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Merchan vai julgar Trump por 'cala-boca' a ex-atriz pornô

Saiba quem é o juiz colombiano que comandará processo contra o ex-presidente dos EUA a partir de segunda (15.4)

Por Agências
Publicado em 13 de abril de 2024 | 11:29
 
 
Juiz colombiano será responsável por julgar Donald Trump em caso de pagamento a ex-atriz pornô para silenciar denúncias na campanha presidencial de 2016 Foto: JOE RAEDLE / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP

Temperança e firmeza são as qualidades que destacam o juiz de origem colombiana Juan Manuel Merchan, que enfrenta a partir de segunda-feira (15) o maior desafio da sua carreira: julgar o ex-presidente americano Donald Trump. 

O bilionário republicano é o primeiro ex-presidente americano a estar no banco dos réus, acusado de camuflar um pagamento para comprar o silêncio de uma ex-atriz pornô para que não interferisse em sua corrida eleitoral em 2016. 

Trump e Merchan são velhos conhecidos. Em 2022, o juiz ordenou o julgamento da Trump Organization por fraude fiscal e aplicou uma multa de 1,6 milhão de dólares (5,2 bilhões de reais na cotação da época), um processo que levou à condenação do responsável financeiro da empresa da família Trump, Allen Weisselberg, braço direito do candidato republicano nas eleições presidenciais de novembro. 

Juiz investigador do caso de Steve Bannon

Ele também é o juiz investigador no caso de fraude e lavagem de dinheiro contra Steve Bannon, o estrategista de extrema direita que foi um fiel aliado do ex-presidente. 

A defesa do magnata imobiliário tentou de todas as formas – até agora sem sucesso – afastá-lo do novo julgamento, que será, sem dúvida, o maior desafio da sua longa carreira judicial.

Teste de paciência

"Ele tem o temperamento perfeito para presidir um julgamento com imensa midiatização e um réu que testará a paciência do juiz todos os dias", disse à AFP o ex-juiz e atual advogado Barry Kamins. 

"Seu senso de justiça lhe permitirá controlar o tribunal garantindo que o julgamento prossiga sem surpresas desagradáveis", acrescentou. 

Devido às declarações fora de tom de Trump, especialmente na sua plataforma Truth Social, o juiz proibiu o magnata republicano de comentar sobre a sua família e a do promotor Alvin Bragg, e sobre as testemunhas e funcionários do tribunal. 

Acusações de Trump

O sulfuroso Trump, que costuma atacar com virulência as pessoas envolvidas nos seus processos judiciais, insiste que o juiz Merchan o "odeia", tal como a grande maioria dos procuradores e juízes que lidaram com ele nas inúmeras frentes jurídicas abertas em Nova York. 

O republicano acusa-os de pertencerem à rede democrata para impedir o seu tão esperado retorno à Casa Branca.

Uma das razões pelas quais a defesa de Trump defende a sua retirada do caso é que a filha do juiz trabalha para uma empresa de consultoria política que teve o atual presidente democrata, Joe Biden, como um dos seus clientes. 

E porque ele próprio contribuiu com 15 dólares para a campanha do democrata em 2020 e 10 dólares para um grupo chamado Stop Republicans (Parem os republicanos, em tradução livre).

Histórico do juiz Merchan

Nascido em Bogotá e instalado com a família no Queens, bairro operário e latino por excelência de Nova York, aos seis anos de idade, Merchan ascendeu em uma cidade esculpida por sucessivas ondas de imigrantes, que Trump tanto critica, embora seu avô também tenha imigrado da Alemanha.

Primeiro de uma família de seis irmãos a fazer faculdade, aos 9 anos já ajudava em um armazém no Queens em troca de gorjetas, segundo o The New York Times, que cita fontes próximas ao juiz. 

Durante seus estudos no ensino médio e na universidade, ele também trabalhou à noite como lavador de pratos e gerente de hotel.

Em 1990, formou-se na Universidade Baruch College e quatro anos depois formou-se em direito pela Universidade Hofstra, em Long Island, no leste de Nova York, onde 97% dos estudantes do primeiro ano recebem ajuda financeira.

Nesse mesmo ano, ele começou a trabalhar no gabinete do promotor distrital de Manhattan por cinco anos. 

Promotor e Tribunal de Saúde Mental

Foi promotor antes de ser nomeado juiz de família no Bronx em 2006 pelo prefeito Michael Bloomberg. Ele então acabou na câmara criminal da Suprema Corte de Nova York.

O juiz, pouco inclinado a falar com a imprensa, criou há 13 anos um Tribunal de Saúde Mental, um problema crescente na grande cidade multicultural de 8,5 milhões de habitantes. 

Além disso, ele continua a cultivar suas raízes latinas na Associação de Juízes de Herança Hispânica, da Ordem dos Advogados, e como membro da Associação Nacional de Advogados Hispânicos, de acordo com o breve currículo do Tribunal. (AFP)