Um dos aspectos mais interessantes da animação “Divertidamente”, lançada em 2015 pela Pixar, é a apresentação de nossas emoções na forma de personagens que trabalham na sala de comando (o cérebro), dividindo a função de guiar a protagonista em seu dia a dia. Todos têm a melhor das intenções, inclusive a Raiva. Defensor da justiça, ele sempre extravasa com agressividade quando algo sai fora do controle. Se fosse um funcionário de uma empresa, porém, ele talvez já estaria com uma carta de demissão na mesa.  

 “O silêncio é o melhor dos mundos”, avisa Cilene Noman Lamas, especialista em gestão de negócios, trainer comportamental e master coach. Ela é uma grande adepta de contar até dez antes de fazer qualquer tipo de comentário que possa soar agressivo ou desnecessário. “Manter o equilíbrio, refletir e depois se posicionar. É o que chamamos de inteligência emocional”, observa a professora, que já trabalhou com centenas de profissionais para melhor prepará-los para uma vaga de emprego.  

“Quando você não responde no ato da emoção, esperando a hora certa para conversar, o resultado tende a ser melhor para ambos os lados”, ensina Cilene. Essa pausa é muito benéfica e extrapola o mundo trabalhista, favorecendo a saúde mental e o autoconhecimento. “É um aprendizado que se perpetua para a vida, para as relações com o companheiro ou companheira e com os filhos”, pondera. Falar menos pode significar fortalecimento da memória e prevenção das doenças depressivas e cardiovasculares.   

Como diz o ditado, “o silêncio vale ouro”. E, no caso do mundo corporativo, vale a permanência no trabalho. As empresas estão cada vez mais se atentando para as relações interpessoais. As soft skills (habilidades comportamentais) são tão importantes quanto as hard skills (as competências técnicas). “O candidato vai ao encontro do perfil da função, da imagem da empresa e da cultura que ela defende? São aspectos observados pelos recrutadores e psicólogos no momento da pré-seleção”, avisa Cilene.  

A comunicação no ambiente corporativo tem que ser assertiva, abrindo a boca nos momentos certos. “Não pode ser agressiva ou passiva, porque essa comunicação não vai agregar nada. Muitas vezes, os colaboradores não pensam muito ao colocar as suas emoções para fora e se abrem com facilidade”, registra. Em alguns casos, esse “livro aberto” está nas próprias redes sociais. “Você tem o direito de colocar o que bem entende, mas acaba extrapolando, mostrando uma imagem não condizente com a da empresa”.  

 E não adianta também passar uma imagem que foge totalmente à essência da pessoa. Ela acabará sendo “descoberta”. No momento de pressão, não conseguirá manter a mentira por muito tempo. É melhor passar por um processo de autoconhecimento para tentar iniciar uma mudança. “Saber quem eu sou, reconhecendo os meus pontos fortes e buscando melhorar os negativos. É fundamental que esteja disposto a passar por esse processo de desenvolvimento”, avalia.  

 A especialista explica que é preciso saber a hora de se manifestar. O que está longe de dizer que devemos aceitar tudo que nos é imposto e nos deixa incomodados. “O que adianta ficar 100% em silêncio se está insatisfeito e não está rendendo? Nesse sentido, as empresas estão buscando ter uma cultura saudável. A cultura organizacional é muito importante hoje em dia. Quem é essa empresa, o que ela valida e o que propõe para o mercado? Se ela valoriza o colaborador, dá feedback, realiza treinamentos, o ambiente se torna saudável”, avalia.  

As empresas que não investem numa gestão humanizada têm muito a perder. “É como aquele ditado: ‘Se deixar laranjas podres no cesto, corre o risco de contaminar todo o resto’. É preciso estimular a motivação e o engajamento, dar voz ao colaborador, para que ele não se sinta insatisfeito”, analisa. Na contramão disso, as perdas produtivas e financeiras acabam pesando na balança. “O colaborador não vai querer ficar e haverá alta rotatividade. Esse ‘turnover’ gera despesas, ao contratar, demitir e ter que contratar de novo”.