A insegurança com o corpo sempre foi uma questão para a contadora Janaína*, de 27 anos. Mas os aspectos que a incomodavam ganharam ainda mais intensidade após o nascimento do primeiro filho. “Depois que engravidei, os meus peitos deram uma caidinha, a barriga ficou com estrias, e a minha vulva também já não era a mesma”, confessa. O ganho de peso dos últimos anos fez com que ela se sentisse ainda pior. “Infelizmente a sociedade impõe uma beleza inatingível, e acabamos nos comparando com o padrão. Tento ver pessoas iguais a mim e enxergar beleza nelas também, mas é difícil”, admite. 

Janaína não está sozinha. A insatisfação com a aparência costuma ser uma constante entre as mulheres. É isso o que explica a sexóloga Adriana Moreira Sad. “Em geral, a mulher não tem uma aceitação do próprio corpo. Ela não se acha bonita. E isso traz um medo de não agradar ao parceiro durante a relação sexual”, afirma a médica, que atua também como ginecologista e obstetra. 

No caso de Janaína, o impacto dessa insegurança fica ainda mais evidente durante as relações sexuais com o parceiro. “Faço sexo com as luzes apagadas por ter vergonha do meu corpo. Prefiro que seja assim para que eu consiga me concentrar no sexo, e não no constrangimento de o parceiro estar vendo meus defeitos”, diz.

Esses “defeitos” aos quais Janaína se refere podem ser os mais variados possíveis. Segundo a médica Adriana Moreira Sad, reclamações sobre o formato da própria vulva, por exemplo, têm sido cada vez mais comuns em seu consultório. “Com muita frequência, mulheres jovens têm reclamado da aparência, dizendo que os lábios exteriores são muito grossos, caídos, escuros ou até mesmo que os lábios internos são muito grandes. E isso faz com que elas busquem uma cirurgia chamada ‘ninfoplastia’”, conta.

A justificativa por trás do desejo pelo procedimento é, na maioria das vezes, a insegurança. “Isso vem de a mulher não estar bem com o próprio corpo, então ela acaba achando que a vulva também tem que estar em um padrão para que o seu parceiro ou parceira se sinta mais excitado na hora da relação sexual”, afirma Adriana.

Outra questão que também pode deixar mulheres inseguras durante a relação sexual é o próprio orgasmo. Não por acaso, é comum que elas finjam que atingiram o clímax no sexo. Conforme um trabalho científico publicado em 2022, no periódico “Sexual Medicine”, da Sociedade Internacional de Medicina Sexual, os principais motivos para o fingimento estão relacionados ao receio de abalar a autoestima do parceiro e o temor de passarem a impressão de que há algo errado com elas mesmas. 

O medo de não ter um orgasmo é, também, outro fator que pode acabar impactando a relação sexual. “Converso muito com as minhas pacientes para explicar que não é toda relação que terá orgasmo. E que ele com a penetração não é fácil, a maioria delas tem com o massageamento do clitóris, seja pela masturbação, seja pelo sexo oral. Então eu aviso para que elas não fiquem muito obcecadas com isso. Brinco até que o leite vigiado não ferve. E, se ela fica pensando muito que vai gozar, ela não vai. A questão é relaxar e se entregar”. 

Homens também sofrem com imposições da sociedade

As pressões sociais acabam impactando também as inseguranças masculinas durante a relação sexual. “O principal fator, no caso deles, é a questão do desempenho, que é o mais cobrado pela sociedade. Infelizmente, pela cultura da pornografia, os homens têm essa questão com a performance, o medo de brochar e de não dar conta da mulher que está com ele, é mais forte”, explica Adriana.

O temor de “falhar” durante o ato sexual, inclusive, acompanha a maioria dos homens brasileiros com mais de 35 anos. É isso o que aponta uma pesquisa realizada pela farmacêutica Bayer em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em 2015. Conforme o estudo, que ouviu 3.200 pessoas no Brasil, 64% dos entrevistados têm medo de brochar.

Mas, mesmo que a questão seja associada aos homens mais velhos, a apreensão tem sido comum também entre os mais jovens. “Temos visto uma quantidade crescente de homens procurando tratamento, querendo usar Viagra, por medo de não agradar à parceira”, conta a sexóloga Adriana Moreira Sad. Além da disfunção erétil, outras questões fisiológicas também estão entre os temores masculinos. “Eles têm medo de ter a ejaculação precoce, de ficar muito excitados, atraídos pela pessoa. Isso, para eles, costuma ser um desastre que às vezes é pior do que não ter ereção”, afirma a especialista. 

Diálogo entre o casal e autoconhecimento ajudam a superar inseguranças

Para a sexóloga Adriana Moreira Sad, a conversa entre os parceiros é o melhor caminho para tornar o sexo mais agradável. “Muitas vezes, as primeiras relações são um pouco sem jeito, e o casal, depois, vai achando uma forma para melhorar a sexualidade de ambos. Por isso o diálogo entre os parceiros é importante”, explica. 

Para além do diálogo – e até antes dele –, é primordial que cada uma das pessoas que estão no relacionamento tenha um bom conhecimento de si mesma. “Fazer uma terapia para se conhecer, ter a prática masturbatória. Tudo isso é importante tanto para o homem quanto para a mulher, porque eles vão reconhecer neles mesmos qual é o ponto que faz com que eles se sintam mais excitados, a velocidade, a pressão, a posição”, enumera. “A partir disso, fica muito mais fácil conduzir o parceiro durante uma relação”.

*Nome fictício