Pará de Minas

Perícia em celular aponta que vítima do Baleia Azul não foi ameaçada

Segundo a Polícia Civil, uma nova perícia ainda será feita no aparelho e, por isso, nenhuma possibilidade será descartada

Por José Vítor Camilo
Publicado em 21 de abril de 2017 | 18:31
 
 
Antes de morrer, Cabral enviou mensagem ao grupo do desafio Foto: Fred Magno

Apesar da família de Gabriel Antônio Santos Cabral, 19, que se matou em Pará de Minas, na região Central do Estado, ter afirmado que o jovem disse que teria sido ameaçado e que não parava de jogar o Baleia Azul por temer que algo fosse feito contra eles, a perícia inicial da Polícia Civil (PC) no celular da vítima indicou que não houve ameaças que o induziram ao suicídio. Segundo a corporação, uma nova perícia ainda será feita no aparelho e, por isso, nenhuma possibilidade será descartada.

O resultado do primeiro laudo pericial ficou pronto ao longo da semana, mas só foi divulgado nesta sexta-feira (21) pela assessoria de imprensa da PC. Foram analisadas conversas de Cabral em um aplicativo e nenhum indício de que ele teria sido ameaçado enquanto participava do jogo  foi localizado. O teor das conversas vistas não será divulgado por enquanto. As investigações do caso continuam e depoimentos ainda sãos colhidos.

A vítima foi encontrada morta em sua casa no dia 12 de abril por sua companheira. A mulher contou à polícia que tinha passado à noite na casa da mãe e que, quando foi para sua casa, encontrou Cabral deitado de barriga para baixo, possivelmente já sem vida. O Corpo de Bombeiros esteve na casa, na rua Paulo Roberto Amaral, no bairro Serigueiras, e constatou o óbito. Foram encontradas cartelas de remédios de uso controlado que foram ingeridos por ele. 

O delegado regional de Pará de Minas, Carlos Henrique Gomes Bueno, já havia adiantado que em uma análise inicial foi localizado um grupo do desafio que Cabral participava e que cerca de 200 pessoas de vários lugares do Brasil estariam jogando, inclusive números da mesma região abrangida pelo DDD 37. Ainda segundo ele, os participantes têm entre 10 e 20 anos. Ele chegou a ver mensagens com fotos de pessoas com cortes nos braços e panturrilhas. “Temos que investigar para ver se elas não são montagens”, salientou. 

Antes de se matar, Gabriel Cabral deixou uma mensagem no grupo. Ele disse que estava cansado de tudo, citou a filha e fez um pedido aos membros: “não enviem mensagem privada para mim”. A reportagem tentou contato com familiares do jovem e foi informada de que eles não pretendem mais passar informações sobre o caso à imprensa por telefone. 

Outros casos 

Desde então diversos casos suspeitos de envolvimento com o jogo suicida surgiram, sendo que até o momento pelo menos sete estados além de Minas Gerais investigam casos suspeitos de envolvimento com o jogo suicida: São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Pernambuco, Paraíba, Rio de Janeiro e Santa Catarina. 

Na madrugada de domingo (16) um adolescente de 16 anos foi encontrado morto na casa de sua família, no bairro Ribeiro de Abreu, na região Nordeste de Belo Horizonte. Apesar do delegado que investiga o caso afirmar que não acredita que o jovem estivesse participando do jogo da Baleia Azul, o pai da vítima relatou à reportagem de O TEMPO que viu um desenho de uma baleia no braço do filho após sua morte. Além disso, em uma de suas últimas postagens nas redes sociais o menor escreveu apenas: "foi culpa da baleia azul". 

Em Leopoldina, na Zona da Mata, a mãe de um rapaz de 18 anos procurou a polícia para pedir ajuda após descobrir que o filho estaria participando do desafio. Aos policiais, a mulher relatou inclusive que encontrou cortes nos braços do filho. Um inquérito foi aberto para investigar se o rapaz sofria ameaça e se foi coagido a entrar no grupo.

Ainda na Zona da Mata, desta vez em Manhuaçu, uma menina de 13 anos escapou da morte mesmo após cumprir uma das tarefas do desafio macabro e ingerir diversos medicamentos controlados. A garota, que também estava com os braços cortados, foi encontrada desmaiada em um quarto da casa por familiares. Ela foi socorrida e sobreviveu, sendo acompanhada por psicólogos agora. O caso também é investigado pela PC. 

O "Blue Whale Challenge"

Desafio começou na Rússia e já preocupa autoridades médicas em todo o mundo. O jogo consiste em incitar os participantes, geralmente em grupos secretos no Facebook, a completar 50 desafios, que conduzem lentamente à morte. O nome faz referência a uma crença popular que diz que a baleia azul seria capaz de se suicidar indo voluntariamente encalhar na praia e isto teria inspirado a "brincadeira".

No começo, as tarefas dadas aos adolescentes são mais simples: desenhar uma baleia em uma folha, passar a noite em claro ouvindo música triste ou vendo filme de terror. Depois, elas vão ficando mais perigosas.

Os participantes dessa prática cumprem uma tarefa por dia. A lista do que fazer é entregue aos poucos por uma espécie de tutor, quase sempre o administrador de uma página secreta no Facebook. A todo momento, eles são avisados de que este é um jogo sem volta.