Depois da Inteligência Artificial (IA), um novo conceito começa a ganhar espaço: a inteligência aumentada. Enquanto a IA é a ideia de um sistema que reproduz a cognição humana e funciona de forma autônoma, a inteligência aumentada tem como base sistemas com tecnologia cognitiva que apoia o ser humano com planejamentos e análises para que ele tome as melhores decisões. Suas aplicações prometem gerar novos conhecimentos, preparando as pessoas para um melhor desempenho em questões enfrentadas em seu cotidiano.
Como a inteligência aumentada funciona? Ela trabalha em conjunto com a IA e a ciência de análise de dados, com o objetivo de tornar as informações úteis para as pessoas, otimizando e valorizando o tempo delas. Ela busca descobrir conhecimento a partir de uma quantidade de dados que podem ser usados na tomada de decisões, assim como fazer previsões, análises e auxiliar na elaboração de estratégias.
Como a inteligência aumentada pode ser aplicada no cotidiano? Temos múltiplas aplicações tanto para atividades do dia a dia quanto para as mais estratégicas. Em casa, ela pode auxiliar na iluminação mais adequada para cada ambiente ou no melhor tipo de comida que você pode comprar e consumir. Em situações mais complexas, os governos poderiam, por exemplo, tomar decisões assertivas com o uso da inteligência aumentada nas relações que desenvolvem com outros países.
Por que ela pode ser mais interessante para a sociedade? De forma simples, a IA se concentra em “replicar” de forma tecnológica o que o ser humano é capaz de fazer hoje, o que não é pouco, mas tende a “automatizar” as atividades cognitivas. Já a inteligência aumentada, que é o que começa a ser explorado de forma intensiva no meio acadêmico e em situações de negócio, trata de aplicações nas quais se complementam as habilidades cognitivas dos seres humanos.
Trata-se, então, de humanizar a tecnologia? Sim. Quando você precisa tomar decisões importantes, como qual palavra dizer, qual informação dar a alguém, a máquina não pode fazer isso, porque é muito complexo. Quando temos complexidade e estamos numa posição em que nos deparamos com muitas informações, precisamos da inteligência humana. Por isso, é necessário investir nosso tempo na tomada de decisão, e não apenas na captura de informações.
Em sua opinião, a inteligência aumentada oferece riscos? Precisamos ter muito cuidado, porque ainda não temos como determinar a amplitude dessa tecnologia. Não é possível falar em combinação de tecnologia e humanidade sem nos preocuparmos até onde podemos ir, porque pode ser perigoso. Por exemplo, alguns estudantes de Montreal, no Canadá, conseguiram desenvolver um dispositivo que reproduzia perfeitamente a voz do ex-presidente Barack Obama. Imagine o que não poderia ser feito se essa tecnologia estivesse em mãos erradas?
Quais são os países que se destacam no desenvolvimento desse tipo de tecnologia? Hoje, EUA e China são os países mais competitivos na corrida da inteligência tecnológica em geral, investindo bilhões e bilhões de dólares todos os anos. No entanto, eles focam apenas em tecnologia, literalmente, numa tentativa de descobrir mais e mais coisas. Essa é a grande diferença para lugares como Brasil e Europa, cujas culturas definem que o maior investimento deve ser no ser humano. Não podemos ter uma abordagem singular da tecnologia. Acredito que devemos usar a tecnologia para transformar a sociedade em algo sustentável. A saída é associar o avanço tecnológico com a humanidade. Essas aplicações podem se dar no campo da economia, da segurança, da educação, da saúde, por exemplo.
Educação é uma das suas áreas de atuação. Como a inteligência aumentada está sendo aplicada nela? A inteligência aumentada nos auxilia no conteúdo e na forma. No conteúdo, porque temos que criar abordagens híbridas, por exemplo, combinando diferentes disciplinas com design e inteligência artificial. As informações dessa combinação são analisadas pela inteligência aumentada, que vai nos propor os melhores usos e aplicações de acordo com o objetivo a ser alcançado, que é determinado anteriormente. Na forma, auxilia na elevação das capacidades pessoais e de organizações para impulsionar o crescimento e o conhecimento, seja dentro de uma empresa ou dentro da escola, trabalhando com os bilhões de informações presentes que se tem acesso. Esse conhecimento pode ser compartilhado no mundo inteiro, usando a inteligência aumentada para buscar soluções de acordo com a realidade de cada lugar. Além disso, mais experiências de vida podem ser trocadas.
Uma das suas funções, hoje, é atuar como reitora internacional da Skema Business School, que deve lançar o chamado Laboratório Global de Inteligência Aumentada. Pode falar mais sobre esse empreendimento? Nosso orçamento inicial é de mais de ¤ 3 milhões. O laboratório desenvolverá algoritmos de ciência de dados e inteligência artificial, atuando como catalisador para a pesquisa e transformação digital do ensino em todos os campi da Skema (situados em Belo Horizonte, nos EUA, na França e na China), por meio de uma plataforma de última geração que será atualizada com bilhões de novas informações a cada hora, que está no Estado norte-americano da Carolina do Norte.
Fale um pouco sobre o projeto do campus brasileiro, instalado na capital mineira. Em setembro, um dos nossos professores estará aqui para a instalação da plataforma e para ensinar seu funcionamento aos estudantes. É inegável que quando você confronta as culturas brasileira, americana e europeia, você cria uma verdadeira abordagem mundial da inteligência aumentada. Vamos ser capazes de misturar diferentes povos, diferentes culturas e nacionalidades para criar um vínculo totalmente global