Às vésperas do sínodo (assembleia de bispos) na Amazônia, os ânimos estão exaltados no Brasil. Um grafite com a imagem da ativista sueca Greta Thunberg, 16, em Sinop (MT), a 500 km de Cuiabá, foi criticado por vereadores e virou alvo de vandalismo nesta terça-feira, 1º. O rosto dela foi riscado com a frase “Lula tá preso babaca”. Segundo a prefeitura, a arte – criada para ser uma reflexão sobre as questões ambientais – será apagada.
A imagem havia sido feita pelo artista acriano Matias Souza durante um evento de grafite com o objetivo de revitalizar o viaduto São Cristóvão. A pintura apareceu pichada apenas três dias depois de concluída.
Greta começou a fazer protestos pelo clima em agosto do ano passado e, desde então, reuniu milhares de jovens pelo mundo e discursou na cúpula do clima da ONU.
Souza afirmou que decidiu pintar a ativista porque queria provocar uma reflexão. “Como a Greta virou um rosto conhecido, quem visse o painel ligaria a imagem a questões ambientais’, disse Souza.
O grafite do cacique Raoni Metuktire, feito pelo amazonense Raiz Campos, também foi atacado. Raoni é considerado uma das maiores lideranças indígenas no país e se tornou alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro. “Mato Grosso tem a região do Xingu e já viu muitos massacres e chacinas contra indígenas. Decidi pintar um representante da luta da região que dedicou sua vida à proteção dos povos nativos e do meio ambiente”, disse o artista.
As ilustrações desagradaram a políticos e representantes do agronegócio da região. Durante sessão na Câmara Muncipal de Sinop anteontem, parlamentares criticaram as duas ilustrações. O vereador Hedvaldo Costa (PR) afirmou que os grafites eram uma tentativa de os artistas classificarem os produtores rurais da região como “destruidores dos índios e da natureza”. “Quem faz o agro está cumprindo a lei”, disse.
“Decidimos que a imagem dela será substituída por uma arara ou um matrinxã, que é um peixe típico da região”, afirmou o diretor de Cultura de Sinop, Daniel Coutinho. Quanto ao grafite de Raoni, ele disse que ainda não há definição se a imagem será apagada.
“Se os organizadores do evento entenderem que é melhor apagá-lo também, poderão fazer isso”, disse. Para Coutinho, as imagens fugiram da proposta. “O objetivo era reproduzir a fauna e a flora da região”, diz.
"Interesse no minério"
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o interesse demonstrado pela Amazônia se refere, na verdade, ao minério. A declaração foi feita em discurso a garimpeiros de Serra Pelada (PA) em frente ao Palácio do Planalto, após Bolsonaro receber representantes do grupo. Ele afirmou que vai divulgar um vídeo sobre a exploração do grafeno, que ajudaria a “abrir a cabeça da população”, e voltou a criticar o líder indígena Raoni Metuktire, dizendo que ele não fala pelos índios.
“Esse vídeo é muito bom para abrir a cabeça da população de que o interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério. E o Raoni fala pela aldeia dele, fala como cidadão, não fala pelos índios, não”, disse.
Os garimpeiros, que fazem parte da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), pedem uma “administração militar” da área. Bolsonaro afirmou que enviará as Forças Armadas se houver amparo na lei. Ele ainda disse que a mineradora Vale cometeu um “crime” na década de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso. “A gente conhece o potencial mineral do Brasil. Eu sei como a Vale do Rio Doce abocanhou, no governo FHC, o direito mineral no Brasil. O crime que aconteceu”, disse.
Em nota, a Vale informou que não tem atividades em Serra Pelada nem qualquer operação de mineração subterrânea no Pará.
“Interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério.”
Jair Bolsonaro
Presidente
Bispo prega não à mineração
Numa prévia de como o clero se posicionará no Sínodo da Amazônia, entre os dias 6 e 27 deste mês, o bispo de Marajó (PA), dom Evaristo Pascoal Spengler, integrante da comitiva do Brasil que viaja ao Vaticano na próxima semana para a assembleia especial com o papa Francisco, fez, ontem, um pedido de rechaço à mineração e a grandes obras na região, o que vai contra planos do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Dom Evaristo cobrou, em audiência na Câmara, a “suspensão imediata da implementação de megaprojetos que agridem o bioma da Amazônia”. “Queremos pedir um não a projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na Amazônia, não à regularização de novos garimpos. Não às rodovias, ferrovias e hidrelétricas que destroem o meio ambiente. Nenhum grande projeto pode ser implantando sem a consulta prévia, livre e informada”, afirmou o bispo de Marajó. (Com agências)