A pandemia, até o presente momento, chegou a Minas Gerais com intensidade menor em relação a São Paulo e Rio de Janeiro. Os dois Estados vizinhos já enfrentam a saturação dos hospitais, apesar de terem recorrido a unidades de campanha e realizado adequações extraordinárias, com o aumento de centenas de novos leitos.

Os casos de Covid-19 continuam em expressivo aumento em todo o Brasil.

No Norte e Nordeste, especialmente no Amazonas, Amapá, Ceará, Pernambuco, a capacidade da rede hospitalar esgotou-se. Os óbitos dispararam, e as notificações de complicações das funções respiratórias e de AVC escondem a letalidade do novo coronavírus.

Não existem testes laboratoriais em quantidade suficiente para revelar o contágio, anula-se com isso não só a realidade das estatísticas, mas a capacidade de separar os contagiados e conceder-lhes tratamento adequado.

Enquanto isso, laboratórios e atravessadores lucram fortunas com preços abismais e se destacam como os aproveitadores da desgraça.

Embora derretam ao calor de Manaus as previsões como aquela da suposta relação do vírus com o frio invernal, consolida-se a teoria de que, a uma disseminação rápida e explosiva, registra-se queda e superação com a mesma velocidade.

Disso o cuidado de diluir no tempo e de alongar a “curva” do contágio, para o sistema de saúde ter como atender com pontualidade e qualidade.   

A pandemia já está em todo o território nacional e não deixará fora nenhum Estado. Os impactos menores serão nas áreas que conseguirem uma curva mais alongada e dimensionada conforme a capacidade de hospitalização dos pacientes da Covid-19.

Os Estados que registram uma curva menor e mais achatada provavelmente superarão a pandemia num lapso de tempo maior.

Na Netflix está disponível o primeiro episódio de uma série que documenta a evolução da Covid-19 e traça gráficos esclarecedores.

Pode, também, servir ao entendimento uma análise dos relatórios de ontem do Ministério da Saúde da Itália. Nele se apresenta que 75% dos contagiados estavam em isolamento domiciliar, cerca de 23,5% estão internados em leitos hospitalares clínicos, e 1,5%, em leitos de terapia intensiva. A Itália tem 60,4 milhões de habitantes; ontem havia 100.704 com contágio em evolução, 17.534 hospitalizados em leitos clínicos e 1.539 pacientes em leito de UTI. Foram notificados ontem 192 falecimentos, bem menos que os 784 num só dia registrados no ápice da crise.

À luz das últimas notícias, o que precisarão Minas e a região metropolitana de Belo Horizonte, a área mais adensada do Estado, com seus 5,9 milhões de habitantes, distribuídos em 50 municípios? E se a onda se abater por aqui como ocorreu na Itália, o que precisamos fazer?

Analisando os dados de regionalização da pandemia na Itália, encontra-se recorde de incidência de contágio nas cidades e nos Estados mais ricos do Norte. O Estado da Lombardia tem o maior número de casos e de perdas humanas, seguido por Piemonte, Ligúria e Emilia-Romagna. Já na área central, o Lazio, com a capital Roma, registra ainda uma curva bem mais achatada, mas ainda ascendente. Outros Estados ficam alinhados em sua maioria com a evolução do Lazio.

É possível, se me permitem, um paralelo das situações de São Paulo e Rio de Janeiro com a da Lombardia, e a de Minas, ainda às margens da onda, com a do Lazio.

Pois bem, Minas na pior hipótese, pode evoluir para uma intensidade sofrida pela Emilia-Romagna e, na melhor, pelo Lazio. Apesar de ser muito improvável cair no desastre da Lombardia, podemos traçar três cenários: A) gravíssimo; B) grave; C) de média intensidade. Se tivermos sorte, serão abaixo de médio, e é isso que queremos.

O caso A representaria uma necessidade hospitalar de 12 mil leitos clínicos e de 1.000 leitos de UTI para Minas inteira. No caso B, demandaria 9.000 leitos clínicos e 800 leitos de UTI. Na hipótese C, seriam 5.000 leitos clínicos e 440 de UTI. Esta última pode ser a mais provável.

Temos esses leitos? Como estão distribuídos?

Tenha-se presente que um número adequado de leitos clínicos com atendimento precoce reduz a necessidade de leitos de UTI, decorrentes de agravamento por atraso.

A ministração rápida de medicamento resulta eficaz, enquanto a demora pode ser desastrosa especialmente para os pacientes com patologias como hipertensão, diabetes e pneumopatia.

A distribuição menos adensada da população no interior leva a um prognóstico de menor intensidade de contágio, já a região metropolitana, mesmo abrigando 29% da população mineira, sofre riscos maiores de três a quatro vezes. Disso a necessidade de cuidados diferenciados.

Caso esses números se revelem perto da realidade, a rede hospitalar privada, que cobre um terço da população da Grande BH, precisará (caso se repita a intensidade do Lazio) dispor de 1.700 leitos clínicos, e a rede pública, de 3.300. Nem uma, nem a outra rede os têm. Já os leitos de UTI, seguindo a evolução italiana, deverão ser 250 unidades, 80 da rede privada e 170 da rede pública. Contudo, a insuficiência de leitos clínicos (para terapia não invasiva) pode ampliar a gravidade dos pacientes, a pressão e, exponencialmente, a necessidade de leitos de UTI.

Espero estar errado e que Minas passe pelo caso do Estado da Sicília, o menos atingido, e assim, com 1.000 leitos, possa dar conta da pandemia.