Em troca de mensagens por Whatsapp com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, o governador Ibaneis Rocha (MDB) minimizou os alertas sobre os planos de ataques às sedes dos Três Poderes da República, mesmo já com o começo dos atos de bolsonaristas radicais em Brasília em 8 de janeiro. 

Ele só admitiu a gravidade quando os prédios já haviam sido tomados por extremistas que tentavam derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O chefe do Executivo local chegou a pedir o acionamento do Exército, o que não foi acatado e era visto pelas autoridades federais como estratégia para instalação de uma intervenção, com o afastamento do petista. 

As informações constam em relatório da Polícia Federal que analisou 36 mensagens trocadas por Ibaneis com outras autoridades em 7 e 8 de janeiro, véspera e dia das invasões e depredações do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e da sede do STF. 

A PF não comprovou a conivência de Ibaneis com a escalada de violência de 8 de janeiro, mas mensagens mostram que ele o governador estava, no mínimo, perdido em informações desencontradas passadas pelos responsáveis pela segurança pública do DF. 

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, afastou Ibaneis do cargo em 8 de janeiro, pelo prazo mínimo de 90 dias. Para Moraes, houve falha da segurança pública do DF, além de “descaso, conivência e omissão” por parte de quem deveria comandar essas forças, como Ibaneis e seu ex-secretário de Segurança, Anderson Torres, que viria a ser preso uma semana depois e continua detido em um batalhão da PM.   

‘Já estamos mobilizados’, garantiu Ibaneis na véspera dos ataques

Em 7 de janeiro, dia anterior às invasões, Rodrigo Pacheco mandou mensagem, às 20h, para Ibaneis sinalizando que a Polícia do Senado estava apreensiva com informações sobre planos para atacar as sedes dos poderes em Brasília. 

“Estimado governador, boa noite! A Polícia do Senado está um tanto quanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão ao Congresso. Pode nos ajudar nisso? Abraço fraterno. Rodrigo”, escreveu. Pacheco estava de férias na França, o que sinaliza que mandou a mensagem quando era madrugada no país europeu. 

Quatro minutos depois, Ibaneis respondeu minimizando o alerta com três mensagens seguidas. “Já estamos mobilizados”, respondeu. “Não teremos problemas”, enviou em seguida. “ Coloquei todas as forças nas ruas”, concluiu. 

‘Já entraram no Congresso!’, alertou Rosa Weber

Ibaneis foi cobrado sobre ações também pela ministra Rosa Weber. Às 16h25 do dia 8, a ministra disse ao governador afastado, por meio de mensagem: “Já entraram no Congresso!”. 

A resposta de Ibaneis veio dois minutos depois: “Coloquei todas as forças de segurança nas ruas”. O retorno não foi suficiente para tranquilizar Weber, que, no mesmo minuto, rebateu: “O secretário de Segurança do DF está de férias, por isso o contato direto com o senhor!”.

Às 16h28, Ibaneis garantiu à presidente do STF: “Estamos cuidando”, sendo agradecido, em seguida, por Weber no mesmo minuto: “Obrigado pelo retorno”. Ainda sem lapso de tempo, Ibaneis enviou à ministra o contato do ex-número 2 da Secretaria de Segurança Pública do DF no dia do ataque, Fernando de Sousa Oliveira, e avisou: “Delegado Fernando está a [sic] frente”, recebendo um “Obrigada” às 16h29 como resposta de Weber.

Ibaneis não respondeu mensagens de Flávio Dino 

Ibaneis conversou com outras autoridades federais em 7 e 8 de janeiro. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, encaminhou, às 21h11, ofício da pasta em que pediu apoio do Governo do DF sobre o bloqueio de circulação de ônibus de turismo no perímetro próximo à Esplanada dos Ministérios. Ibaneis não respondeu. 

Cerca de 1h13 minutos depois, já de madrugada, Dino encaminhou notícia do portal Metrópoles em que Ibaneis Rocha disse que a manifestação na Esplanada estaria liberada desde que seja “pacífica”. 

“Governador, não entendi bem qual seria sua orientação para a Polícia do DF”, escreveu o ministro da Justiça para Ibaneis à 0h28. “Onde será o ponto de bloqueio e de que forma?”, completou. 

Quase dez horas após a mensagem do ministro da Justiça, Ibaneis respondeu, às 11h21, encaminhando mensagem do delegado Fernando Sousa – então secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública, respondia pela pasta, pois Anderson Torres estava de férias, nos Estados Unidos. Fernando Sousa mandou um áudio para Ibaneis falando que a situação estava tranquila.

Questionado por jornalistas, Ibaneis culpou órgãos federais

Já com a tomada dos prédios dos Três Poderes em andamento, ao ser questionado por jornalistas por meio de mensagens pelo Whatsapp, Ibaneis Rocha culpou todas as forças de segurança, locais e federais, pelas invasões. 

“A sensação que nos passavam é que após a posse os movimentos iriam se desfazer. O exército inclusive estava desmobilizando o acampamento do QG”, escreveu o governador para uma jornalista da GloboNews na noite do dia 8, após os ataques. À mesma profissional, Ibaneis afirmou que monitorava o movimento desde 7 de janeiro com Flávio Dino.

Ao ser questionado pela jornalista sobre quem era a responsabilidade por permitir as invasões e depredações, Ibaneis respondeu: “Acho que de todos.” “A PRF [Polícia Rodoviária Federal] deveria ter atuado na chegada dos ônibus. O ministério do Exército no acampamento. A PF e a polícia do Distrito Federal pela falta de monitoramento do risco”, disse. “Querer culpar um só é absurdo”,completou.

A profissional insistiu na pergunta se Ibaneis tinha responsabilidade também e recebeu como resposta: “Eu não sou conivente com nada desses absurdos. Sou um democrata. Respeito o resultado das urnas. Agora eu trabalho com informações que me passam. E jamais poderia tomar uma decisão sem informações completas”.

‘Houve sabotagem’, disse Ibaneis sobre a PM do DF

Em 13 de janeiro, Ibaneis foi procurado por uma repórter da Folha de S. Paulo questionando se o então governador acreditava ter sido vítima de sabotagem de Anderson Torres e respondeu: “De toda a equipe de segurança. Que descumpriu o plano de contingência estabelecido em reuniões conjuntas ocorridas nos dias 6 e 7 [de janeiro]”. Ao ser indagado como “quem seriam e como agiram”, Ibaneis enviou: “Basta olhar os vídeos. A polícia militar não agiu como das vezes anteriores. Houve sabotagem”.

Em outra conversa periciada pela PF com um jornalista da TV Record, Ibaneis afirmou que não sabia que Torres viajaria de férias em 7 de janeiro, dois dias antes do início oficial de suas férias.

“Ele comentou que iria viajar mas não me comunicou e nem tinha férias deferidas”, escreveu o governador, acrescentando que Torres não falou a data da viagem e que não tinha férias pelo Governo do DF, podendo o período de descanso ser pela PF, órgão que era cedido.

Para outra jornalista do mesmo veículo, Ibaneis afirmou que mandou retirar manifestantes que estavam acampados em frente ao QG do Exército em 29 de dezembro de 2022 e enviou um documento para comprovar a informação.

O TEMPO agora está em Brasília. Acesse a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes.