O TEMPO

Cota sem educação

A insanidade da cota de mulheres gerou distorções inusitadas, sem solucionar qualquer problema

Por Vittorio Medioli
Publicado em 06 de outubro de 2019 | 03:00
 
 

Nas últimas duas décadas, os sopros da democracia levantaram movimentos contra a discriminação de raça, de gênero e de minorias. Felizmente.

Nessa louvável e necessária tendência, se ensinou a falta de maturidade que abunda até nas melhores famílias. Alguns, que deixaremos no anonimato, transformaram as manifestações do caso em excessos, radicais e desnecessários, chegando a discriminar o resto do mundo e criando mais distância que aproximação.

Observe-se: a sociedade que precisa de medidas extraordinárias para conceder oportunidades a uma parcela da sua população sofre de desequilíbrios. O Brasil, que se dividia entre a casa-grande e a senzala, hoje se estratifica em centenas de classes e categorias bem próximas entre si e miscigenadas.

Dentro da moldura brasileira se abrigaram, pacificamente, todas as raças, religiões e culturas do planeta. Território imenso e clima generoso permitiram o surgimento de fenômeno conciliador e milagroso.

A nação brasileira está formando uma etnia – segundo antropólogos e sociólogos, como Domenico de Masi (livro “Mapa-Múndi”) – com traços socioculturais que são uma síntese da humanidade inteira. Essa condição influenciará o Brasil, reservando-lhe a responsabilidade de gerar um ser humano imunizado contra preconceitos raciais, já que em mais algumas gerações ninguém poderá excluir exatamente qualquer contribuição racial de suas veias.

Nas profecias de Dom Bosco, de Pietro Ubaldi e outros iluminados, é aqui que a humanidade se encontrará e aprenderá a conviver em paz. A miscigenação que aguarda a “aldeia global” será bem mais acelerada no Brasil, sem confrontos sanguinários – pela primeira vez na história mundial.

Embora não se realizasse ainda o esvaziamento de discriminações, é fácil se imaginar que se diluirão gradativamente. A tendência é irreversível, aproximando as utopias da Cidade do Sol, de Tommaso Campanella, da idade áurea da paz, da Era de Aquário. O Brasil pode mostrar ao mundo que “gregos e troianos” podem se pacificar, numa nação de filhos do mesmo Deus.

Vivemos, contudo, o auge da exploração das diversidades com finalidades desviadas. Muito bom recordar os erros, mas erguer barreiras, monumentos e barricadas não facilitará a superação deles.

As cotas raciais e de gênero têm seu lado positivo, os exageros delas geraram situações negativas e consolidam a discriminação em outros aspectos.

Um caso retumbante é a cota destinada às mulheres nas listas partidárias eleitorais. A lei “frankestein” determina uma reserva de 30% para mulheres, como se encontrar tantas interessadas fosse possível.

Pela Bíblia Deus criou a mulher de uma costela de Adão, enquanto este estava dormindo. Em seguida, Eva o tirou do Éden (estado paradisíaco), despertou nele a necessidade do sexo, o desejo de prole, a obrigação de trabalhar para manter a família, quando anteriormente, sem impulsos e sentimentos de pecados, vivia em perfeita beatitude.

O movimento feminista precisa ser respeitado, a ele se devem conquistas fantásticas, só que uma sociedade que se ilude pensando que pode resolver por decreto seus problemas foge da realidade e fracassará.

A insanidade da cota de mulheres gerou distorções inusitadas, sem solucionar qualquer problema. Ainda conjugadas com os bilhões de reais de Fundo Eleitoral, proporcionou um evidente direito de participação no bolo para as mulheres candidatas que emprestam seus nomes para preencher o vazio das listas.

O Congresso Nacional reafirmou, na semana passada, as regras eleitorais fracassadas, preocupando-se prioritariamente com o Fundo Eleitoral, quer dizer, com os próprios bolsos e a manutenção do matagal político.

Se os desastres foram evidentes nas últimas eleições, pode-se apostar que nas próximas, desta vez em nível apenas municipal, se instalará o caos mais medonho. Com mais de 40 partidos, com cotas de gênero irreais e com as indefinições nas partilhas do fundo bilionário, a bomba está pronta.

Nesses comentários quero fazer uma justa homenagem ao ministro Marcelo Álvaro (PSL-MG), indiciado por abrigar candidaturas-laranja em seu partido. Mais que pecados eleitorais, pesa sobre ele a obstinação para puni-lo por ter sido escolhido com um ministério pelo presidente Bolsonaro. A inveja e os interesses “matam”; não fosse isso, ele nunca teria sido importunado.

O que o Brasil precisa é de dar educação de boa qualidade aos jovens, criá-los sem preconceitos, oferecendo-lhes bons exemplos; nenhuma lei, cota ou movimento poderá substituir essa falta grave. Isso deixaria o ser humano vacinado contra a estupidez do preconceito e da discriminação.