Câncer

Agrotóxico pode ser uma das causas de linfoma

Segundo Inca, tumores do sistema linfático quase dobraram nos últimos 25 anos

Por Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2016 | 03:00
 
 
Edson Celulari recebe o carinho de sua filha com Claudia Raia Foto: Reprodução/Instagram

Nesta semana, o ator Edson Celulari, 58, anunciou estar com um tipo de câncer do sangue considerado raro, o linfoma não Hodgkin. A doença tem ganhado mais notoriedade, não só por ter acometido pessoas públicas – como o ator Reynaldo Gianecchini e a presidente afastada Dilma Rousseff –, mas também pelo salto no número de casos nas últimas décadas, sendo o câncer que mais cresceu no mundo. Uma das hipóteses para esse crescimento é o uso de agrotóxicos.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o número de casos de linfoma não Hodgkin praticamente dobrou nos últimos 25 anos. A estimativa para este ano é de 10.240 registros da doença – 5.210 em homens e 5.030 em mulheres.

Entretanto, as causas do aumento ainda são desconhecidas. “O linfoma é uma doença ‘democrática’. Ela atinge igualmente homens e mulheres de todas as idades. Mas atinge principalmente os mais velhos. A população acima dos 60 anos está aumentando no mundo, e esse é um dos componentes do aumento da doença”, explica o hematologista Carlos Chiattone, que é um dos diretores da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e coordenador do núcleo de linfomas do Hospital Samaritano de São Paulo.

Porém, o envelhecimento da população explica somente uma parte do crescimento do número de linfomas, o que faz os cientistas acreditarem que há alguma causa ambiental relacionada. “Uma das hipóteses é que os agrotóxicos sejam a causa. Ainda não é possível afirmar porque esses estudos demandam acompanhar as populações por longos períodos, mas é uma possibilidade”, aponta Chiattone.

Chances. Se por um lado os casos de linfomas estão aumentando, por outro o prognóstico de cura é animador. “Se o tumor for mais agressivo, as chances de cura são em torno de 60% a 70%. Se o diagnóstico for feito em estágio inicial, sobe para 90%. Até os tumores indolentes, que são incuráveis, são bem possíveis de ser controlados”, comenta o patologista Fernando Soares, diretor do departamento de anatomia patológica do hospital AC Camargo Cancer e membro da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).

Os linfomas são o campo da medicina em que as imunoterapias (tratamentos que vão diretamente nas células cancerígenas) estão mais desenvolvidas, aumentando ainda mais as chances do paciente.

[infografico ID] 1.1326835 [/infografico ID]

Celulari

Rotina. O ator Edson Celulari afirmou que reagiu bem a sua primeira sessão de quimioterapia. Ele segue uma alimentação balanceada, não se queixa de enjoos e mantém sua rotina de trabalho.

Minientrevista
Carlos Chiattone, Hematologista

O que são os linfomas?

Primeiro, é importante dizer que linfoma não é uma única doença. Existem mais de 60 tipos. É o câncer do sistema de defesa do organismo.

Um dos principais sintomas é o inchaço dos gânglios, que também acontece em casos de inflamações. Como diferenciar uma coisa da outra?

O inchaço da infecção dói porque os gânglios aumentam muito rapidamente. O gânglio do linfoma não dói e tem uma consistência que parece borracha. Além disso, o paciente pode ter outros sintomas associados, que são febre, suor noturno muito exuberante e emagrecimento brusco.

Há fatores de risco para a doença?

De alguns tipos, sim. Por exemplo, sabemos que pacientes imunossuprimidos ou que tomam imunossupressores têm mais linfoma. Alguns tipos são ligados a algumas infecções. Mas, da expressiva maioria, não sabemos a causa.

Como é feito o tratamento?

Essa foi a área da medicina em que foram iniciados os estudos da imunoterapia. Em algumas doenças, já começamos a abandonar o uso da quimioterapia.

Como funciona a imunoterapia?

Pegamos uma célula com câncer, levamos para um laboratório e identificamos as estruturas que estão em sua superfície. Então, desenvolvemos um anticorpo contra ela. Quando injetamos esse anticorpo no organismo do paciente, ele vai direto procurar a célula doente, onde está aquela estrutura. É uma ação muito mais direcionada. (RS)