principalmente para atuação na Upa. Segundo a Secretaria de Saúde do município, o órgão entende que é preciso aumentar a equipe de médicos para frear a contaminação de crianças pela bactéria Streptococcus. Até o momento, nenhuma contratação foi confirmada, segundo o Executivo.
SES-MG descarta surto
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirmou que não há critérios que comprovem surto ou risco à saúde da população de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, após a morte de três crianças, uma de três e duas de 10 anos, e a internação de outras quatro. Os pacientes apresentaram sintomas como dor de garganta, amigdalite, febre, vômito, manchas e erupções na pele.
Em nota, a pasta ressaltou que acompanha junto à Unidade Regional de Saúde e à prefeitura os casos de óbitos. “As amostras estão sendo analisadas em laboratório”, disse em um dos trechos. As investigações estão sendo realizadas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs Minas).
Entenda os casos
Andreia Pereira Donato, de 43 anos, é uma das mães que fizeram uma manifestação nesta terça-feira (24 de outubro), em frente à Prefeitura de São João del-Rei. A mulher afirma que tudo começou há pouco mais de um mês, quando um menino, de 11, passou mal na escola com dor de garganta e vômito.
Ele foi levado a Upa da cidade, onde o médico receitou analgésicos e antibiótico. No dia seguinte, a criança piorou e foi internada na Santa Casa da Cidade, onde morreu dias depois. “Logo depois, veio o caso de uma menina de 3 anos que morreu após ter os menos sintomas, ela teve ainda febre alta e marcas arroxeadas pelo corpo”, conta.
O último caso, segundo Andreia, ocorreu nessa segunda (23 de outubro), quando uma menina de 10 anos morreu também com sintomas semelhantes. O enterro da criança aconteceu nesta terça (24 de outubro), no cemitério Nossa Senhora das Mercês.
De acordo com o município, a maioria dos pacientes passou por avaliação médica, na rede pública ou privada, e o quadro de saúde deles é estável.