Acílio Lara Resende

Não há ditadura boa

Sessenta anos do regime militar no Brasil e a política atual

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 29 de fevereiro de 2024 | 08:00
 
 
Leia artigo de Acílio Lara Resende sobre defesa da democracia, ditadura militar e investigação de Bolsonaro por tentativa de golpe Foto: Ilustração O TEMPO

Antes de entrar no assunto do título, quero me referir à coluna da jornalista Cora Rónai, sob o título “Não se salva ninguém”, no “O Globo”, na última quinta-feira, e, também, ao texto da atriz Betty Gofman, “A voz sensata de uma judia”, publicado na última sexta-feira, no espaço que lhe cedeu a colunista Ruth de Aquino, também em “O Globo”. Descendentes de judeus, ambas traduzem, com exatidão, o que muitos de nós pensamos sobre o conflito entre o grupo terrorista Hamas e a resposta do Estado de Israel. Vale a pena lê-las por meio da internet.

Agora, vamos ao assunto que desejo tratar e que já está no título. Não há ditadura boa, e só há, à disposição, um regime capaz de preservar a nossa liberdade – o regime democrático.

Mas a oferta desse produto parece estar em queda, pois, no próximo dia 31 de março, ainda haverá, infelizmente, neste país, gente comemorando os 60 anos da ditadura miliar, instaurada no dia 31 de março de 1964 e tornada mais dura (se é que é isso é possível) a partir de 1968, um ano de fato terrível, que deu título ao livro “1968 – o Ano que não terminou”, do jornalista e escritor (mineiro de Além Paraíba) Zuenir Ventura.

O presidente Costa e Silva, pressionado por militares e civis radicais, decretou o AI-5, sufocando, durante 21 anos, a democracia e, com ela, a liberdade de cada um de nós, sob o argumento – uma lorota dita por “ingênuos” – de que o Brasil precisava se preparar para a democracia.

A ditadura cassou, exilou, prendeu e até matou. Em 1985, o mineiro Tancredo de Almeida Neves, depois do sucesso do maior movimento cívico da história do país, denominado “Diretas Já”, foi eleito, pelo Congresso Nacional, presidente da República. Morto Tancredo, depois de longa enfermidade, foi empossado, em seu lugar, o seu companheiro de chapa e vice-presidente da República José Sarney.

Não poderia omitir, neste rapidíssimo bosquejo, leitor, o nome do então ex-deputado Ulisses Guimarães, que foi presidente da Câmara dos Deputados duas vezes, além de candidato à Presidência da República nas eleições de 1989. Foi, também, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, que, com a promulgação da Constituição de 1988, que vige até hoje, instaurou no país uma nova ordem democrática.

Pois bem. Quase 60 anos depois, não contente em ser apenas presidente da República, o vitorioso nas eleições de 2018, Jair Messias Bolsonaro, durante os seus quatro anos de governo, trabalhou para destruir as instituições democráticas, com ênfase sobre o STF, que os brasileiros conquistaram a duras penas. Não teve e não terá sucesso.

Hoje, pelas provas colhidas pela Polícia Federal, no inquérito contra ele, parece não haver mais dúvidas acerca das suas reais intenções.

A manifestação pro-Bolsonaro na avenida Paulista, no último domingo, leva-nos às seguintes conclusões: o ex-presidente conta, de fato, com uma direita radical, que procura a todo custo dividir o país; segundo a PF, a fala de Bolsonaro evidencia a “minuta de golpe”.

Ou seja: o ex-presidente está em maus lençóis.