Trânsito

Mapa cataloga morros de BH

Estudo da UFMG levantou e avaliou todos os pontos de declive em 58 mil quarteirões da cidade

Por Débora Costa
Publicado em 15 de junho de 2016 | 03:00
 
 
Sobe e desce. Objetivo de levantamento é melhorar a mobilidade de BH, que tem muitas ladeiras MOISÉS SILVA – 16.1.2015

As ladeiras do bairro Cruzeiro e os morros da avenida do Contorno, na Savassi, ambos na região Centro-Sul de Belo Horizonte, estão entre as áreas de acesso difícil e que geram desafios de mobilidade para a capital mineira. Diante disso, a elaboração de um mapa que aponta a real declividade da cidade vai auxiliar nos deslocamentos por essas regiões e ajudar o poder público a criar ferramentas para melhorar o acesso em locais com subidas e descidas acentuadas. A criação de ciclovias e de novas rotas para os ônibus pode ser um dos beneficiados.

Chamado de Mapa das Declividades, o projeto foi desenvolvido pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD). Detalhes e resultados de todo o mapeamento serão apresentados oficialmente no dia 5 de julho.

Segundo o professor do curso de mestrado em geotecnia e transportes da UFMG, Rodrigo Affonso de Albuquerque Nobrega, que desenvolveu o mapa, o estudo cria um banco de dados – que ficará disponível no site da prefeitura – e mostra a declividade real de mais de 58 mil quarteirões da capital. O mapa é, segundo seu idealizador, pioneiro no Brasil.

A iniciativa surgiu após encontros do Observatório de Mobilidade Urbana de 2015, promovidos pela BHTrans. Nos debates, foi definido que esse tipo de projeto poderia ajudar a entender as reais condições de declividade da cidade, como os pontos de maior e menor inclinação.

“Belo Horizonte está aprimorando sua base de dados, e o mapa é o subsídio inicial para se criarem projetos de melhoria de acesso. Sabendo as condições de declive, você pode criar projetos para ciclovias, acessibilidade, além de rotas alternativas para o transporte público”, diz a diretora de programas do IPTD, Ana Nassar.

De acordo com a assessoria de comunicação da BHTrans, o projeto ainda será analisado pela autarquia.

Estudo. Segundo Rodrigo Nobrega, o projeto foi desenvolvido nos últimos três meses e teve como base os mapas de topografia e das vias de Belo Horizonte, disponibilizados pela prefeitura. Ao analisar os dados, o pesquisador conseguiu fazer os cálculos de inclinação dos mais de 58 mil trechos presentes em BH e detalhar os pontos de maior ou menor declividade. Ele, no entanto, não informou nomes de vias.

“Temos ruas na cidade que vão de 8% de inclinação, um valor baixo, a algo entre 20% a 25%, índice bem elevado. O que se fez foi um mapa que cruza os dados já existentes e auxilia na gestão e no planejamento da cidade, que pode até trocar uma rota de coleta de lixo, por exemplo, para ruas menos íngremes”, detalhou o pesquisador.

Mesmo ainda sem muitas informações sobre a iniciativa, alguns coletivos de Belo Horizonte, como o BH em Ciclo, projeto que defende o uso de bicicletas na capital, já se mostram favoráveis ao mapa.

“O estudo pode auxiliar na criação de ciclovias. Podemos pegar as malhas existentes e cruzar com os dados, podendo alterar e criar trechos futuros, já com essa base”, avaliou a membro do BH em Ciclo, Amanda Corradi.

Por uma capital mais acessível

Concurso. Os vencedores do concurso Acessibilidade para Todos em BH, da ONG WRI Brasil Cidades Sustentáveis, em parceria com a BHTrans, foram premiados anteontem. A ideia era buscar ajuda para superar problemas de acessibilidade em BH. A possibilidade de implantar as propostas será analisada pela BHTrans.

Prêmio. Havia três categorias: trechos com alta declividade, com calçadas estreitas e em estação de integração de transporte coletivo. O prêmio é uma viagem ao México.

Cidades já usaram dados para melhorias

Estudos de cidades como Lisboa, em Portugal, e São Francisco, nos Estados Unidos, serviram como base para a produção do Mapa das Declividades. Ambas têm topografia acidentada e grande quantidade de ladeiras. Por isso, as prefeituras locais decidiram avaliar e identificar as reais condições do terreno para melhorar o acesso.

“No caso de Lisboa, fizeram malhas cicloviárias nos trechos de declives menos acentuados, e, nas regiões com maior elevação, a prefeitura fez uma integração com o bondinho”, disse o professor do curso de mestrado em geotecnia e transportes da UFMG Rodrigo Affonso de Albuquerque Nobrega.

Avaliação. Na visão de Márcio Aguiar, professor de engenharia de transporte e trânsito da Universidade Fumec, o mapa pode ajudar BH a se adequar ao Código de Posturas da cidade, que determina o limite de inclinação em até 15%.

A cidade já está pronta, então o mapa pode ajudar nessa adequação. Em ruas em que a elevação é superior a 15%, pode-se modificar o tráfego, pensar novos itinerários para ônibus, estabelecer melhores rotas de ciclovias. É uma iniciativa interessante”, avaliou. (DC)