Saúde

Menopausa ainda é tabu, mas informação pode ajudar a lidar com o momento

Processo natural enfrentado pelas mulheres envolve uma série de mudanças e desafios, mas vários tipos de tratamento podem ser utilizados para ajudar a lidar com os desconfortos

Por Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2023 | 07:00
 
 
Apenas 20% das mulheres se considera bem informada em relação a menopausa e as transformações que ela causa no corpo Foto: PeopleImages/iStock

Em um bate-papo com a apresentadora Angélica, no YouTube, a atriz Mônica Martelli contou que não entendeu o que vivia quando passou a experienciar os primeiros sintomas relacionados à menopausa. No início, ela pensou que se tratava de um reflexo das próprias temperaturas mais altas. “Achava que estava sentindo um calor a mais, que estava mais quente mesmo”, contou. Foi quando a menstruação deixou de ser regular que ela percebeu o que realmente estava acontecendo. À época, a atriz tinha 49 anos.

Com Angélica a situação foi diferente. Após a menopausa precoce - a última menstruação da artista veio quando ela tinha 43 anos -, a apresentadora não buscou tratamento. Ela contou que sentiu “a tal vergonha”. Nesse cenário, a informação acabou sendo fundamental para que ela pudesse lidar melhor com as transformações do momento que vivia e, também, para que pudesse entender que aquele não precisava ser um processo tão difícil. 

Mas não são todas as mulheres que possuem conhecimento sobre a menopausa ou que, de fato, se sentem informadas sobre algo que é natural. Na realidade, a menopausa ainda é um tema discutido de forma insuficiente. É isso o que mostra uma pesquisa feita com 16 mil mulheres em 11 países. Conforme os dados do estudo, desenvolvido pela empresa de saúde e higiene Essity,  apenas 20% das mulheres se sentem bem informadas sobre o tema e sobre os impactos da menopausa em seus corpos. 

O relatório evidencia ainda o quanto a temática ainda é difícil de ser discutida: para metade das mulheres, o tema é ainda um tabu. Para 52% das entrevistadas isso ocorre porque as pessoas não gostam de falar sobre a “deterioração” de seus corpos. O tema não é debatido nem mesmo com aqueles que estão mais próximos: 42% das participantes confessou que evita falar sobre a experiência com seus parceiros. 

“As pessoas têm medo de falar sobre a menopausa, de achar que elas estão ficando velhas, de que tudo vai virar um inferno, que não vão ter mais vida sexual”, observa a ginecologista e sexóloga Adriana Moreira Sad. Segundo a especialista, a própria relação da sociedade com o envelhecimento - vale ressaltar que, no geral, a menopausa ocorre entre os 45 e 55 anos - corrobora com uma visão negativa sobre o assunto. “É como se fosse quase proibido envelhecer e muitas mulheres relacionam a menopausa ao envelhecimento. Não contam aos parceiros com medo de acharem que elas estão velhas, que não são mais reprodutivas”, diz. 

De fato, o fim da menstruação provoca várias alterações no corpo, que vão desde mudanças no peso a alterações que atrapalham a vida sexual. Com a queda da produção de hormônios, as mulheres também podem ficar mais suscetíveis a doenças, principalmente aquelas que são hereditárias, como diabetes e hipertensão. Problemas cardiovasculares também têm o risco aumentado, já que, com o fim do período reprodutivo, há uma diminuição na produção de estrógeno, hormônio que tem função vasodilatadora e que ajuda a evitar o acúmulo do colesterol ruim nos vasos sanguíneos. “Enquanto nossos ovários estão trabalhando, temos uma produção de estrogênio e ele nos protege de muitos problemas de saúde. O organismo da mulher funciona a base desse hormônio, então quando o ovário para de produzi-lo, sentimos falta e vamos experimentar diferentes sintomas”, explica a ginecologista. 

Entre as manifestações mais comuns estão as ondas de calor, que acometem principalmente a parte superior do corpo, irregularidades na duração dos ciclos menstruais e na quantidade de fluxo sanguíneo, insônia e alterações no humor. É possível também que algumas mulheres percam massa óssea e sintam dores durante das relações sexuais. 

Para além das manifestações mais comuns, as mulheres também podem experimentar algo que é conhecido como ‘nevoeiro mental’. “Antes de ter a menopausa e após ela, há uma alteração cognitiva. Muitas mulheres começam a se queixar de falta de memória e dificuldade de concentração. Às vezes elas estão falando sobre alguma coisa, mas interrompem o assunto porque não se lembram do que estava sendo falado. Isso pode ser diagnosticado erroneamente como um início de alzheimer”, destaca Adriana Moreira Sad. 

Mulheres devem se preparar para a menopausa

Mesmo que possam envolver uma lista de 150 sintomas, a menopausa e o climatério podem ser tratados de forma a amenizar as dificuldades e desafios causados por tantas mudanças. “Antes de tudo, a gente precisa ter conhecimento e se preparar para envelhecer bem. Em todas as áreas, não só na ginecologia, batemos em duas teclas principais quando falamos de longevidade: a atividade física constante e uma boa alimentação. Esses são dois pilares para tudo”, orienta a ginecologista. Evitar o tabagismo e o alto consumo de bebidas alcoólicas também é fundamental para envelhecer de forma mais saudável.

Além disso, os sintomas podem ser amenizados por terapias medicamentosas, que podem incluir desde reposição hormonal a tratamentos que incluem o uso de antidepressivos e ansiolíticos. “O que temos hoje de mais moderno são os hormônios bioidênticos. Existem também várias formas de aplicação, dosagens diferentes. Fazemos uma modulação dependendo da fase e dos sintomas. A literatura também recomenda o uso de remédios como escitalopram e venlafaxina. Algumas mulheres não podem repor os hormônios, então esses medicamentos podem  ajudar”, explica.

Adriana reitera, porém, que os casos precisam ser avaliados individualmente e que o acompanhamento médico, às vezes até multidisciplinar, é fundamental para avaliar a melhor forma de cuidar das mulheres nesses momentos. 

Terapia também pode auxiliar 

Como processos que trazem desafios, a menopausa e o climatério também podem ser períodos menos difíceis com o auxílio psicológico. “A terapia pode ajudar a regular o sono ou ajudar a lidar com o desconforto da insônia. A abordagem cognitivo-comportamental é muito eficaz, porque ajuda a lidar com pensamentos negativos, com as emoções e sensações desconfortáveis, além de auxiliar a mudar comportamentos problemáticos”, pontua a psicóloga Renata Borja. 

Ela acrescenta ainda que o tratamento terapêutico pode ser importante também para lidar com as alterações no humor e com os desconfortos gerais causados pelos sintomas da menopausa. “É importante reconhecer as dificuldades para se criar formas de minimizar o incômodo. Buscar atividades prazerosas e que tragam significado e sentido ajudam muito nesse momento. Assim como acolher as emoções e aprender a utilizá-las de forma assertiva e saudável”, orienta. 

A psicóloga ainda explica que para se preparar para a menopausa, também é válido que a mulher acolha as mudanças e compreenda o processo como algo natural. “Exercitar a gratidão e autocompaixão, se autoelogiar, se abrir para aprender com as dificuldades, fazer atividade física, investir nos relacionamentos e amizades e acolher as emoções, inclusive as desconfortáveis, são atitudes fundamentais”, recomenda.