CNBB

'Ninguém é o dono da verdade'

Novo presidente da entidade, Dom Walmor prega o diálogo com o governo de Jair Bolsonaro

Por Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2019 | 03:00
 
 

Novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, 65, se define como “genuinamente baiano e autenticamente mineiro”. Na opinião dele, a alma sertaneja que traz de sua terra natal, Cocos (BA), se somou à serenidade que aprendeu aqui em Minas Gerais, onde vive há 47 anos.

A combinação de capacidade de diálogo com firmeza de atitudes foi uma característica apontada por observadores da eleição na entidade mais importante da Igreja Católica no país, no início deste mês.

Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” na sede da Arquidiocese de Belo Horizonte, instituição que dirige desde 2004, dom Walmor reiterou a aversão a rótulos como esquerdista e progressista atribuídos à gestão que ele comanda.

A nova cúpula, escolhida após um processo marcado por tensões entre as alas moderada e conservadora, é vista como de continuidade da anterior, o que frustrou grupos que esperavam uma guinada.

Como é praxe no início de mandato, a CNBB tentará se reunir com o presidente da República e com chefes dos demais Poderes. Dom Walmor diz que pregará humildade num possível encontro com Jair Bolsonaro (PSL), ainda sem data.

“Todos nós estamos desafiados a nos tornar competentes para o diálogo e o entendimento”, afirma o religioso. “Assim é na igreja, nos governos, nas instituições educativas, na vida familiar. Estamos num tempo que exige de nós muita humildade, para ninguém se colocar como dono da verdade.”

Ao ser questionado sobre as acusações de ser “petista, comunista, apoiador da chamada ideologia de gênero e defensor do lobby gay”, ele afirma que “são interpretações completamente equivocadas e talvez de pessoas que não veem a verdade. “Sinto-me muito tranquilo e consciente de que estou na perspectiva daquilo que é a doutrina social da igreja, a luz da palavra santa de Deus”.

Ele também rechaça a defesa de qualquer partido. Ao ser indagado sobre uma fala na época do impeachment de Dilma Rousseff (PT) defendendo que a responsabilidade da crise deveria ser distribuída entre os cidadãos e os políticos, em vez de “colocar um peso sobre as costas de uma pessoa”, ele reagiu.

“Nunca me coloquei na perspectiva de fazer uma análise para defender qualquer partido ou figura no contexto do governo federal. Disse que era o desabrochamento de todo um contexto mais amplo e historicamente mais longo.”

Dom Walmor confirma que a CNBB quer dialogar com o presidente Jair Bolsonaro e diz que irá “com muita simplicidade, de coração aberto”. Ele nega preocupações com eventual falta de abertura do governo após críticas feitas pela CNBB.

“Nossa igreja sempre procurará fazer essa aproximação, de qualquer maneira. Tudo que nós, como igreja, colocamos, não é por razão partidária, política. Na igreja não tem partido, a igreja não é um partido e também não pode, não deve e nunca será movida por ideologias”, afirmou.