Literatura

Paulo Leminski deixou também um grande acervo de canções

Estrela Leminski tem pesquisado e difundido o trabalho do pai, que foi compositor, além de consagrado poeta

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 18 de agosto de 2019 | 00:03
 
 
Paulo Leminski compôs em parceria com Moraes Moreira, Itamar Assumpção e teve canções gravadas por Caetano Veloso e Ney Matogrosso, entre outros Monica Vendramini/Folha Imagem

Uma das imagens mais vivas na memória de Estrela Leminski, filha do poeta Paulo Leminski, é do seu pai tocando o violão, e, portanto, diferente do estereótipo do escritor sentado, fazendo anotações dos seus versos. “As pessoas me perguntam como é crescer com um pai escritor, mas a maior recordação que tenho dele é cantando e tocando com outros parceiros. Eu sempre o vi mais como músico, na verdade”, comenta Estrela.


Também escritora, compositora e cantora, ela vem trabalhando para mostrar ao público essa outra faceta do artista que poucos ainda conhecem, além de seguir com seus projetos autorais. Em 2014, por exemplo, Estrela gravou “Leminskanções”, álbum duplo com faixas de Leminski já conhecidas e algumas inéditas. Ela chama atenção que seu pai não foi, portanto, apenas letrista, mas deixou um acervo de canções, que revela seu forte lado musical.

“Ele era um supermelodista, mais até do que violonista, instrumento que aprendeu a tocar de maneira autodidata. O violão era um suporte para o que ele criava melodicamente, algo que é separado do texto. Ele se expressava por meio de mil formas textuais, mas a melodia, para ele, era uma questão de honra. Ele dizia que precisou virar compositor para que pudesse escrever poesias do jeito que fazia”, relata Estrela. 

Ela conta que esse disco deriva de uma pesquisa com o intuito de organizar um livro de partituras com as canções de Leminski. Nesse processo, Estrela revisitou entrevistas e encontrou depoimentos em que seu pai, inclusive, criticava a forma como ele era deixado de fora do panorama musical brasileiro.

“Ele mesmo se defendia e ficava muito puto quando diziam que ele não era compositor ou quando listavam os compositores de Curitiba e ele sequer era lembrado”, conta Estrela.

Em conversas com Zeca Baleiro e Arnaldo Antunes, ela também pôde perceber a maneira como as canções de Leminski são referências para diversos músicos. “Eles me falaram que sempre foram fãs das poesias dele, mas que, além disso, as músicas (de Leminski) também havia os influenciado”, completa ela.

Leminski compôs com Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes e Moraes Moreira, entre outros. Suas canções foram gravadas por nomes consagrados, como Caetano Veloso (“Verdura”), Paulinho Boca de Cantor (“Valeu”), Zizi Possi (“Filho de Santa Maria”), Ney Matogrosso (“Promessas Demais”) e Angela Maria (“Sempre Ângela”).

Atualmente, contudo, ela percebe que há um interesse maior para se musicar os poemas de Leminski em vez de buscarem trabalhar com o conteúdo musical, o que ela vem se esforçando para tornar cada vez mais público.

“Quase todos esses poemas já foram musicados quatro vezes; então, projetos como esse acabam me dando uma desestimulada. E ele (Leminski) tem um acervo inédito fantástico. Eu fico também provocando os parceiros dele, como Moraes Moreira, para gravar as canções que ninguém ainda conhece”, frisa Estrela. 

No livro de partituras produzido por ela, pode-se encontrar transcrições de faixas que ainda não foram registradas. Estrela ainda especula que existam outras que ela sequer teve acesso. “Como alguns parceiros não registraram algumas canções, elas ainda estão para serem descobertas”, revela Estrela.