Tutores de cães que morreram ou que estão internados por conta da ingestão de petiscos contaminados por monoetilenoglicol contabilizam que já há vítimas em ao menos 14 estados do Brasil. São pessoas que se reuniram em um grupo na internet para compartilhar relatos e buscar Justiça diante tragédia que já afetou mais de 100 animais.

Segundo a advogada Nayele de Freitas Guidetti, que organiza o movimento, são 65 cães mortos e 39 que permanecem internados até o momento. A própria advogada também faz parte do grupo de pessoas que foi prejudicado por conta da contaminação dos produtos.

 

“Meu cachorro comeu petisco da Everyday, chegou a ficar na UTI e fez hemodiálise, mas morreu no dia 7 do mês passado”, detalha Nayele, que perdeu o bulldog Zeca.

Com a chegada de cada vez mais membros, a ideia do grupo é reunir todos os tutores de cães que foram vítimas das contaminações para facilitar o esclarecimento de informações e, no futuro, ingressar com uma ação coletiva contra a empresa responsável pela contaminação do alimento direcionado para cães.

A Anvisa também apura a possível utilização de propilenoglicol contaminado por monoetilenoglicol na indústria alimentícia, o que pode afetar a saúde humana. Em Minas Gerais, até o momento, são 18 internações de cães e 12 mortes em investigação.

Recall dos petiscos

A Bassar Pet Food, responsável pelos petiscos contaminados, informou em seu site que está fazendo um recall de todos os produtos da marca fabricados desde fevereiro deste ano. Esse procedimento foi adotado após exames preliminares realizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) apontarem indícios de contaminação com etilenoglicol em insumos adquiridos de um dos fornecedores da empresa.

No grupo de tutores que foram vítimas dos produtos contaminados, já há relatos de casos que aconteceram em abril deste ano - cinco meses antes do escândalo vir à tona. Um destes casos é da gerente de markentig Ana Paula Pascoaletto, que vive em São Paulo. Ela perdeu o cão, Otto, em maio deste ano.

“O Otto teve pancreatite e um quadro de insuficiência renal. Ele tinha passado por exames há um ano e não tinha nada disso. Esses sintomas surgiram um dia depois que eu dei o petisco para ele”, diz a tutora, que havia comprado o mimo para o cãozinho pela primeira vez.

Segundo Nayele, que também é de São Paulo, a orientação é que todas as vítimas procurem uma delegacia mais próxima e registrem o caso.

O que causou a morte dos animais?

Exames de necropsia realizado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontaram existência de etilenoglicol no organismo de cães mortos. Perícia da Polícia Civil feita em petiscos também atestou a presença da substância no alimento. 

O composto é da mesma família do dietilenoglicol, substância apontada como a causa da morte de dez consumidores da cerveja Backer em Minas Gerais em 2019 e 2020. Ambas provocam danos severos aos rins.

Por que os petiscos estavam contaminados?

Esta é uma das principais perguntas que as investigações tentam responder. Conforme o Ministério da Agricultura, o problema teria sido causado pela contaminação do aditivo propilenoglicol, substância usada para produção de alimentos para animais e humanos, com o monoetilenoglicol. 

A princípio, a investigação identificou a contaminação em dois lotes de propilenoglicol — AD5053C22 e AD4055C21, ambos vendidos por uma fornecedora de matéria-prima, a Tecnoclean Industrial, com sede em Contagem, na região metopolitana de Belo Horizonte. A empresa alega atuar apenas como revendedora da substância. No entanto, na sexta-feira (9), o Mapa informou que há mais lotes contaminados.