Diversos foram os abacaxis que o presidente Lula teve de descascar para criar uma forte base de apoio a seu favor. Um bom exemplo foi ampla aliança que o elegeu, unindo, entre outras legendas, o PT e o extinto PL. Aliança que garantiu ao Planalto uma base numericamente confortável no Congresso - primordial para a governabilidade.
Entretanto, também muitas foram as baixas aferidas pelo governo nas Casas Legislativas. Exemplo emblemático foi a rejeição, em 2007, à prorrogação do imposto do cheque.
Mas nenhum embate parece ser tão delicado quanto o que Lula tem pela frente agora: a sucessão nas cadeiras de comando do Congresso. O presidente se vê em um verdadeiro dilema.
Tendo maior base na Câmara e no Senado, o PMDB deixou de lado um antigo acordo firmado com o PT - entenda-se, Michel Temer no comando da Câmara e Tião Viana na chefia do Senado - e agora quer as duas presidências. Além de despertar a ira de parlamentares petistas, isso cria uma encruzilhada para Lula.
Na Câmara está tudo sob controle. Temer terá apoio de mais de uma dezena de partidos, incluindo o PT. Já no Senado, a base aliada está à beira do caos.
Se, simplesmente, apoiar Viana, Lula cria atrito com o PMDB. Isso pode minar as pretensões petistas para 2010. Bem disse Aécio Neves que "ninguém governa sem o PMDB".
Lula sabe que não pode correr riscos, sobretudo tendo em vista os constantes flertes do DEM e do PSDB ao PMDB. Se apoiar o PMDB, Lula pode desmoralizar seu partido, na pessoa do senador Tião Viana - o que, a essa altura, já parecer ser um problema menor. Dessa vez Lula terá de unir a base aliada, garantir sua governabilidade e ter apoios com vistas a 2010. E tudo em uma cajadada só.