Funcionalismo

Contra reajuste de 5%, servidores ameaçam ampliar paralisações nos próximos dias

Servidores públicos consideram proposta de aumento linear de 5% insuficiente para repor perdas pela inflação e devem decidir novas mobilizações em assembleias nesta terça (19)

Por Lucyenne Landim
Publicado em 18 de abril de 2022 | 16:22
 
 
policia_federal__marcelo_camargo_abr_0 (1)jpg Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Insatisfeitos com a proposta debatida entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, de conceder um reajuste linear - ainda não definido - de 5% para o funcionalismo público federal, servidores planejam uma série de paralisações nos próximos dias.

Servidores da Controladoria-Geral da União (CGU) preparam para 4 de maio um “Dia Nacional de Mobilização” para pressionar o aumento salarial, enquanto servidores do Tesouro Nacional farão mais uma paralisação diária nesta quarta-feira (20).

Auditores da Receita Federal também reduziram as operações, assim como analistas de Planejamento e Orçamento, o que pode inclusive comprometer o envio da peça com a previsão orçamentária de 2023 para aprovação pelo Congresso Nacional.

No Banco Central, cerca de 60% dos funcionários estão de braços cruzados desde 1º de abril. Em greve por tempo indeterminado, eles exigem uma proposta de reajuste de 26,3% com a reestruturação de carreiras.

O movimento já causou impactos no mercado financeiro. Pela terceira semana consecutiva, não houve divulgação do Boletim Focus, que toda segunda-feira faz uma análise financeira do mercado. As próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), marcadas para maio, também devem ter a preparação afetada.

O Sindicato Nacional dos Servidores do Banco Central (Sinal) fará na tarde desta terça-feira (19) uma assembleia-geral para decidir os rumos da greve. Haverá também uma assembleia da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) para escolha de ações de mobilização. Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), categoriais policiais não podem fazer greve.

Apenas o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, que reúne 37 entidades do serviço público, tem cerca de 100 mil servidores mobilizados. A estimativa é do presidente do órgão representativo, Rudinei Marques, que calcula um total de pelo menos 200 mil servidores paralisados.

“Nós estamos considerando que esse valor é completamente insuficiente e não cobre nem mesmo as perdas inflacionárias”, disse Rudinei. “O último grupo que teve reajuste do funcionalismo, foi em janeiro de 2019. A inflação acumulada desde então somou 25%. Esses 5% que o governo quer conceder não são 20% das perdas inflacionárias do período”, acrescentou.

Ele reclama da falta de abertura no atual governo para possíveis negociações, diferente da relação mantida com gestões passadas.

“Nós tínhamos mesa de negociação no governo Lula (PT), no governo Dilma [Rousseff, PT] e até no governo [Michel] Temer (MDB). Depois disso, acabaram praticamente as mesas de negociação e hoje a gente tem que fazer mobilização para tentar abrir um canal de diálogo com o governo que inexiste até o momento”, disparou.

O presidente da Fonacate, que abrange também a ADPF, considera que categoriais policiais podem “engrossar” a mobilização do serviço público caso considerem que o governo “rompeu” o acordo feito anteriormente pelo aumento salarial em forma de “traição”.

No entanto, ele defende que a decisão por uma paralisação geral aconteça somente entre o final de maio e o início de junho, com o esgotamento do prazo do governo federal para a apresentação de propostas de reestruturação de carreiras.

“Eles [policiais] estão muito indignados com a ruptura desse acordo que foi anunciado em público tanto pelo presidente da República, quanto pelo ministro da Justiça e pelo líder do governo [na Câmara], Ricardo Barros. Vamos esperar a decisão deles, mas eu acho que devem intensificar as mobilizações”, adiantou.

Antes da assembleia de terça-feira, as entidades policiais se reúnem, na tarde desta segunda-feira (18), com o ministro da Justiça, Anderson Torres. O objetivo é apresentar a proposta de reestruturação de carreiras da categoria, permitida pela legislação próximo à data da eleição.

Mas o encontro não deve mudar os rumos da decisão conjunta pela mobilização, segundo a presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (Fenadepol), Tania Prado.

“Nós estamos com esse sentimento de indignação e faremos essa assembleia. A reunião tem que ter de toda forma, porque envolve direitos. O cenário mudou, estava um cenário de compromisso, de confiança no governo. Como mudou com toda essa situação fática, as categorias vão decidir os próximos passos, se farão paralisações, redução de produtividade ou outras ações”, informou.

A categoria exige um reajuste de 18%, com a definição de uma progressão anual de carreira, e considera a proposta de 5% “péssima” diante do compromisso anterior feito pelo governo Bolsonaro.

“Desde 2016, nós não tivemos reajuste nenhum, nenhuma valorização. É muito tempo. Agora estão jogando com essa história de jogar na lei orçamentária para 2023, mas isso é muito abstrato, porque na realidade depende de várias etapas legislativas para acreditar em uma coisa dessa. E o pior é acreditar que houve uma luta para aprovar R$ 1,7 bilhão [no Orçamento de 2022] para a reestruturação da segurança pública e agora, do nada, reformularam tudo, sem fazer uma reunião, sem nada”, destacou Prado.

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