O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, na manhã desta quarta-feira (21), o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chefe da diplomacia do governo de Joe Biden. O encontro foi no Palácio do Planalto, a sede administrativa do governo federal em Brasília (DF). Esta foi a primeira visita de Blinken ao Brasil. Ele estava acompanhado da embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley.

O secretário ficou cerca de duas horas no Planalto. Na saída, declarou que o encontro com Lula foi "ótimo" e reforçou a importância de um trabalho conjunto em questões globais e bilaterais. Por meio de uma nota, a Presidência da República confirmou que o conflito na Faixa de Gaza pela guerra entre Israel e Hamas foi assunto na reunião, em uma abordagem pelo fim dos ataques.

"O presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia [em guerra contra a Rússia] e na Faixa de Gaza. Ambos concordaram com a necessidade de criação de um Estado Palestino", informou o governo brasileiro no comunicado.

Questionado por jornalistas ao deixar o prédio, Blinken não respondeu se a situação na Faixa de Gaza tinha sido tratada na reunião com Lula. O encontro entre os dois foi agendado antes da comparação feita pelo presidente brasileiro dos ataques de Israel em Gaza na guerra contra o Hamas ao Holocausto, que foi a perseguição e o assassinato de judeus na Alemanha nazista por Adolf Hitler. A fala gerou uma crise diplomática.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula no domingo (18), em viagem à Etiópia. A declaração gerou reações duras do governo de Israel.

O primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu (a quem os governistas direcionaram a crítica de Lula), afirmou que as declarações "são vergonhosas e graves". Já o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, disse que Lula é "persona non grata" no país, além disso, lee exigiu uma retratação.

Os dois levaram o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, para uma reunião no Museu do Holocausto. A ação foi vista como uma afronta pelo governo brasileiro, que convocou Meyer de volta ao país. O embaixador deve desembarcar no Brasil nesta quarta-feira (20). O governo brasileiro também convocou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para prestar explicações.

Porta-voz diz que o governo dos EUA discorda da fala de Lula sobre Israel

Na terça-feira (20), o governo dos Estados Unidos endossou as críticas à fala de Lula. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que o país discorda da comparação feita pelo presidente brasileiro. Na ocasião, ele foi questionado, em uma entrevista à imprensa, se a fala do petista seria tratada na reunião com Blinken. 

“Obviamente, nós discordamos desses comentários. Fomos bastante claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível. Queremos ver aumento de ajuda humanitária para civis em Gaza. Mas não concordamos com esses comentários”, respondeu Miller.

No início deste mês, Blinken fez sua quinta viagem ao Oriente Médio desde o início da guerra entre Israel e Hamas. A intenção foi buscar uma trégua no conflito, que tem Gaza como a região de maiores ataques. Em outubro do ano passado, o secretário de Estado dos EUA fez um pronunciamento ao lado do presidente israelense, Isaac Herzog, e declarou a parceria entre os dois países, citando "valores que nos unem".

Debates bilaterais 

Além de Gaza, Blinken e Lula trataram sobre assuntos bilaterais entre os dois países. De acordo com o Planalto, Lula reforçou seu "apreço" por Biden e o apoio dos Estados Unidos ao Brasil na presidência do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e a União Europeia).

A nota divulgada informou ainda que Blinken "congratulou o Brasil pela aprovação da reforma tributária, recuperação de políticas sociais e de responsabilidade fiscal", citando que os EUA são o principal investidor no Brasil.

"O presidente Lula reiterou a necessidade de reformar os organismos financeiros internacionais e o Conselho de Segurança da ONU, no que foi apoiado pelo seu interlocutor. O secretário e o presidente discutiram também sobre parcerias trilaterais em agricultura, segurança alimentar e infraestrutura na África. Lula ressaltou a urgência em abordar o tema da dívida externa dos países africanos", diz a nota.

Lula e Blinken também falaram sobre a iniciativa para trabalho decente lançada por Lula e Biden em setembro à margem da Assembleia Geral da ONU, e a cooperação dos dois países na área ambiental, transição energética, fóruns empresariais e de infraestrutura.

O secretário norte-americano informou que os EUA estudam realizar novo aporte para o Fundo Amazônia, que capta doações para investimentos em prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal. Blinken também também abordou a atuação do Brasil pelo diálogo entre Venezuela e a Guiana, de acordo com a Presidência da República.