Comportamento

Lugares inusitados para fazer sexo podem apimentar relações que caíram na rotina

De acordo com uma pesquisa encomendada pela marca de brinquedos eróticos Pantynova, transar em locais públicos é uma fantasia recorrente

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 29 de março de 2024 | 06:00
 
 
De acordo com o Censo do Sexo de 2022, banheiros de baladas ou de avião, praias, parques e cachoeiras estão no topo das fantasias sexuais Foto: purmar/iStockphoto

Com a banda alemã Tangerine Dream de trilha sonora, Tom Cruise e Rebecca De Mornay se entregam ao prazer do sexo dentro do vagão de um metrô, em uma das cenas mais picantes de “Negócio Arriscado”, comédia que estreou no Brasil em 1983.

Já em “O Destino Bate à Sua Porta”, de 1981, os protagonistas vividos por Jack Nicholson e Jessica Lange transam com intensidade sobre a mesa da cozinha. Em “Garotas Perigosas”, de 2013, com James Franco, Vanessa Hudgens e Selena Gomez no elenco, o cenário do refrescante ménage à trois é uma piscina da cor azul turquesa. 

Cenas tórridas de sexo debaixo de tempestade não são incomuns no cinema hollywoodiano, que acabou agregando a essa fantasia um componente, ao mesmo tempo, erótico e romântico.

Inspiração 

Em 1974, o cantor e compositor Hyldon condensou essa sensação em forma de música popular, com a canção “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)”, cujos versos do título se impregnaram ao imaginário popular, e embora não mencione explicitamente o sexo, a alusão, singela, é suficiente para provocar arrepios, desejos e emoções. Tanto que a composição do baiano de Salvador continuou seduzindo gerações, com versões de grupos como Kid Abelha e Jota Quest.

“Ler livros, contos, ouvir podcasts eróticos, ver filmes ou séries, isso tudo pode ser muito afrodisíaco e inspirador, pois os estímulos visuais e auditivos aguçam a imaginação e a criatividade. Além disso, podem ser um ótimo gatilho para puxar uma conversa com a parceria sobre o que viram, leram ou ouviram, sugerindo ou fantasiando”, aponta a psicóloga, sexóloga e educadora sexual Renata Lanza, para quem “a variação do lugar escolhido pode ajudar a apimentar o sexo, a sair da rotina, ou, até mesmo, a descobrir novas posições e novas formas de se sentir e dar prazer”. 

Fantasias

De acordo com o Censo do Sexo de 2022, uma pesquisa encomendada pela marca de brinquedos eróticos Pantynova, quando o assunto é o local da transa, fantasias que envolvem sexo em público estão entre as campeãs na preferência dos entrevistados. “Sexo em ruas escuras e sem movimento encabeçam a lista, que também traz banheiros de baladas ou de avião, praias, parques e cachoeiras”, conta Renata. 

O prazer associado ao voyeurismo, seja como espectador ou exibicionista, é outro destaque. “Vemos também desejos de transar em um cômodo com outras pessoas no quarto ao lado, escadarias de prédios, varandas ou janelas de apartamentos”, complementa a sexóloga, deixando entrever a excitação “de um possível flagra”.

Perigo

Renata, no entanto, faz um alerta. “É preciso se atentar para o artigo 233 do Código Penal Brasileiro, pois a prática de sexo em público pode ser enquadrada como crime de ato obsceno. A interpretação de um ato obsceno vai depender de quem está julgando, mas a pena pode ser de detenção de três meses a um ano, ou multa”. 

A fala da psicóloga pode surtir um efeito duplo, afinal é sabido que, enquanto o risco desestimula algumas pessoas, para outras é justamente ele que dá tempero à experiência, seguindo a velha máxima do “proibido é mais gostoso”. “Existe uma prática chamada ‘dogging’, que consiste em um fetiche de se praticar sexo consentido em locais públicos, onde existe o risco de ser visto”, destaca a entrevistada. 

Estilo

Por outro lado, há aqueles mais tímidos e reservados. “O local onde se realiza o ato pode impactar a prática sexual de várias formas, pois, dependendo do local, pode haver desconforto físico, insegurança com a privacidade e ansiedade, o que impede o sexo de ser prazeroso”, pontua Renata. 

Há, ainda, quem tenha restrições com o tradicional motel, lugar consagrado para a prática sexual. “Algumas pessoas relatam ter nojo de motel, por não terem certeza da higienização total das instalações. Também percebo um certo preconceito com os motéis, por crenças que remetem à promiscuidade”, ressalta a especialista. 

Tempo

Se para algumas pessoas essa é uma possibilidade de escolha, ela observa que os mais jovens costumam ter menos condições de decidir. “Pessoas mais jovens costumam ter mais dificuldade com locais, por não terem a própria moradia e menos privacidade. E pagar motel pode estar além das condições financeiras, o que limita ainda mais as possibilidades”, avalia. 

Na ponta oposta, estariam os casais com longo tempo de relacionamento. “Sabemos que o quarto e a cama são os campeões na hora da transa quando as pessoas estão juntas há mais tempo, pois é onde costumamos nos sentir mais confortáveis, em vários sentidos. No nosso quarto, temos privacidade, e, na nossa cama, temos conforto”, sustenta a sexóloga. 

Novidade

Para quem quer incrementar uma relação estabelecida, a dica é “começar por pequenas mudanças”. “Como um sexo no sofá da sala ou apoiados, com cuidado, na bancada da cozinha. O melhor lugar é aquele onde os envolvidos estejam de acordo, tomando todos os cuidados necessários”, finaliza Renata. 

5 filmes com cenas de sexo em lugares diversos 

“O Destino Bate à Sua Porta”. Com direção de Bob Rafelson, esse drama romântico, de 1981, mostra Jack Nicholson e Jessica Lange transando sobre a mesa da cozinha. 

“Negócio Arriscado”. Dirigido por Paul Brickman, e estrelado por Tom Cruise e Rebecca De Mornay, em 1983, traz os protagonistas em uma cena de sexo no metrô.

“De Olhos Bem Fechados”. Nesse perturbador último filme de Stanley Kubrick, as cenas de sexo acontecem nos vários cômodos de um castelo com aparência medieval.  

“Garotas Perigosas”. Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, o filme de Harmony Korine tornou famosa em todo o mundo sua cena de sexo na piscina. 

“Na Estrada”. O diretor brasileiro Walter Salles é quem conduz esse longa inspirado no livro de Jack Kerouac, com cenas de sexo que, presumivelmente, ocorrem no carro.