Transporte público

Ônibus de BH é o mais caro de todas as capitais do país

Novo valor de passagens (R$ 4,50) começa a vigorar neste domingo (30) na capital; aumento foi de 11%

Por Tatiana Lagôa, Aline Diniz e Letícia Fontes
Publicado em 30 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
Ônibus de BH é o mais caro de todas as capitais do país Foto: Ramon Bitencourt - 27.12.2018

A nova tarifa de ônibus, de Belo Horizonte, de R$ 4,50, passa a vigorar neste domingo (30). Com essa alta de 11%, a cidade ficou com a maior passagem entre todas as capitais brasileiras. Conforme levantamento feito pela reportagem, o segundo local com o custo de transporte coletivo mais elevado é Florianópolis, em Santa Catarina, onde um aumento de 4,76% vai fazer com que os passageiros paguem R$ 4,40 a partir do próximo sábado.

Das 27 capitais brasileiras, apenas oito têm tarifas de ônibus superiores a R$ 4. Em várias localidades, os reajustes ainda não foram divulgados, e as tarifas podem passar por alterações ao longo do próximo ano e mudar o ranking das passagens mais caras. Mas algumas cidades, como Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, avaliam a possibilidade de não haver reajuste em 2019.

Em Belo Horizonte, o preço das passagens ficou congelado em R$ 4,05 desde dezembro de 2016. No dia 21 de dezembro, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) divulgou os resultados de uma auditoria com a conclusão de que a tarifa deveria ser de R$ 6,35, o que foi considerado inviável pelo próprio Executivo.

“Uma tarifa de R$ 6,35 não é factível para nenhum usuário. Definimos em R$ 4,50 para recompor a inflação do setor”, explicou o diretor de transporte público da BHTrans, Daniel Marques Couto. Segundo ele, questões como o aumento de 24% do diesel no período e a alta no salário de funcionários acima da inflação foram consideradas.

A conta, no entanto, é questionada pelo Movimento Tarifa Zero, que divulgou um levantamento indicando que a passagem deveria custar R$ 3,45. Para o ex-presidente da BHTrans e consultor em mobilidade urbana e política fiscal, que prestou assessoria técnica para o Tarifa Zero, João Luiz da Silva, a alta de 11% das passagens é inadequada. “A frota reduziu, os quilômetros livres aumentaram (pistas exclusivas). Com menos ônibus, há menos motoristas e cobradores. Isso sem falar dos cobradores demitidos”, disse.

Com base nesses argumentos, o Tarifa Zero acionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), na sexta-feira (28), pedindo a anulação do reajuste. Os promotores já solicitaram informações à Prefeitura de Belo Horizonte, que informou que vai prestar os esclarecimentos necessários.

Enquanto isso, os usuários do transporte coletivo lamentam a alta. A diarista Rute Heloísa, 45, por exemplo, vai precisar mudar a rotina de trabalho após o reajuste da passagem. Com a crise financeira, ela não consegue aumentar o valor do serviço. “Vou ter que deixar de trabalhar em casas distantes do metrô. O dinheiro da passagem vem do meu bolso. Não tenho como gastar R$ 10 ou mais por dia para trabalhar”, relatou.

Para o consultor em transporte e trânsito Silvestre de Andrade, o preço cobrado deve ser compatível com o que foi firmado em contrato: “Tarifa justa é combinada na hora da contratação da concessionária. E a regra é seguir a inflação”.

 

Tarifas sobem em São Paulo e Cuiabá

O debate sobre o valor justo do transporte público também está acirrado em outras capitais. Em São Paulo, as tarifas de ônibus vão subir 7,5%, passando de R$ 4 para R$ 4,30 a partir do dia 7 de janeiro. Em nota, o Executivo municipal afirmou que a tarifa não sofreu reajuste em 2016 e 2017. Neste ano, passou de R$ 3,80 para R$ 4. “Agora, a prefeitura realiza uma necessária adequação da receita para reduzir o desequilíbrio do sistema”, argumentou a prefeitura.

Em Cuiabá, no Mato Grosso, depois de um ano sem reajuste, as empresas querem elevar as tarifas em 6,49%, passando dos atuais R$ 3,85 para R$ 4,10, a partir de quarta-feira. O anúncio da alta gerou tanto questionamento que fez com que a Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Cuiabá (Arsec) promovesse uma audiência para debater o assunto.

Segundo o órgão, uma reunião será realizada nesta segunda-feira (31) pelo órgão para definir a alta aplicada. (TL com agências)

Peso para os belo-horizontinos

No bolso

Para um belo-horizontino que precisa pegar quatro ônibus por dia, o reajuste na tarifa de ônibus vai representar um gasto mensal de R$ 43,20 a mais.

Comparação

O valor de R$ 43,20 daria para comprar 3 kg de arroz, 4,5 kg de feijão, 6 kg de batata e um litro de óleo na capital, conforme a cesta básica calculada pelo Ipead.