A Streptococcus é uma bactéria capaz de causar problemas na garganta ou na pele. Embora esteja presente no organismo de muitas pessoas, ela não apresenta sintomas. No entanto, ao ser transmitida, pode ocasionar doenças. É isso o que investiga a Secretaria Municipal de Saúde da cidade de São João del-Rei, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.
A pasta busca informações se a bactéria teria sido a responsável pela contaminação e a consequente morte de três crianças, com idades entre 3 e 11 anos. Outras quatro crianças foram internadas com diagnósticos semelhantes.
Como ocorre a transmissão da bactéria?
A transmissão é feita de uma pessoa para a outra, por meio contato próximo ou através de tosses ou espirros. “A transmissão é feita por gotículas de saliva, quando a pessoa infectada fala, tosse, espirra. Às vezes, alguém tosse na mesa, uma criança encosta e depois leva a mãozinha à boca”, explica a a infectologista Janaína Teixeira, que atua na cidade de São João del-Rei.
O que ela pode causar?
Conforme a infectologista Janaína Teixeira, a bactéria pode causar a chamada "síndrome do choque tóxico", que é uma infecção invasiva grave. "É incomum, uma prevalência de 1 a 5 casos para cada 100 mil habitantes, mas que, infelizmente, tem uma mortalidade alta", explica a médica.
A síndrome de choque tóxico é um grupo de sintomas graves e rapidamente progressivos. Entre os sintomas estão febres, erupção cutânea, pressão arterial perigosamente baixa e insuficiência de vários órgãos.
Quais os sintomas?
Entre os sintomas provocados pela Streptococcus estão febre alta, acima dos 38 °C, dores musculares intensas, falta de apetite e vômito. Conforme a infectologista Janaína Teixeira, os doentes também podem ter quadros de diarreia, desidratação, alterações no comportamento e sonolência excessiva.
Como é o tratamento?
O tratamento pode ser feito com antibióticos, segundo a infectologista Janaína Teixeira. No entanto, conforme a especialista, tem sido relatado
um aumento no número dessas infecções.
“São infecções que podem causar desde infecções de pele, a erisipela, celulite, escarlatina, impetigo, e causa muito comumente infecção de garganta, principalmente em crianças menores de 10 anos. E, em algumas situações, ela pode causar infecções com gravidade maior, pneumonias, artrites, meningite, que não são tão comuns", detalha.
Como prevenir?
A higienização e o isolamento do paciente, a partir do diagnóstico, são as melhores formas de prevenção. “A primeira coisa é a criança doente não ir à escola. Deveria ser um mantra. Criança doente, com dor de garganta, com febre, fica em casa”, alerta a infectologista. Conforme a especialista, também deve ser evitado o compartilhamento de materiais utilizados pela pessoa doente. “Não devemos compartilhar utensílios, copo, talher, garrafinha", completa
Ainda de acordo com Janaína, outra forma importante de prevenção é sempre manter os ambientes bem ventilados e, principalmente, é manter as as vacinas em dia. "As infecções virais podem ser a porta de entrada, o primeiro passo para que, depois, uma infecção bacteriana aproveite da queda da imunidade causada pela infecção viral", finaliza a infectologista, que também destacou não existir uma vacina.
Os casos
Andreia Pereira Donato, de 43 anos, é uma das mães que fizeram uma manifestação nesta quarta-feira (24), em frente à Prefeitura de São João del-Rei. A mulher afirma que tudo começou há pouco mais de um mês, quando um menino, de 11, passou mal na escola com dor de garganta e vômito.
Ele foi levado a Upa da cidade, onde o médico receitou analgésicos e antibiótico. No dia seguinte, a criança piorou e foi internada na Santa Casa da Cidade, onde morreu dias depois. “Logo depois, veio o caso de uma menina de 3 anos que morreu após ter os mesmos sintomas, ela teve ainda febre alta e marcas arroxeadas pelo corpo”, contou para a reportagem de O TEMPO.
O último caso, segundo Andreia, ocorreu nesta segunda (23), quando uma menina de 10 anos morreu também com sintomas semelhantes. O enterro da criança está marcado para às 10h desta terça (24), no cemitério Nossa Senhora das Mercês.
De acordo com o município, a maioria dos pacientes passou por avaliação médica, na rede pública ou privada, e o quadro de saúde deles é estável.
Investigação
A Secretaria Municipal de Saúde de São João del-Rei afirmou que investiga o caso, mas garantiu que a cidade “não está enfrentando um surto”. No entanto, as aulas foram suspensas na rede municipal.
Nesta quarta-feira (25 de outubro), os médicos da rede assistencial do município irão passar por um treinamento da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A intenção é de que eles consigam identificar e tratar casos de contaminação pela Streptococcus.