Saúde

Profissionais do Eduardo de Menezes protestam por mais segurança no trabalho

Técnicos de enfermagem do hospital cobram maior disponibilização de EPIs adequados

Qua, 13/05/20 - 12h21
Técnicos de enfermagem do hospital Eduardo de Menezes, no Barreiro, protestam por melhores condições de trabalho | Foto: Alex de Jesus

Pouco mais de 10 técnicos de enfermagem do hospital Eduardo de Menezes protestaram em frente à instituição na manhã desta quarta-feira (13), com cartazes e palavras de ordem em uma caixa de som. A principal reivindicação do grupo é mais segurança no ambiente de trabalho. O hospital, na região do Barreiro, é uma das referências de Minas Gerais no tratamento da Covid-19, e hoje só recebe pacientes com suspeita da doença. Atualmente, a equipe assistencial do hospital conta com 447 profissionais — 185 técnicos de enfermagem, entre eles. 

A manifestação foi organizada pelo Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde). Além dela, quem aderiu ao protesto paralisou as atividades entre as 8h e as 16h desta quarta. Uma das reclamações recorrentes ouvidas pela reportagem foi a falta de disponibilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados, especialmente capotes.

Os capotes são uma espécie de manta que cobre dos ombros aos joelhos dos profissionais, e os técnicos alegam não estar recebendo capotes impermeáveis descartáveis, que seriam os mais adequados para o trato com os pacientes.

De acordo com os técnicos de enfermagem, eles estão colocando um capote de pano sobre capote descartável e utilizando a mesma vestimenta em mais de um paciente. "Se um paciente não é positivo (para Covid-19) vai se tornar. Eu mexo com um paciente e depois encosto no outro com o mesmo capote. É injusto com eles", diz a técnica em enfermagem Beatriz Teixeira, 46.

Outra acusação sustentada pelo Sind-Saúde são casos de pacientes que morrem antes do resultado dos exames de Covid-19 serem liberados, o que a diretora do sindicato, Neuza Freitas, considera grave. "Já não acredito nos dados do governo do Estado", acusa.

A técnica de enfermagem Geisa Gonçalves, 40, relata a mesma coisa. "Os pacientes chegam e morrem antes do resultado do exame", atesta. Ela se diz despreparada para trabalhar no CTI. Geralmente, ela atende na área de assistência e foi transferida para os cuidados intensivos devido à pandemia. Mas não recebeu treinamento para lidar com as rotinas da ala, segundo ela. O Sind-Saúde afirma que já solicitou uma investigação sobre o hospital Eduardo de Menezes ao Ministério Público. De acordo com a 

Funcionários relatam rotina de tensão no hospital

Grávida de nove meses, uma técnica enfermagem de 30 anos, que escolheu não identificar, preferia estar de licença. Mas, segundo a técnica, a gestão do hospital ofereceu apenas que ela tirasse férias antecipadamente, o que a funcionária não aceitou.

"É uma doença nova e não sei se eu poderia contaminar o meu bebê" diz. Ainda não há conclusão científica se bebês no útero podem ser contaminados pelo novo coronavírus. Em meio à pandemia, a técnica foi transferida da assistência direta aos pacientes para o setor de esterilização de material hospitalar. Por ter contato com peças de respiradores usados, ela diz que teme se contaminar diariamente.

A técnica de enfermagem Luciene Bispo, 44, afirma ter desenvolvido depressão e síndrome do pânico devido ao trabalho no hospital e chegou a ficar afastada durante sete dias após suspeita de contaminação por coronavírus. De acordo com ela, foi enviada para o trabalho no CTI sem ter tido experiência na área. “Disseram que era pegar ou largar”, afirma. 

Em casa, o estresse continua para alguns trabalhadores. “Tem hora que fico neurótica. Eu tenho uma filha de 11 anos e um filho de 25, asmático. Meu marido é hipertenso e tem problema respiratório. Tomo banho aqui mesmo, chego em casa, tiro a roupa e ninguém pode chegar perto de mim”, relata a técnica Beatriz Teixeira.

Respostas da Fhemig

Em nota, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) argumenta que “tem empreendido esforços no sentido de disponibilizar EPIs visando manter a segurança assistencial de profissionais e segurança do paciente”. A fundação afirma que não houve desabastecimento de nenhum item a nenhuma das unidades hospitalares que gerencia e que os estoques são verificados diariamente.

A fundação explica, ainda, que vem investimento “um valor superior” a R$ 40 milhões na compra de EPIs — entre os itens previstos, ela lista mais de 400 mil máscaras N95 e mais de 470 mil máscaras cirúrgicas descartáveis. A Fhemig também destaca que suas diretrizes de assistência e gestão estão alinhadas com a gestão Estadual, Federal e com a Organização Mundial da Saúde (OMS), tendo a estrutura necessária para o cuidado os pacientes de Covid-19. 

Questionada pela reportagem sobre a acusação de não fornecer os capotes ideias aos funcionários, a Fhemig respondeu que existe contingenciamento de EPIs descartáveis. Ela reforçou a regra de que, se os equipamentos estiverem úmidos, molhados, contaminados ou danificados devem ser descartados e substituídos, e que todos os funcionários têm acesso aos protocolos de uso e recebem treinamentos de segurança. 

Sobre a suspeita de subnotificação dos casos no hospital Eduardo de Menezes, a Fhemig diz que todos os casos suspeitos e confirmados de Covid-19 são notificados e divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). A respeito dos funcionários do grupo de risco, a fundação afirma que o protocolo é remanejar trabalhadores para áreas em que não tenham contato com casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 ou com material contaminado, caso os funcionários não tenham sido afastados.  

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