A oposição acusou nesta segunda-feira (17) a presidente Dilma Rousseff de ter conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras desmontado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Líderes do PSDB e do DEM afirmaram que a presidente se beneficiou das irregularidades na estatal e comanda um governo "sustentado na lama".
Da tribuna do Senado, o líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), citou a Bíblia ao dizer que Dilma não é "ladra", mas faz parte do grupo dos "amigos dos ladrões".
"Quem, durante esse tempo todo, comandou esse setor no governo do PT -no governo Lula e no governo Dilma- como ministra de Minas e Energia, como chefe da Casa Civil e como presidente da República? A senhora Dilma Rousseff. Será que ela não sabia, não tinha condições de saber, não tinha condições de acionar os mecanismos de controle da Petrobras?", questionou o tucano.
"Eu não diria, eu não seria leviano aqui para dizer que a presidente Dilma é pessoalmente desonesta. Mas que ela se beneficiou desse esquema, se beneficiou. Ela se beneficiou eleitoralmente, politicamente", completou o tucano.
Em resposta à declaração do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) de que a oposição quer fazer "terceiro turno" das eleições ao explorar a Lava Jato, o líder do PSDB prometeu promover "365 turnos" no segundo mandato da petista -mesmo se declarando contrário ao seu impeachment.
"Nós não deixaremos de fazer oposição nem um dia sequer, porque esse é o nosso dever. (...) Dirão: 'Você é favorável ao impeachment?' Neste momento não. O impeachment é um processo rigoroso, é um processo traumático, depende de provas absolutamente inequívocas do ponto de vista jurídico, para que se possa acionar esse mecanismo extremo da defesa da ordem democrática."
Líder do DEM, José Agripino Maia (RN) disse ser "muito difícil" a presidente Dilma não ter informações sobre o esquema de corrupção na estatal. "Uma presidente do conselho da Petrobras e ministra de Minas e Energia teria ao menos indícios do que estava acontecendo. Eu não posso dizer que a presidente soubesse, mas imaginar que ela não soubesse é querer demais da população", afirmou.
Para os dois oposicionistas, o esquema de corrupção na Petrobras é o "maior" na história do país. "A força das investigações [da Justiça] é tão grande que não adiante o Congresso ser contra ou a favor", afirmou Agripino.
Líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE) rebateu as acusações da oposição ao afirmar que as investigações conduzidas pelo governo resultaram no desmonte do esquema de corrupção. "A República precisa de vez em quando de ser chacoalhada. A Operação Lava Jato está fazendo isso. Estamos com uma série de empresários presos, o nosso governo não passa a mão na cabeça de ninguém", afirmou.
CPI Petrobras
A oposição vai acelerar a coleta de assinaturas para pedir a abertura de uma nova CPI da Petrobras no Congresso com o objetivo de investigar o esquema de corrupção na estatal. Como a atual CPI mista que apura as irregularidades encerra os trabalhos em dezembro, com o final do ano legislativo, os oposicionistas afirmam ser prioridade do novo Congresso eleito em outubro apurar o caso.
Segundo o líder do PSDB, a oposição vai reforçar na atual CPI da Petrobras os pedidos de convocação de Renato Duque, ex-diretor da estatal, e Sérgio Machado, presidente da Transpetro -mas as irregularidades poderão ser aprofundadas em uma nova comissão de inquérito.
"A base do governo impediu a convocação deles na sessão passada, obstruíram. Vamos insistir novamente. Contrariamente ao que a presidente disse, o seu governo procurou de todas as formas obstruir as investigações", afirmou.
Pimentel disse que os aliados de Dilma não estão dispostos a aprovar as duas convocações porque os presos são desobrigados pela Justiça a revelar detalhes do esquema na CPI. "Tem uma decisão do Supremo de que o indiciado não tem obrigação de falar. Seria simplesmente transportar um preso de um porto para o outro."
Para o senador Pedro Taques (PDT-MT), que integra a bancada dos "independentes" do Congresso, a nova CPI da Petrobras deve ser prioridade da próxima legislatura. "A CPI que buscamos lá atrás, não está aí. As duas CPIs que investigam a Petrobras são para inglês ver. Ano que vem precisamos de uma CPI nova que não seja chapa-branca", afirmou.
Agripino disse que as investigações judiciais estão à frente da CPI porque o tempo da Justiça é diferente daquele imposto ao Congresso. "Vai caber ao Legislativo acompanhar as investigações, mas fazendo novas leis. Se for o caso, também cassando mandatos depois da identificação dos agentes políticos que se beneficiaram desse esquema."