A agenda de apresentações da cantora Laís Arantes, que se apresenta principalmente em bares de Belo Horizonte, costumava ficar lotada. Para conseguir uma data, era preciso até dois meses de antecedência. Desde que o temor pela chegada do coronavírus no país, no entanto, o volume de marcações caiu. Quando a pandemia se instalou em solo brasileiro, começaram os cancelamentos. Hoje, a artista não tem perspectiva de quando voltará aos palcos. Autônoma, esta é sua única fonte de renda.

"Por segurança, é claro que entendo que este é o melhor caminho", reconhece ela, emendando que, ainda assim, a situação causa preocupação. "Estou me sentindo perdida, sem saber o que fazer. A previsão é que a situação não vá ser amenizada tão rápido e isso vai implicar no orçamento", lamenta.

Laís vem observando nascentes e emergentes iniciativas do meio artístico no sentido de oferecer suporte uns aos outros. "Ainda não vi nada do tipo em relação aos contratantes, o que entendo, afinal, não terão arrecadação. Todo mundo foi pego de surpresa", frisa. Quanto a ações do governo, ela não nutre grandes expectativas.

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E mesmo sem ter no horizonte a perspectiva de ganhos, Laís junta-se a uma espécie de ciranda de festivais online e faz das redes sociais um canal para oferecer ao público algum entretenimento. "A gente precisa de alternativas, até para levar um pouco de tranquilidade para essas pessoas", analisa.

Artistas lançam disco na sala de suas casas

No mesmo sentido, Gabriel Guedez e Thobias Jacó, do Duo Aduar, decidiram levar para a web os shows que marcam a entrada da dupla no cenário musical brasileiro com o lançamento de seu primeiro álbum, o disco Riachinho das Pedras, que foi disponibilizado nas plataformas digitais no dia 28 de fevereiro.

Depois de uma apresentação na Livraria Cultura da avenida Paulista, em São Paulo, eles estariam na Casa da Viola, em São João del Rei, nesta semana. Como outras atividades culturais, que levam a uma aglomeração de pessoas, o evento foi adiado.

"Estamos chegando agora, é nosso primeiro trabalho. Mas é também um momento de nos resguardar, de pensar coletivamente", sublinha, reconhecendo que o adiamento do espetáculo causou neles "um impacto", até porque tinham "grande expectativa". "Muitos artistas estão sofrendo com isso, como também toda comunidade está. E, claro, teremos um forte impacto econômico", ressalta.

Sem se resignar, o músico destaca as iniciativas de shows online. Ele e Jacó aderiram ao formato. Na última quarta, o duo se apresentou no Festival Da Sala de Casa, organizado coletivamente por artistas de todo o país. "É gente do Brasil inteiro se apoiando em um trabalho maravilhoso. Todo mundo precisa de cultura e esta é uma forma de estar próximo", diz, celebrando a adesão rápida do público.

Estreia na web

Quem também decidiu fazer das redes sociais um palco é o veterano Chico Lobo. O violeiro, que é uma espécie de padrinho do Duo Aduar, confessa alguma apreensão com sua chegada a um espaço para ele ainda muito novo. "A gente não está muito habituado com esse universo. Vai ser meu primeiro show online, sobretudo, da minha casa. São provocações que esse processo, que essa pandemia, geram", reconhece ele, que fará apresentação às 17h, no dia 28 de março. 

"Estamos produzindo meu próximo disco e pensamos em formas da arte chegar às pessoas. A gente pensou em criar esse ingresso colaborativo, em que a pessoa pode fazer o pagamento ou não", expõe. "O certo é que da minha casa, do meu ambiente, vou fazer o show. E, desta forma, vamos contribuir um pouco para que as pessoas tenham acesso à arte e para que a gente tenha canais para chegar a elas mesmo em tempos de crise", reforça.

Chico já se empolga imaginando que o primeiro show pode abrir as portas para outros. "Podemos formar uma rede. Podemos montar festivais de viola, da música mineira. Percebi que temos na web uma grande saída", argumenta. "Vamos criar formas, eventos, vamos nos movimentar e nos corresponder, vamos instigar nosso público a ir mais nas plataformas digitais", aponta. "Em tempos de crise, crie!", finaliza.

Festivais online se multiplicam

A reportagem de O Tempo fez um apanhado de festivais e shows com transmissão online para assistir sem sair de casa. Em casa, o público poderá acompanhar apresentações de novos nomes da música brasileira e de artistas consagrados. Do pop ao sertanejo, da MPB ao funk: alternativas para driblar a quarentena já são fartas!