Eleições 2020

Pré-candidatos 'federal' e 'municipal' disputam eleitores em Bicas

Especialista avalia que candidatos buscam novas formas de polarização nas redes sociais

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 30 de julho de 2020 | 08:00
 
 
O pré-candidato a Prefeito de Bicas, o delegado federal Helber Marques. Foto: Reprodução / Facebook

A pequena cidade de Bicas, localizada na Zona da Mata e com cerca de 15 mil habitantes, pode servir como uma pista de como serão as campanhas eleitorais para as eleições municipais deste ano. Os candidatos a prefeito do município estão buscando novas formas de polarização para mobilizar os eleitores.

As redes sociais dos moradores foram tomadas com filtros para fotos de perfil e hashtags sobre os pré-candidatos Helber Marques (PSB), que é delegado da Polícia Federal, e Ramillo Rodrigues (Republicanos), um empresário local.

Os apoiadores do delegado passaram a utilizar filtros para as fotos publicadas com a frase “Sou Federal”, além de comentarem utilizando hashtags com a mesma mensagem. Diante da movimentação, os apoiadores de Ramillo Rodrigues responderam e também criaram um filtro, além de começar a publicar mensagens com a hashtag “E eu sou municipal”.

Ambos os pré-candidatos negam que tenha partido deles a iniciativa para a criação dos filtros e das postagens. Eles afirmam que a mobilização dos eleitores foi espontânea. No caso de Ramillo Rodrigues, ele adotou o filtro em sua foto de perfil.

“Eu anunciei minha pré-candidatura e o pessoal que inventou isso. Não foi eu que fiz. Saiu de uma briga de eleitores, eu vi, gostei e pegamos isso”, afirma. O Aparte não conseguiu perguntar ao pré-candidato se o adjetivo "municipal" teria como justificativa um eventual apoio do atual prefeito Honorio de Oliveira (MDB). Rodrigues e Oliveira foram adversários nas eleições de 2016. A comunicação estava prejudicada pois Ramillo estava na zona rural de Bicas, onde o sinal do celular era ruim. Após a ligação cair, ele não respondeu as mensagens ou atendeu novamente o celular.

“As pessoas que têm afinidade comigo colocaram esse filtro ‘sou federal’. Eu acredito que esse movimento espontâneo das pessoas mostra nas redes sociais a divisão entre os pré-candidatos. É uma divisão muito forte. Quem é de um lado, já sabe. Quem é do outro, está com o outro. E as pessoas começam a se identificar com os pré-candidatos”, explica o pré-candidato Helber Marques.

Para o doutor em ciência política pela UFMG e professor do Ibmec, Christopher Mendonça, a polarização é algo inerente às eleições, mas pode ser uma tendência que os candidatos busquem novos temas para divergirem.

“Na eleição passada foram duas polarizações importantes: Bolsonaro x Lula e nova política x velha política. Essas identidades estão desgastadas desde que o Bolsonaro assumiu a presidência. Agora, como a gente não tem uma identidade definida, os candidatos têm buscado outra polarização que mobilize o eleitor. Ainda está um quadro cinzento. Em algumas cidades a gente vê perspectivas diferentes, mas sempre há uma busca pela polarização”, avalia.

Ele aponta também que os candidatos buscam mobilizar eleitores que não têm uma preferência política clara ou pré-determinada, seja à direita ou à esquerda.

“Para isso, a construção de dicotomias é muito importante porque aquilo que não é a favor, é contra. Acabam tentando criar dois polos e empurrar as pessoas para um deles, de modo a facilitar a compreensão do eleitor. Isso é muito claro neste caso: tem dois lados na cidade e a tentativa deles é de mobilizar aquelas pessoas que a gente chama de público desatento, que ficam em silêncio e só se manifestam na urna”, afirma Christopher Mendonça.