Praticamente “renascido das cinzas”, ou do barro, melhor dizendo… Esta é a reação de alguns dos clientes ao ver o “antes e depois” dos tênis higienizados pela Clean Shoes. A loja, aberta em outubro do ano passado no Mercado Novo, no Centro de Belo Horizonte, é especializada no serviço e vem ganhando atenção dos adeptos da moda street wear, que costumam desfilar na capital com modelos que podem custar até R$ 5 mil.
Larissa Mayla Rocha, de 29 anos, sócia-proprietária do empreendimento ao lado de Samuel Lopes e Elaine Ramos, conta que, em apenas três meses, o trio já conseguiu recuperar o investimento no negócio, de cerca de R$ 22 mil. “No primeiro mês, com 12 dias já eram quase 60 clientes. Em novembro foi o melhor mês, com quase cem pessoas”, explica Rocha. A meta agora, segundo ela, é atingir o marco de cem pedidos ao mês.
A Clean Shoes oferece higienização a partir de R$ 50 para tênis com material simples e R$ 70 nos casos mais especiais, produzidos com suede ou camurça, por exemplo. A impermeabilização, com produto próprio, desenvolvido pela casa, é R$ 25. A loja também faz a remoção de “rugas” no tênis a R$ 30, a customização a partir de R$ 50 e a reconstrução a partir de R$ 110. Acessórios como bonés e mochilas também podem ser levados para a higienização com o custo entre R$ 40 e R$ 60 pela limpeza.
“Uma só pessoa leva de cinco a seis tênis. A ideia é aumentar isso. O que facilita muito é que o retorno é rápido, com custo mensal baixo. A técnica não é custosa: você investe por um mês e usa por três meses”, explica Larissa.
A empreendedora conta que o negócio começou a partir de um “talento” único e o entusiasmo do seu amigo Samuel em lavar tênis com técnicas ensinadas pelo pai. Ele começou a lavar os dele e o de sua família, passando para os pares dela, que trabalhava neste nicho de moda street wear e tinha tênis muitos específicos, de valor mais alto. “Chegou um momento que ele começou a lavar de outros amigos, de amigos de amigos… E teve um dia que ele tinha cem tênis dentro de casa para lavar, num espaço pequeno”, lembra Larissa, que conta que aí pôde validar a ideia de negócio com o amigo, a partir da demanda comprovada do serviço.
Neste ponto, foi criada uma metodologia de limpeza e, juntos, os sócios buscaram o melhor ponto para a loja. “O Mercado é muito acessível, está na área central, e tem uma exposição muito grande”, explica a empresária.
Larissa conta que os sócios agora estudam um modelo para levar a marca para festivais e festas, fazer ações fora do espaço físico da loja no Mercado Novo, e, quem sabe até virar uma franquia. “Vamos focar em ativar a marca e trazer novos serviços. Tem gente que tem tênis antigo, não quer vender nem jogar fora, aí pode fazer a customização”, explica.
Samuel desenvolveu técnica exclusiva para higienização de tênis na Clean Shoes. Foto: Fred Magno/O Tempo
Tênis: um ativo para investimento
Até o momento, o tênis mais caro que passou pelas mãos de Samuel foi um Nike Off-White, avaliado em R$ 5 mil. Mas diversos modelos raros da Adidas, Puma, New Balance, Yeezy, Vans, All Star, Mizuno, Cloudmonster e Gucci já foram higienizados na Clean Shoes.
“Eu, por exemplo, tenho um tênis que vale R$ 2.500. Mas é porque este valor não é o de compra, é o da valorização [para revenda]. A compra do tênis mesmo sai por uns R$ 800”, contaa Larissa.
A empreendedora explica que no mercado dos tênis há uma valorização pelo hype cultural que se cria entorno do modelo ou pela exclusividade, quando apenas poucas unidades do lançamento chegam ao Brasil. “O tênis se valoriza. Vale quase uma moto se você quiser vender”, conta Larissa para uma repórter boquiaberta.
Ela revela que, atualmente, o site Stock X, funciona como uma “bolsa de valores de tênis”. “As pessoas usam a média de valores de lá para revender o tênis”, explica. Segundo Larissa, é comum quem compre pares apenas esperando por sua valorização. “O tênis veio dessa cultura preta, desse valor sentimental e cultural, e virou item de colecionador, de mercado mesmo”, ressalta.
Larissa ainda destaca que há três pessoas pretas na linha de frente do negócio, que além de representar a cultura negra, acaba tendo um impacto social. “Tudo ali foi pensado de uma maneira estratégica, mas também com esse vínculo emocional pessoal mesmo”, finaliza.