Corte de verbas

Vacina anticocaína desenvolvida pela UFMG só será testada em 2021

Projeto inédito da universidade iniciaria teste em humanos em 2019; na UFRJ, Aedes ganha sobrevida graças ao governo

Por Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
Leonardo da Silva, coautor da pesquisa da vacina anticocaína, diz que os atrasos na liberação de recursos comprometem andamento do estudo Foto: Leo Fontes

Noticiada com exclusividade por O TEMPO em setembro de 2016, a inédita vacina contra o vício em cocaína desenvolvida pela UFMG poderia ser testada em humanos já em 2019. Mas, diante dos atrasos na liberação de recursos pelo governo, isso só deve ocorrer em 2021, diz o professor adjunto de psiquiatria Frederico Garcia, um dos autores do projeto.

“Atualmente, estamos preenchendo o dossiê de desenvolvimento clínico do medicamento para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Respondemos a questionamentos que devem ser colocados no documento para obtermos a autorização e começarmos até 2021”, esclarece Garcia.

Segundo ele, a vacina é capaz de induzir o organismo a produzir anticorpos que reduzem de 75% a 90% a fração livre da droga na corrente sanguínea. “Esse bloqueio impede a entrada das moléculas de cocaína no sistema nervoso central e minimiza os efeitos euforizantes e reforçadores da droga, fazendo o usuário se desinteressar”, explica.

Realizada dentro do Departamento de Química Orgânica da UFMG, a pesquisa só passou a contar com o dinheiro em maio deste ano. De acordo com Leonardo da Silva, coautor da pesquisa, os prejuízos foram sentidos na sequência de etapas a serem realizadas. “No ano passado, estávamos prestes a escolher um segundo modelo animal para testar a vacina (o primeiro foi em camundongo), o que não aconteceu. Isso é importante porque valoriza o experimento na hora de pedir a autorização para o início dos testes em humanos à Anvisa”, afirma.

Dengue. No Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um importante projeto também caminha a passos lentos. Cientistas trabalham no desenvolvimento de um mecanismo que controla o ciclo de vida do embrião do Aedes aegypti (transmissor do zika vírus e da dengue) e do barbeiro Rhodnius prolixus (doença de Chagas).

“Nossa grande pergunta é como as moléculas (genes, proteínas, açúcares etc.) fazem para, a partir de uma única célula, terem a formação de uma larva que sai nadando. Essa fase é a única em que o inseto não consegue se dispersar. Ou seja, se retiramos alguns desses genes, o embrião não vira larva, e, assim, o ciclo de vida não se completa”, explica Rodrigo Fonseca, principal autor do estudo.

A equipe de Fonseca já conseguiu identificar várias moléculas, mas o processo desacelerou. “Até 2015, analisávamos cerca de 800 delas por mês. Hoje, apenas uma”, diz. Segundo ele, o dano é quase irreparável. “Em dez anos já teríamos alternativas disponíveis no mercado. Agora, pode levar até 20 anos”, relata.

Ufop: laboratório fica pela metade

Um laboratório no Departamento de Física da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) promete ajudar pesquisas que melhorem a qualidade de vida da população. Uma delas é o desenvolvimento de próteses ortopédicas e dentárias resistentes com o uso do pó de pedra-sabão. Isso seria possível ainda neste ano, se as obras não estivessem pela metade, afirma a professora Jaqueline Soares.

“Entrei na Ufop em 2013 com esse objetivo, e a previsão é que o laboratório estivesse concluído neste ano. Por conta disso, minha pesquisa está atrasada, já que precisamos nos deslocar até a UFMG para concluir as próximas etapas”, frisa Jaqueline.

A pesquisa foi vencedora do prêmio Para Mulheres da Ciência deste ano. Jaqueline diz que pretende investir a bolsa de R$ 50 mil que ganhou no experimento.

As propostas dos presidenciáveis

Os planos de governo dos candidatos à Presidência da República deste ano incluem estratégias de investimento na área de pesquisa científica e tecnológica. Conheça algumas:

Fernando Haddad (PT)

O programa do candidato do PT fala em “aprofundar e ampliar parcerias” com as instituições e agências de apoio à ciência dos governos estaduais e municipais;

“Remontar” o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, associando universidades e centros de excelência para estimular a produção de pesquisas, gerando inovação em áreas como manufatura avançada, biotecnologia, nanotecnologia, fármacos, energia e defesa nacional;

Elevar o orçamento de instituições como CNPq e Capes e abastecer o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico com recursos do Fundo Social do pré-sal;

Implementar um plano decenal de investimentos na área, atingindo o patamar de 2% do PIB até 2030.

Jair Bolsonaro (PSL)

Para Bolsonaro, o modelo atual de ações em pesquisa e desenvolvimento “está esgotado”. Ele defende a não dependência exclusiva de recursos públicos;

Tornar o Brasil um “centro mundial de pesquisa e desenvolvimento em grafeno e nióbio”, materiais que hoje são explorados internacionalmente para criar ligas tecnológicas que elevem a durabilidade e permitam novos formatos de produtos;

Estimular o investimento em novas tecnologias por políticas que estejam “do lado da oferta”, fomentando o empreendedorismo e atraindo investimentos do exterior;

Criar polos em todas as regiões do país, em parceria com as universidades locais, para desenvolver novas tecnologias.