A vereadora Bella Gonçalves (PSOL) foi liberada da delegacia na madrugada deste sábado (17) após ficar detida com outras três pessoas por mais de dez horas. A parlamentar foi detida no bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul de Belo Horizonte, durante uma manifestação com moradores da Vila Beija Flores contra uma ação de despejo. A Polícia Militar divulgou nesta manhã um vídeo em que mostra manifestantes cercando e danificando um carro de uma mulher que passava pela área.
"Então pessoal... São quase 3h, quase 12 horas que a gente está aqui detido no 'Ceflan', acabamos de ser ouvidos, estamos todos sendo liberados. A gente conseguiu aqui reverter inclusive os fatos, mostrando que, na verdade, a comunidade tinha sido agredida, e a Polícia Militar praticou abuso de autoridade contra o mandato parlamentar e contra uma comunidade que lutava contra o despejo. Vamos seguir firmes porque a gente não aceita injustiça", disse na gravação.
Veja a declaração da vereadora:
Uma publicação compartilhada por Bella Gonçalves 50.500 (@bellagoncalves_bh) em 16 de Out, 2020 às 10:52 PDT
Também neste sábado, a corporação negou que houve abuso de autoridade e apresentou uma versão diferente para os fatos. "Por volta das 15h, um grupo com aproximadamente 80 pessoas concentrou em frente ao prédio da Cemig reivindicando alguns direitos. Essa manifestação não foi comunicada às autoridades policiais. Chegamos lá e tentamos identificar alguma liderança, mas ninguém se apresentou. É importante destacar que os manifestantes estavam perto de um hospital particular e um dos funcionários nos informou que o ato estava incomodando pacientes", explicou o major Cláudio Henrique Ribeiro dos Santos, subcomandante do 1 º Batalhão.
Ainda segundo ele, enquanto os militares tentavam argumentar, manifestantes começaram a caminhar na direção dos veículos, ameaçaram motoristas e causaram danos a carros. Um dos veículos foi cercado pelo grupo, que começou a bater na lataria e nos vidros.
Veja vídeo gravado por militares:
"No carro estavam duas mulheres, mãe e filha. A mãe, de 46 anos, que estava no banco do passageiro, foi agredida com tapas na nuca e precisou receber atendimento médico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Centro-Sul", detalhou o militar. A corporação afirma que foi necessário usar o spray de pimenta para dispersar as pessoas.
Três mulheres teriam sido identificadas como participantes na ação e foram detidas. Nesse momento, ainda conforme a polícia, Bella chegou "se opondo à execução de uma ação legal e usando da condição pública de ser vereadora".
"Pedimos que ela se identificasse, mas a vereadora disse que o documento não estava ali. Ela afirmou que os policiais não iriam prender as outras mulheres e que, caso fizessem, seriam denunciados. Diante da situação, falamos que ela estava presa pelo crime de resistência e por se opor à ação legal. Não foram usadas algemas, ela entrou no banco de trás da viatura e foi conduzida à Deplan II", contou o subcomandante.
Justiça Eleitoral
Além do vídeo apresentado à reportagem, o subcomandante afirmou que câmeras da região filmaram a ação. A Polícia Militar afirma que vai encaminhar à Justiça Eleitoral um ofício relatando a situação que envolveu Bella Gonçalves.
Posicionamento Bella
Na tarde deste sábado, em conversa com a reportagem de O TEMPO, a vereadora rebateu as informações repassadas pela Polícia Militar.
"A Polícia Militar está com informações contraditórias, a polícia estava alterada ontem. A minha identidade funcional estava em casa porque não sou obrigada a andar com ela. Apresentei minha carteira de identidade, que ficou com o policial por mais de 30 minutos. Os policiais levaram a mulher mais idosa da manifestação, o que eu fiz foi acompanhá-la. Os policiais falaram que eu poderia ir no meu carro, mas fui na viatura com ela. Só lá na delegacia soube que estava detida", afirmou a parlamentar, sem saber informar a idade da idosa.
Bella disse que estava no canteiro central quando os manifestantes cercaram o carro, que tentou, na versão dela, avançar contra os manifestantes. A vereadora disse que viu os pontapés contra o veículo, mas não tem conhecimento das agressões à passageira e que essa situação "cabe a Polícia Civil apurar o que aconteceu".
"É um absurdo uma mulher avançar daquele jeito. O carro é uma arma. Não pode avançar em uma manifestação. Tinham 150 pessoas no local", detalhou.
Questionada se as autoridades foram avisadas com antecedência do protesto, ela afirmou que não sabe por não fazer parte da organização. "Vou procurar a corregedoria da Polícia Militar, a Justiça Militar e todos os órgãos possíveis para as representações necessárias", finalizou.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou a liberação de todos os envolvidos no caso e afirmou que "outros detalhes serão divulgados no final das investigações".
Matéria atualizada às 14h09